sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Pequenas coisas


Foi há poucos minutos. Aconteceu um gesto de reconhecimento que me animou. Animou sim. Em boa verdade tenho andado desalentado e aquilo foi como um reforço energético que fez de imediato elevar os níveis anímicos. Estava a jantar na “Avozinha”, nos Flamengos. Sim, Ainda estou no Faial, não tenho por hábito sair a correr para o aeroporto mal acaba o Plenário.
Quando entrei e me dirigi ao balcão para que me dessem indicação da mesa onde me poderia sentar fui cumprimentando com os votos de uma boa noite quem por ali estava. Quem por ali estava, não estava sozinho a não ser um cidadão que tal como eu tinha ido jantar sem companhia. Reparei, em particular nele, quando lhe disse boa noite. Pareceu-me estrangeiro o que não é de espantar pois ao Faial aportam temporariamente muito estrangeiros e, muitos outros por aqui fixaram residência.
Já no fim da refeição que apenas durou alguns minutos porque estava sozinho, isto da alimentação tem tanto de necessidade como de social, abeirou-se de mim o solitário cidadão que eu tinha catalogado como estrangeiro, e não me enganei, Perguntou-me se eu falava inglês, ao que respondi “a little”, pediu para se sentar e surpreendentemente disse-me: Venho agradecer-lhe. Posso sentar-me. Claro que sim, sente-se. Enquanto pensava para comigo, Agradecer, mas agradecer o quê? Sabe, sou americano e vivo no Faial há mais de vinte anos, aqui trabalho e aqui pago os meus impostos mas quando viajava para Lisboa não tinha direito à tarifa de residente, sentia-me discriminado e, como sei que foi o senhor que aqui há uns anos atrás propôs a Lei que permitiu que os cidadãos estrangeiros residentes nos Açores, pudessem aceder, em igualdade de circunstâncias com os residentes nacionais, à tarifa de residente senti, agora que tive oportunidade de lhe falar, de lhe transmitir o meu reconhecimento. Disse-lhe que era uma questão de justiça e que não tinha feito mais do que a minha obrigação. Depois conversámos mais alguns minutos, dos Açores, das dificuldades que estamos a atravessar e de outras minudências. Não foi uma longa conversa, até porque o português que o cidadão fala é pouco melhor que o meu domínio da língua inglesa.
Mas nem sempre o tempo tem significado. Na verdade aquele lapso de tempo, aquele momento em que me foi recordado que a iniciativa legislativa que permite aos cidadãos estrangeiros aceder à tarifa de residente foi da Representação Parlamentar do PCP, aquele momento valeu por todo o tempo que decorreu desde que iniciei o processo com o deputado António Filipe em Dezembro de 2006, a história é longa e o processo foi espinhoso. Quase ninguém sabe. A imprensa regional, como é hábito obliterou, não a iniciativa, mas o seu autor. O Presidente da Associação de Imigrantes nos Açores teve o cuidado de, religiosamente, esconder o facto e o deputado Ricardo Rodrigues do PS (na campanha eleitoral para as legislativas de 2011) num programa de televisão apropriou-se dos “louros”. 
Mas aquele cidadão conhece a história e reconhece a importância da iniciativa. Por enquanto isso vai-me bastando.
Horta, 18 de Janeiro de 2012

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