sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A tormenta

A Região não estava imune e, em abono da verdade, dificilmente poderia ter sido preservada de todos os efeitos da tempestade, provocada pelo vazio da especulação, que se abateu sobre o sector financeiro e económico mundial, desde logo porque a nossa economia, pelas suas próprias características e dimensão, sempre foi fortemente dependente das conjunturas externas. E se isto é verdade para a Região é-o, igualmente, para o País. Contudo os sinais de que uma forte tormenta se avizinhava eram por demais evidentes e só não os quis ver quem não quis, ou melhor, quem alinhou cegamente nas virtualidades da teologia do mercado e ficou, expectante e orando aos deuses do neoliberalismo que o milagre acontecesse mas… as muitas declarações de fé nos mercados e na sua capacidade regeneradora não foram atendidas e a borrasca abateu-se violentamente sobre as economias. Depois foi aquilo que sabemos: os fundamentalistas do “menos estado melhor estado” vieram penitenciar-se solicitando a bênção dos, antes, malfadados estados (povos).
E o povo paga! Paga com o sofrimento dos salários de miséria, paga com trabalho sem direitos (daqui até ao trabalho escravo vai um pequeno passo) e paga, também, os luxos e devaneios dos banqueiros e dos especuladores que afundaram a economia e as finanças.
A lufa-lufa dos governos de César e Sócrates depois que a tormenta se começou a abater sobre a economia regional e nacional contradiz o conhecido e sábio dito popular: “mais vale prevenir do que remediar”. Os remedeios são sempre mais caros e penosos que a prevenção e, contrariamente àquilo que os seus apaniguados afirmam por aí, a prevenção tinha sido possível pois os indicadores há muito antecipavam que uma violenta tempestade se avizinhava e os seus efeitos seriam devastadores eles aí estão e os programinhas de combate aos efeitos da tormenta, não às causas dela, assemelham-se à intervenção da “protecção civil” depois de uma catástrofe.
Isto não é governar! Isto é navegar à vista (curta) e aos governos é exigível mais do que uma reacção depois da borrasca, aos governos exige-se acção, antecipação e prevenção.
O desmantelamento das actividades produtivas e uma cega e desequilibrada aposta na terciarização das economias abre espaço à sua debilidade.
No horizonte próximo velhas nuvens de avolumam dando sinal de que outras tormentas se avizinham e que podem colocar em causa os factores de sustentabilidade da economia regional. Não antecipar e adoptar medidas de prevenção contra os efeitos perversos que as políticas comuns de pesca e agrícola vão ter na estrutura produtiva da Região será um erro que pagaremos bem caro. Os milhões de Bruxelas não serão suficientes para compensar os estragos que, por exemplo, o fim do regime de quotas produzirá na economia regional, bem assim como na economia dos países do Sul da Europa.
Os insípidos programas regionais, o alheamento e incompetência que o Ministro da Agricultura tem demonstrado na defesa dos interesses da agricultura nacional são sinais preocupantes de que a governação na Região e no País continua a fazer-se em completa submissão à conveniência dos países do Norte e centro da Europa.
Aníbal Pires, IN Expresso das Nove, 20 de Fevereiro de 2009, Ponta Delgada

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