Concluída, que foi, a primeira fase de colocações no ensino superior, a comunicação social regional e nacional fez as suas manchetes com o número elevado de cursos que na Região e no País ficaram com vagas, muitas vagas, por preencher, registando-se mesmo que para alguns dos cursos a procura pelos alunos foi nula.
Não sei e não procurei, ainda, saber a que se fica a dever esta disparidade entre a oferta e a procura. Não sei e não procurei, ainda, saber se o número absoluto da procura diminuiu ou, se por outro lado foi a oferta de cursos que aumentou.
Sei, no entanto, que o rácio de licenciados em Portugal é muito inferior ao rácio da União Europeia. Sei também que um dos problemas da produtividade da economia regional e nacional tem uma relação direta com um défice de formação, académica e profissional, da população ativa. Sei também que os portugueses trabalham, em média, mais horas e dias que a média dos trabalhadores da União Europeia. Sei, todos sabemos, que os custos do trabalho, em Portugal são dos mais baixos da União Europeia. Sei, todos sabemos, que os salários em Portugal são substantivamente inferiores à média da União Europeia.
A semana passada fiz uma referência neste mesmo espaço, ainda que indiretamente, à diminuição do número de alunos do Ensino Básico e Secundário no Sistema Educativo Regional, e não é só a natalidade que a explica.
Estes factos não podem deixar de nos preocupar. Por um lado parece haver um claro abandono da educação, básica, secundária e superior, por outro lado a necessidade de aumentar a formação académica da população é por demais evidente, isto se efetivamente todos quiserem aumentar a produtividade da economia nacional pois, como começa a ficar amplamente demonstrado não é por via da continuada desvalorização dos custos do trabalho que a competitividade da nossa economia aumenta.
Os últimos anos e as opções políticas tomadas demonstram que o caminho da recuperação económica não é por aqui. E, não é por teimosia, nem por estupidez, que continuam a ser anunciadas medidas que insistem neste velho paradigma económico de reduzir o trabalho à servidão, é por opção. Uma opção política consciente, cujo resultado é o regresso a um passado distante e de má memória.
Mas porquê esta paulatina diminuição da procura e o aumento real do abandono da educação formal, seja qual for o nível de ensino!? Porquê?
Será porque os jovens e as famílias perceberam que a passagem pela Escola e pela Universidade não é o garante suficiente para a obtenção de emprego e para o almejado sucesso social e económico. Não tenho dúvidas que sim mas, esta não será, certamente, a principal razão para este fenómeno que constitui, em si mesmo, um sinal de retrocesso civilizacional e que terá no futuro próximo nefastas consequências.
Talvez a principal razão resida nos efeitos subjetivos e objetivos que a crise está a provocar e, assim sendo, só há um caminho: a rutura.
Ponta Delgada, 09 de Setembro de 2013
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 09 de Setembro de 2013, Ponta Delgada
Foto=> Catarina Pires
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