Li, há poucos minutos, uma notícia publicada nas redes sociais que, só podendo ser uma brincadeira de mau gosto, me deixou perplexo. Não vou reproduzir a notícia, fico-me apenas pelo título. Rezava assim: “Dilma aceita sugestão de Obama para fazer o inglês se tornar a língua oficial do Brasil”. Verifiquei a data, a publicação é antiga, Setembro de 2012, nem sequer coincide com o dia das mentiras, hoje sim, o dia da publicação deste texto é dia das mentiras, mera coincidência asseguro-vos, não vão pensar que se trata de uma brincadeira do autor.
A notícia para além de atónito deixou-me irritado, desde logo porque sendo uma notícia com já alguns meses, não tinha dado conta da sua publicação e, depois, Bem, e depois deixou-me profundamente preocupado. Mais do que a minha irritação e perplexidade quero partilhar convosco os motivos da minha preocupação, a confirmar-se a notícia desta opção de Dilma Rousseff, perante os efeitos que poderá causar no património do mundo lusófono.
Como se sabe, em Timor e Moçambique não faltam vozes e movimentos a quererem que o inglês seja adotado como língua oficial, sendo que em Timor o inglês, a Constituição timorense assim o consagra, é uma língua de trabalho e, Moçambique é membro, desde 1995, da Commonwealth. Agora é do Brasil que chega esta notícia.
Não tenho dúvidas da utilidade e das mais-valias, mais para os cidadãos que para os povos, que o bilinguismo pode potenciar e, no caso de o inglês ser a segunda língua essas vantagens são por demais evidentes. Mas daí a consagrar uma segunda língua, cultural e historicamente estranha, como língua oficial, tenho as minhas dúvidas e julgo que a língua materna viria, a prazo, a ser profundamente prejudicada com tal opção.
Posso perceber, compreendo sem fazer nenhum esforço, quer as opções de Timor, quer as opções de Moçambique, basta atentar ao contexto geográfico, político e económico em que esses dois países, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), se inserem para compreender, o mesmo não poderei dizer no caso de o Brasil vir a adotar o inglês como língua oficial em detrimento do português.
À medida que ia evoluindo no texto a pergunta tomou forma e não posso deixar de a colocar. Que importância dá Portugal à língua dos mais 240 milhões de lusófonos espalhados pelo Mundo, o que é, e para que serve a CPLP?
Afinal era mais do que uma pergunta mas julgo que, qualquer delas, pertinentes, pelo menos para mim são duma atinência lancinante, tendo até em consideração o momento cinzento que se vive em Portugal e que, em boa parte, resulta de um eurocentrismo acrítico e do desperdício do acervo de conhecimento, em vários domínios das ciências – agricultura, geografia, medicina, etc. -, que Portugal acumulou durante o período da colonização e da história comum que durante vários séculos partilhámos com os povos dos países da CPLP.
Para as perguntas que fiz há certamente várias respostas, conforme o ponto de vista do observador. Eu também tenho a minha opinião e não é nada favorável à estratégia de Portugal, direi mesmo que Portugal se tem dado ao luxo de desperdiçar um dos seus maiores ativos, o português é só a sexta língua mais falada do Mundo, o inglês ocupa o quarto lugar. Quanto à CPLP a sua existência é mais do que justificada, contudo não passa de uma mera organização formal, já a sua ineficácia é intolerável face ao que poderia e deveria potenciar.
Ponta Delgada, 31 de Março de 2013
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 01 de Abril de 2013, Ponta Delgada
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