quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Não bastam as palavras

foto by Madalena Pires

É tempo de retrospetivas e de previsões, não confundir com predições ou profecias. Não sou dado a uma nem a outras e, assim pretendo continuar. O balanço pessoal, por ser do meu foro íntimo, não é publicamente partilhável, a avaliação social, política, cultural, ambiental e económica do que se passou na Região, no País e no Mundo deixo-a para analistas bem mais habilitados do que eu, quanto às previsões do futuro próximo (2023) opto, também, por me abster de partilhar o que, em minha opinião, se configura no horizonte. Tenho opinião sobre o que se passou e o que se prevê venha a acontecer, mas, de momento, prefiro guardá-la para mim.

É tempo de renovar votos de esperança em futuros prósperos, de paz e amor, mas já nem isso faço. Passados que são algumas décadas da minha existência considero que não vale a pena insistir. Não tem dado resultado, nem se vislumbra que venha a acontecer alguma mudança significativa que resulte de belas palavras ditas e escritas na quadra natalícia e na passagem do ano e, por conseguinte, desisti de as enunciar e, sobretudo de as tornar públicas através de publicações nos hodiernos suportes a que chamam redes sociais ou, mesmo aqui, nas clássicas colunas de opinião da imprensa.

Se isto significa que me demiti da minha intervenção cívica!? Não. Se o que ficou dito expressa a ideia de desistência, ou qualquer abalo nas convicções que sempre guiaram a minha vida pública e pessoal!? Também não. O que terá mudado foi a minha atitude perante a hipocrisia reinante e, porventura, uma crescente intolerância face a agendas políticas apresentadas como vanguardas do mundo ocidental que remetem para segundo plano a essência do que verdadeiramente urge resolver.

foto by Jorge Blayer Góis
Se isto significa que até aqui assumi um papel moderado, ou se preferirem tenho sido, como se instituiu dizer, politicamente correto. Talvez, mas é um pouco mais complexo e, embora não seja meu propósito deixar aqui uma enumeração de motivos sempre acrescento que, embora goste de navegar à bolina e de remar contra a corrente, por vezes tenho navegado com ventos de feição e ao sabor da maré. Também não é um ato de contrição ou de “mea culpa”, é tão-somente a constatação de que em determinadas fases da minha vida joguei com as regras de um jogo intrinsecamente viciado aparentando acreditar em virtualidades que não tem. O meu pecado não foi agir segundo os cânones, se algo de errado houve foi ter representado um papel com o qual, de todo, não me identificava, nem identifico. Como não me trouxe qualquer espécie de benefícios pessoais poderei afirmar, com segurança, que não me prostituí. A coluna vertebral apesar das mazelas da idade, mantém a sua habitual verticalidade.

Os últimos parágrafos podem até parecer, mas não são uma confissão, pois quem comigo priva sabe que este é, desde sempre, o meu pensamento e, por consequência, esta declaração de princípio (ou fim) só é novidade para quem conhece apenas alguns dos aspetos mais relevantes da minha vida pública. Quando muito o que ficou dito nos últimos parágrafos poderá ser entendido, isso sim, como um aviso prévio, para a eventual radicalização do discurso público nos suportes a que tenho acesso. Apenas isso e nada mais do que isso. Como sempre as conclusões, se é que as há, deixo-as para os leitores da “Sala de Espera” que esta semana por aqui passarem.

O meu regresso às colunas do Diário Insular está a completar um ano. Não vou, à semelhança de outras situações, fazer nenhum balanço, direi simplesmente que: o regresso e a presença quinzenal neste espaço têm sido muito prazerosos e enriquecedores.

foto by João Pires

A pertinência, a utilidade e diversidade dos temas foram, por mim, tomadas em consideração sempre com o propósito de não enfadar os leitores que passam pela “Sala de Espera”. Dei a minha opinião, mas como ficou registado no texto em que regressei (edição de 12 de janeiro de 2022), mais do que a minha opinião procurei: “(…) trazer aos leitores do DI opinião aberta sobre temas sem fronteiras, nem verdades absolutas. (…)”. A intenção não era nova. Sempre procurei deixar espaço para os leitores, ou seja, não tenho uma estratégia colonizadora do pensamento alheio, gosto da diversidade do pensamento crítico, mas sou intolerante à opinião papagueada ancorada nos bordões do mainstream.

É bem possível que nem sempre o tenha conseguido, mas este foi o intento e continuará a ser. Confio que os textos que por aqui vão lendo, mais do que serem do vosso agrado, vos despertem para a reflexão e para o contraditório, ainda que os ecos dessa leitura nem sempre cheguem ao autor, daí não vem mal ao mundo, mas estou recetivo a ouvir/ler as vossas opiniões. Por outro lado, agradeço a confiança da direção editorial do Diário Insular que me continua a acolher no seu painel de colunistas, o que muito me honra.

Ponta Delgada, 27 de dezembro de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 28 de dezembro de 2022

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