terça-feira, 26 de junho de 2012

Ponto cruz


O circo mediático eleitoral continua ao ritmo de uma promessa anunciada por dia e a crise social e económica a aprofundar-se a uma cadência alucinante. Não deixa de ser interessante, embora dramático, que o PS e o PSD prometam tudo resolver depois de outubro. Esquecem o passado e o presente como se ambos estivessem isentos de responsabilidades políticas pela situação de desespero que vivemos, na Região e no País.
Porque não nos proporcionam já o paraíso regional prometido para depois das eleições. O emprego, a economia, os serviços do Estado, os transportes, o desenvolvimento estão suspensos e adiados para lá de outubro. Porquê? Porque não agora o paraíso prometido! Será necessário que mais empresas encerrem, que mais trabalhadores fiquem privados do seu posto de trabalho, que os beneficiários do RSI aumentem, que as filas para a “sopa dos pobres” aumentem, que o “banco alimentar” esgote a sua capacidade de apoio? Que mais será necessário para que se faça respeitar a dignidade dos cidadãos e os seus mais elementares direitos? Que mais será necessário para que das palavras se passem aos atos? Morrer de fome? Morrer por falta de cuidados de saúde?
A acrescentar à irresponsabilidade e populismo de Berta Cabral e Vasco Cordeiro junta-se a hipocrisia como o Governo da República tem vindo a imiscuir-se na disputa bipolar do poder regional, quer através da desresponsabilização das obrigações que tem para com a Região, quer utilizando a televisão pública (RTP 1) para favorecer um dos partidos do chamado “arco do poder”, quer ainda pelo esvaziamento da RTP Açores, esvaziamento que serve como justificação para que agora, só agora, o canal 1 da televisão pública tenha descoberto os Açores.
A hipocrisia política atinge o absurdo, com o comportamento de Berta Cabral que continua a fazer campanha eleitoral por conta dos munícipes de Ponta Delgada e, com o Grupo Parlamentar do PSD a pregar a moralidade sobre a despesa pública, designadamente sobre as despesas efetuadas em 2010 nas deslocações e estadas dos membros do Governo Regional e de pessoal afeto aos seus gabinetes.
O Relatório do Tribunal de Contas que auditou as despesas do Governo Regional em 2010 foi tornado público. As opções são da responsabilidade política do Governo, as recomendações devem ser acatadas e as irregularidades corrigidas, o juízo político sobre as opções feitas cabe aos eleitores. O PSD Açores, por via do Grupo Parlamentar, vai alimentar este “caso” até à exaustão retirando, assim da agenda política regional a discussão do essencial.
Esta é a maneira mais fácil e popularucha de, supostamente, fazer política mas não é, seguramente, disto que os cidadãos necessitam, não é isto que dá resposta aos graves problemas que diariamente enfrentam cidadãos. Diria mesmo: isto não é fazer política, é ponto cruz.
Ponta Delgada, 24 de junho de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 25 de junho de 2012, Ponta Delgada 

A imagem foi retirada daqui

Sem comentários: