Aviso: O conteúdo e a linguagem utilizada neste texto podem ser considerados chocantes. As fotografias que ilustram o texto não estão nem direta nem indiretamente relacionadas com os "personagens", nem com o local referenciado no texto.
Era uma manhã de sábado como muitas outras. Procurei a tranquilidade acolhedora da esplanada de um pequeno café/bar no bairro onde fica o meu refúgio doméstico. No interior os habituais rostos da vizinhança. Fiz o meu pedido cumprimentei os presentes e instalei-me no exterior, corria uma brisa fresca bem diferente da melada atmosfera húmida dos últimos dias.
Bebericava o meu café pingado, expressamente solicitado com leite frio, as três mesas da esplanada estavam vazias, ocupei a que me pareceu mais adequada às condições atmosféricas, acendi um cigarro. Abeiravam-se duas mulheres, dei por elas devido ao elevado tom em que se expressavam e pela pronúncia afetada que, particularmente uma delas, exibia. O sossego daquela manhã estava prestes a chegar ao fim.
Não as conhecia, seriam turistas, talvez tivessem vindo visitado familiares, ou quem sabe, alguém que se está a instalar, afinal é o início de um novo ano escolar… Não pude evitar ouvir o diálogo que mantinham, embora uma delas monopolizasse a conversa, transformando aquele momento num quase monólogo.
Nada disto seria digno de registo nem me prenderia a atenção, afinal era uma manhã de sábado como tantas outras, sem muito para contar a não ser as agradáveis conversas que mantenho com alguns outros frequentadores daquele espaço e por aqui moram e cujo registo guardo em memória.
A estranha temática que as duas mulheres teimavam em partilhar comigo e com outro forçado ouvinte, que entretanto se sentara ocupando, assim, a única mesa ainda livre, levou a que mais tarde um de nós as interpelasse.
Quando chegaram manifestavam o seu desagrado pelo tempo, pela cidade, pela ilha. Que chatice, afinal onde está o paraíso. Ouvi e não esbocei nenhum sinal que desse a entender às senhoras que aquilo que diziam em alta voz, não era nada mas mesmo nada simpático. Sou uma pessoa tolerante, aguentei firme. Mas o pior, ou o melhor, conforme queiram, estava para vir.
A conversa evoluiu para as relações de género. E que era uma atitude machista do fulano que tinha a mulher em casa, o que é que esperaria, um par de cornos, semana sim semana não. Uma relação assim só pode dar nisso, uma cabeça enfeitada com chifres. Pois bem, cá por mim que não conheço o tal fulano, nem a esposa e, muito menos a base em que ancoraram a relação conjugal, admito que sim.
E continuou, Havia de ser comigo. Eu disse logo ao meu marido que não sabia cozinhar, nem um ovo estrelado, que o pó me causava alergias e por isso não podia fazer as tarefas domésticas. Que o médico me recomendou muitas saídas com as amigas e ginásio, muito ginásio. E trata de contratar uma empregada doméstica em full time, até pode ser gira, não me importo.
Foto - Aníbal C. Pires |
Lá se foi a minha tolerância e o meu cavalheirismo, levantei-me e perguntei à senhora de voz afetada que não parava de dar conselhos à amiga e, de tecer considerações sobre o seu papel no casamento, Desculpe minha senhora mas não pude deixar de ouvir o que acabou de dizer e gostava de lhe fazer uma pergunta, E foder a senhora sabe, E fode, Ou não foder faz parte da lista de contraindicações médicas.
A surpresa da interpelação e a linguagem que utilizei inibiu uma reação imediata e eu insisti, É que se não fode, a senhora é um adereço matrimonial muito caro, Permita-me que lhe diga minha senhora mas, face ao que acabei de ouvir, qualquer acompanhante de luxo oferece condições muito mais vantajosas. Tenha um bom dia.
Afastei-me, para lhe dar espaço à ira e às justificações que se iniciaram, e fui curtir o meu sábado.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 06 de Setembro de 2014
2 comentários:
DELICIOSO Meu Amigo! Tenha pena de não ter tido o privilégio de uma vida de assistir a esta cena! Abraço Amigo!
elas e eles Existem, pois Existem...
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