A batalha política e eleitoral autárquica aproxima-se do seu desfecho. Não pretendo antecipar nenhuma previsão, nem tecer elaborados comentários a qualquer candidatura, aliás seria uma tarefa bem complexa tal é o número de candidaturas e candidatos. As eleições autárquicas são, pela sua natureza de proximidade, um excelente exercício de democracia participativa que importa valorizar.
A natural personalização das candidaturas é, no entanto, aproveitada para branquear projetos políticos e responsabilidades da governação, presente e passada. Não será por mero acaso que os símbolos e as siglas partidárias, dos chamados partidos do arco do poder, são reduzidos à mínima dimensão possível nos diferentes suportes de propaganda eleitoral e, se projetam os nomes e as imagens dos candidatos. Claro que nesta última semana o esforço dessas candidaturas terá de se centrar no boletim de voto. Vai ser necessário explicar aos eleitores que se vota nos partidos e coligações e não no fulano ou sicrano, e repeti-lo até à exaustão. Se não o fizerem correm o risco dos eleitores ficarem surpreendidos quando, no recato da Assembleia de Voto, se depararem com três boletins de voto sem fotografias, apenas o nome do partido ou coligação e o respetivo símbolo. Não tenhamos ilusões é disso que se trata. A opção eleitoral no dia 29 é, uma vez mais, uma opção em projetos políticos partidários e não em personalidades. Tenho consciência que os protagonistas têm importância, sem dúvida. Sei que as decisões, designadamente as que resultam em opções eleitorais são ditadas pela emoção, mais do que pela razão. Mas também sei que por detrás da personalidade, mais ou menos simpática, mais ou menos mobilizadora, está um projeto político que tem associada uma matriz ideológica.
O melhor de todos os exemplos para ilustrar esta enunciação será mesmo Barack Obama, o Presidente dos EUA. Passados que foram os primeiros meses de exercício do poder, ainda no primeiro mandato, a aura deixou de brilhar e a esperança que nutriu o apoio de milhões de cidadãos, dentro e fora dos EUA, foi-se desvanecendo e veio a frustração, pelas promessas não cumpridas, pela submissão ao poder instituído, pela mesma política interna e externa, ou seja, Barack Obama seguiu escrupulosamente o roteiro político do seu partido, o Partido Democrata. A eleição de um descendente de africanos para presidir ao governo/administração dos EUA foi importante, Sim, sem dúvida mas apenas no plano simbólico, nada mais que isso.
As opções eleitorais dos portugueses catapultaram para o poder figuras como Paulo Portas e Passos Coelho, como antes acontecera com José Sócrates. Será que cada uma destas personalidades imprime, ou imprimiu, um cunho pessoal à governação do país!? Será que seria diferente com Ribeiro e Castro (CDS/PP), com Marques Mendes (PSD) ou, será diferente com António José Seguro (PS), Não, as opções políticas, verdadeiramente importantes, seriam exatamente as mesmas. A comunicação seria diferente, Sim, sem dúvida. Mas como não vivemos nem nos alimentamos de comunicação e imagem, talvez seja tempo de fazer as opções eleitorais aproximando a emoção da razão, ou vice-versa.
Ponta Delgada, 22 de Setembro de 2013
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 25 de Setembro de 2013, Ponta Delgada
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