foto Aníbal C. Pires |
Num passeio pelas nossas cidades e vilas, esta evidências mostram-se a cada antigo convento, igrejas, palácios e casas apalaçadas, contrastando com a arquitetura das periferias urbanas e rurais onde viviam os trabalhadores rurais assalariados, os pescadores e, mais tarde com menor expressão, os operários industriais.
A história é a que é. Não pode ser alterada, mas deve conhecer-se e, sobretudo, compreender-se para perceber o que somos e como chegámos até aqui.
Esta abordagem inicial tem, apenas, o propósito de introduzir alguns aspetos, todos conhecidos e devidamente estudados, que contribuíram para a construção de uma cultura singular, nem melhor nem pior que outras, mas diferente e, por esse motivo, como outras, digna de ser preservada, não no aspeto conservador e museológico, mas na valorização dos seus traços distintivos.
foto Aníbal C. Pires |
As nove ilhas do arquipélago açoriano, tendo culturalmente algumas semelhanças, registam algumas diferenças que as particulariza e que o poder autonómico, nunca quis ou soube, potenciar.
O conceito de desenvolvimento harmonioso, agora chamado de política de coesão, não tem, nem deve ser igualitário, desde logo pelas necessidades de cada uma das ilhas e dos concelhos, serem diferentes, mas também pelo seu potencial produtivo e económico terem particularidades que não se coadunam com a replicação do mesmo tipo de investimentos públicos.
Caro leitor, estaremos, por certo de acordo que um dos desígnios autonómicos e, talvez o principal pilar que sustenta a ideia de órgãos de governo próprio nos Açores está muito longe de ser alcançado. Diria mesmo que, o acentuar das assimetrias de desenvolvimento, rendimento e bem-estar entre os concelhos e entre as diferentes ilhas, é o maior fracasso da Autonomia regional, ou seja, os diferentes poderes legislativos e executivos que ao longo destes quase 48 anos lideraram os destinos da Região, passado o período da tão necessária infraestruturação, limitaram-se reproduzir modelos idênticos de desenvolvimento e investimento em ilhas tão diferentes como sejam, por exemplo, Santa Maria ou Terceira e, em concelhos tão distintos como Angra do Heroísmo ou, em Vila Franca do Campo.
Passados que foram os anos da construção das infraestruturas portuárias e aeroportuárias, da instalação de serviços públicos de saúde e de educação, imprescindíveis a todas as ilhas, dimensionados com estruturas físicas e recursos humanos às necessidades daquele território específico, teria sido importante que as políticas públicas fossem desenhadas para potenciar as capacidades produtivas de cada uma delas e encontrar pontes de complementaridade e cooperação entre as diferentes parcelas territoriais do arquipélago, dando-lhe assim um cunho regional sem desvalorizar cada uma das ilhas.
foto de Aníbal C. Pires |
Não é novidade e acontece inúmeras vezes. A pena com o correr da escrita tende a divagar e a afastar-se do propósito inicial que, por sinal, hoje até é bem simples e concreto. Intento que pode até não ter para os leitores a importância que eu lhe atribuo, contudo, acho por bem partilhar esta minha inquietação que se relaciona com um dos símbolos do culto ao Divino Espírito Santo e com o qual todos os açorianos e as suas comunidades diaspóricas se identificam.
Em dezembro, como vem sendo hábito, realiza-se uma mostra de artesanato regional em Ponta Delgada. Costumo visitar a feira para rever velhos amigos que moldam e constroem peças mais tradicionais, ou mais hodiernas, mas também para poder conhecer melhor este setor de atividade que tem vindo a crescer e a afirmar-se um pouco por todas as ilhas açorianas. Também no artesanato cada uma das ilhas tem a sua marca identitária própria, mas há símbolos que não são de uma ilha, são dos Açores e dos açorianos: a Bandeira do Divino Espírito Santo, a Coroa e o Cetro. Estes são os mais importantes signos da iconografia das festas do Espírito Santo.
Foto de Aníbal C. Pires |
Se em relação à aparente subversão de um símbolo pode não vir mal ao mundo, mas não deixa de ser preocupante e não devesse acontecer, já o mesmo não se passa com a comercialização de produtos certificados pela “Marca Açores” que, nem sempre, são genuína e inteiramente produzidos nos Açores. Mais cedo ou mais tarde os “consumidores” do mercado regional e do mercado internacional vão perceber que estão a ser ludibriados e, certamente, não vão gostar o que significa que deixarão de consumir. É, pois, aconselhável que a certificação de produtos com a “Marca Açores” seja feita com rigor e não configure publicidade enganosa.
Ponta Delgada, 9 de janeiro de 2024
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