terça-feira, 28 de outubro de 2025

na rota do consenso neoliberal

do arquivo pessoal


Excerto de texto para publicação no Diário Insular e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.






(...) A soberania, palavra quase profana no vocabulário político contemporâneo, cedeu lugar à gestão de fundos, programas e indicadores que sustentam a ficção do desenvolvimento. Portugal deixou de produzir o essencial e passou a consumir o acessório, deixou de planear o futuro e passou a executor de programas europeus, com as finalidades desenhadas em centros de decisão longínquos da realidade nacional, seja ela a continental ou a insular.

Mas a periferia não é apenas geopolítica. Dentro do país há outro mapa, invisível e persistente, que desenha as fronteiras da exclusão, seja pelo litoral saturado e o interior desertificado, seja pela capital que concentra e centraliza, seja pelos territórios esquecidos. Bruxelas decide, Lisboa também, mas cada vez menos, o resto do território continental, em particular o interior e os arquipélagos atlânticos, aguardam de mão estendida pelas sobras.

A centralização, herança de um Estado que nunca soube acolher plenamente a sua diversidade, continua a reproduzir desigualdades e a produzir pobres e excluídos. Nos Açores, a condição ultraperiférica, produz efeitos ainda mais nefastos agravados por uma governação titubeante entre a satisfação de projetos políticos pessoais e a perpetuação no poder, pelo poder, mas, sobretudo, ineficaz e negligente na defesa deste território distante, disperso e, por este povo sofrido, e onde resistem alguns cidadãos que continuam a acreditar que a ultraperiferia não é uma fatalidade e que o desenvolvimento e a coesão social, económica e territorial não são uma miragem. (...)


Sem comentários: