A crise que atravessamos, consequência directa de orientações políticas e económicas de matriz neoliberal, orientações que já duram há 35 anos, trouxe e continua a trazer clarificações políticas importantes.
Os responsáveis pelo Estado – e pelo estado a que chegámos – persistem em disfarçar as suas mais ou menos avultadas culpas pela crise económica, financeira mas também crise política.
Assistimos, por isso, a um estranho “baile furado”. O PS, o PSD mas também o CDS/PP tentam fugir do meio do salão deste baile, para que os portugueses não notem as suas responsabilidades no abismo para onde conduziram o país.
O PS, procurando combater o seu potencial isolamento social e político tenta fingir que “saracoteia” para a esquerda.
Dramatiza e lamenta-se pela crise política que criou e agita com o espectro da direita, apelando à aceitação do mal, o menos. Mas o seu líder vai, entretanto, anunciando que o programa eleitoral é de continuidade e mesmo de aprofundamento das medidas de austeridade numa clara demonstração de que afinal as receitas são as de sempre e que, neste PS, nem as moscas mudam!
O mal menor para o PS é, e continua a ser: o mal maior dos portugueses.
O PSD rodopia num frenético “corridinho” para que não se note que a sua discordância com o PEC que inviabilizou na Assembleia da República afinal não é assim tão grande. Antes do chumbo do PEC IV para Passos Coelho a receita nunca, mas nunca, seria o aumento de impostos agora, perante a inebriante melodia do poder ao alcance dos dedos, já vai anunciando que, enfim… o IVA… o IRS… e que não se deve diabolizar o FMI, afinal coitadinhos até cá estão para ajudar.
Paulo Portas, vai ensaiando um “vira” numa clara afirmação de disponibilidade para dançar seja com o PS seja com o PSD, tanto lhe faz, desde que possa dar uma perninha de dança num qualquer governo abençoado por Cavaco Silva e pelo FMI.
O CDS-PP está inebriado com a doce nostalgia do poder, onde prestou tantos e tão valiosos serviços, em casos conhecidos como o “Portucale”, o Casino de Lisboa ou a compra dos helicópteros, só para dar alguns exemplos, e, sem ter de mergulhar nas águas lodosas do negócio dos submarinos.
Perante o desastre público e notório a que conduziram Portugal, estes três partidos – cujo programa eleitoral é só um, a redigir pelo FMI – não conseguiram questionar os seus dogmas ideológicos nem aprender o que quer que fosse, em nome da defesa do povo que juraram representar.
Por isso abandonam, por isso abdicam, por isso se dispõem a vender Portugal e entregar de mão beijada aos interesses especulativos estrangeiros tudo o que estes não conseguiram ainda rapinar!
A entrada do FMI em Portugal não passa de uma vergonhosa capitulação por parte destes três partidos, que podem agora alijar responsabilidades políticas e remetê-las para as condições de “resgate” do país.
A culpa, aquela coisa que em Portugal costuma morrer solteira, já não será deles, mesmo que voltem assumir responsabilidades no Governo. E dirão: “É o FMI…”
E o “baile furado” passará então a “baile mandado”.
As mudanças que Portugal precisa não virão nem podiam vir de qualquer um destes três partidos e a clarificação maior, a que mais importa, virá mais tarde ou mais cedo, da voz do nosso Povo. E esta é uma grande oportunidade para exigir a necessária e indispensável ruptura com o rumo de declínio, injustiça e empobrecimento do país a que nos conduziu o PS, o PSD e CDS/PP.
Como um dia escreveu José Saramago:“Mas quando nos julgarem bem seguros, / cercados de bastões e fortalezas, / hão-de ruir em estrondo os altos muros / e chegará o dia das surpresas.”
Horta, 13 de Abril de 2011
Aníbal C. Pires, In A União, 15 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo
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