E não é que foi necessário o FMI trazer a público a “novidade” que a dívida privada é muito superior à dívida pública para que as afirmações que têm sido produzidas pelos dirigentes do PCP de repente fizessem sentido! Quase me sinto na obrigação de agradecer ao Director-geral do FMI que pôs o dedo na ferida. Não fosse esta organização sinónimo de fome e miséria internacional e até aceitaria esta ingerência externa já que esclareceram o que há muito ando a dizer, eu e muitos outros desalinhados, ou seja, o maior problema da dívida portuguesa é o elevado valor da dívida privada e não tanto o da dívida pública.
É que afinal a dívida pública da Irlanda, 107% do PIB, e da Grécia, 150% do PIB, são muito superiores à de Portugal, 97,3% do PIB, e, quem diria que a dívida pública da Itália são120% do PIB e a da Bélgica 100,5% do PIB, ou mesmo que a grande França tem uma dívida pública de 86,8% e a Alemanha, com toda a sua petulância, deve o equivalente a 75,9% do seu PIB.
A diabolização feita em Portugal sobre a dívida pública para justificar as medidas de austeridade começa a ser desconstruída. A dívida pública portuguesa é preocupante mas a constante focalização dos problemas da economia e das finanças nacionais no elevado valor da dívida pública não passa de uma grande ofensiva ideológica para justificar as medidas de austeridade já implementadas e as que se começam a desenhar no horizonte próximo.
Já agora o que me dizem os tão preocupados comentadores e analistas mas também os dirigentes do PS, do PSD e do CDS/PP à enormidade da dívida privada (1) que se situa nos 220% do PIB!? Porque é que andaram a esconder este facto!? Não será aqui que reside o maior problema financeiro nacional!? E a pergunta seguinte é naturalmente: - Quem é que deve e a que se deve? Deve a banca e deve, no essencial, a “indústria” imobiliária. Bem! Outra pergunta legítima: quem são os responsáveis? Pois bem, desde logo os especuladores imobiliários e financeiros mas a principal responsabilidade deve ser assacada aos responsáveis pelas políticas que permitiram e deram cobertura à especulação.
Como referi logo no início foi o Director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), o francês Dominique Strauss-Kahn, que considerou, em entrevista conjunta ao El País, ao Repubblica e ao Washington Post, que em Portugal “o problema não é tanto de dívida pública como de financiamento dos bancos e dívida privada”.
A ajuda externa destina-se a quem, ao Estado ou à banca? Quem é que vai pagar as exigências do “resgate” resultantes do pedido de ajuda feito por Sócrates e subscrito pelo PSD, pelo PSD, pelo CDS/PP, por Cavaco Silva e por um conjunto de personalidades que ao longo de mais de 3 décadas têm vindo a desbaratar a soberania nacional e a exigir ciclicamente que os portugueses apertem o cinto. Quem vai pagar? Serão os mesmos de sempre ou haverá por aí um rasgo de patriotismo no dia 5 de Junho.
Agora é o momento de dizer basta!
Ponta Delgada, 18 de Abril de 2011
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 20 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo
(1) A dívida externa (pública mais privada) é que atinge um valor de 220% do PIB. Assim deve ler-se: (...) da dívida privada que somada à dívida pública situa a dívida éxterna portuguesa em 220% do PIB!? (...)
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