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Amizade, confiança, seriedade, liberal. Não são apenas palavras, são conceitos significantes cujo valor só é real se for reconhecido pelo “outro”, e não se for imposto, isto é, não basta afirmá-lo repetidamente, para que se transforme numa verdade, conquanto a publicidade e a propaganda política se sirvam destas e de outras palavras para vender um produto, ou convencer eleitores. O imediatismo e o mediatismo, a par da generalização da estupidificação, assim o permitem.
Raros são, os consumidores e eleitores que leem os rótulos, com a composição dos produtos que adquirem, ou os programas eleitorais que, mais do que os protagonistas e as palavras de circunstância, servirão de justificação para as opções políticas das quais, mais tarde, constataremos que, afinal, são contrárias aos interesses da generalidade da população. Veja-se o caso recente da eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina e as manifestações populares que, passadas poucas semanas da eleição, aconteceram para contrariar um pacote de medidas neoliberais que Milei quer implementar. Em Portugal exemplos, como o da Argentina, são diversos, todos estaremos lembrados, e têm acontecido com os protagonistas do costume. Aconteceu com governos do PS, aconteceu com governos do PSD, e sempre, sempre, com a cumplicidade ativa do CDS.
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Amizade, confiança, seriedade, liberal. São algumas das palavras que, recentemente, inundaram o espaço público regional e por aí se vão manter até ao dia 4 de fevereiro. Nas ruas, praças, avenidas e rotundas a propaganda partidária estática dá-nos conta do presidente amigo, ou de confiança, ou mesmo amigo e de confiança, levar a sério (agora é que é), políticos e políticas sérios, e, ainda, nem de esquerda nem de direita, a opção é liberal. Estes são apenas alguns exemplos de outros, mas são significantes, direi eu, para esta reflexão.
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Levar os Açores a sério. Sempre! Porquê só agora!? O BE anda a flutuar em águas turvas e sem memória. Ou será que a seriedade não é uma qualidade intrínseca deste agrupamento político social-democrata e, se tem entretido com coisas sérias.
Interessante é o lema do JPP. Política séria! Para quem tem vindo a saltitar de formação em formação partidária sempre com o propósito de se servir, bem poderia ter encontrado outro lema. Como diz o povo “não bate a bota com a perdigota”. Mas, estou certo disso, alguns eleitores irão inocentemente, outros nem tanto, dar o voto ao “saltitões”.
Confiança é a breve mensagem política do PS e da coligação PSD, CDS e PPM. Não será por acaso que estes partidos, responsáveis pela governação e pelos resultados que dela decorrem e que nos mantêm na cauda da União Europeia, nada mais têm para dizer ao povo açoriano.
A confiança conquista-se, não se impõe, e confiança é coisa que, nem o PS, nem qualquer dos partidos da coligação PSD, CDS e PPM merecem dos eleitores açorianos, talvez por isso juntem à confiança outras palavras, como por exemplo, presidente e num dos casos até amigo, como se estas fossem eleições para uma qualquer presidência de amizades. A personalização, no caso da coligação de direita, é uma vã tentativa para esconder os incómodos parceiros de circunstância que o PSD traz pendurados e dos quais vai ter muitas dificuldades em se libertar, a não ser que os resultados eleitorais lhe sejam desfavoráveis, o que para alguns setores do PSD seria uma bênção.
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As palavras de ordem “Mais CDU, vida melhor”, são complementadas por: Palavra, Dignidade, Confiança. Também a CDU usa a palavra “Confiança”, dirão os leitores mais atentos. Assim é, mas aqui aparece devidamente contextualizada e bem acompanhada.
É uma opinião parcial! Dirá o leitor. E eu concordarei: - é sim como o são todas as opiniões por mais inócuas que possam parecer e esta nem sequer o pretende ser.
Confiança, seriedade e amizade são palavras com um profundo significado e, convenhamos, não deviam ser usadas para atrair eleitores, se é que os vai arregimentar. Por outro lado, esta superficialidade e leviandade, afasta compreensivelmente, muitos cidadãos da ida às urnas, embora, esta demissão venha a favorecer eleitoralmente quem motivou o seu descrédito.
A lógica da opção eleitoral da massa flutuante de eleitores é influenciada pela propaganda partidária, mas não só. Existem outros fatores, quiçá, mais importantes para a construção das escolhas eleitorais, quase sempre ancoradas em motivações subjetivas e, como tal, pouco racionais, aliás, esta será uma das razões, outras existem, com que se pode justificar o crescimento eleitoral de forças políticas de natureza fascizante. Sendo uma opção individual a escolha do apoio eleitoral traduzida num voto é, contudo, fortemente condicionada pela comunicação social e pelas sondagens que criam narrativas indutoras de cenários eleitorais ancorados em falsas premissas, mas que influenciam, por vezes à boca das urnas, o sentido de voto.
"Ia votar em si, mas votei no partido X pois havia o perigo do partido Y ganhar." Perigo que nunca tinha existido, mas que a opinião mediática induziu.
Ponta Delgada, 23 de janeiro de 2024
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