Não sei se pelo calendário eleitoral, se pelo resultado das eleições gregas e dos efeitos colaterais que provocaram ou, por qualquer outra razão desconhecida em Portugal o discurso do poder e da alternância contínua redondo e macio como se os portugueses não estivessem a viver uma tragédia social e económica. É certo que o povo português é de “brandos costumes”, também é certo que é “empreendedor”, a nossa história assim o comprova, somos mestres do improviso e desembaraçados, ou éramos. Na verdade as gerações do pós 25 de Abril são bem diferentes dos portugueses de antanho e, um destes dias, pode muito bem acontecer que a propaganda não seja suficiente para os manter submissos e se revoltem contra a ditadura que se instalou na democracia portuguesa. Sim, medi bem as palavras. O medo está instalado na sociedade portuguesa a maioria da população privada de direitos básicos, o poder não reside no Povo, os imperialismos dominam o nosso quotidiano.
Mas há outros discursos e propostas de alternativa política, senão vejamos.Trinta e oito anos de política de direita e vinte e oito anos de integração capitalista na União Europeia conduziram o País para a atual situação de declínio económico, de retrocesso social, de perversão do regime democrático e de alienação da soberania nacional.
Um percurso que, ao serviço da reconstituição dos grupos monopolistas e do reforço do seu poder político e económico, conheceu novos desenvolvimentos nos últimos anos por via dos Programas de Estabilidade e Crescimento e do Pacto de Agressão que, pela mão do PS, PSD e CDS, com a cumplicidade do Presidente da República e sob a tutela da União Europeia e do FMI, foram impostos ao País. Inseparável da natureza do capitalismo, da sua crise estrutural e do processo de intensificação da exploração do trabalho que lhe estão associados, o País tem sido sujeito ao maior período de recessão e estagnação económica das últimas décadas, acompanhado pela negação de direitos constitucionalmente consagrados, pelo comprometimento do aparelho produtivo e da destruição da capacidade produtiva, pela alienação de sectores estratégicos essenciais ao desenvolvimento soberano.
Hoje, como em nenhum outro momento desde o regime fascista, coloca-se, em termos de atualidade e urgência, a concretização de uma política que liberte o País, simultaneamente, da submissão e dependência externas e do domínio do capital monopolista. A dimensão dos problemas existentes reclama a rutura com uma política determinada pela lógica do domínio do grande capital expondo o País a uma sucessão de crises destruidoras e a concretização de uma política alternativa e de uma alternativa política, patrióticas e de esquerda, vinculadas aos valores de Abril.
A construção da alternativa é inseparável da rutura com a política de direita e da ampliação da base social e política que dê suporte a uma política patriótica e de esquerda. Só uma política que rompa com os eixos e opções da política de direita, que abandone uma orientação determinada pelos interesses do grande capital e do favorecimento da exploração do trabalho, que enfrente, com a mobilização e apoio populares, os constrangimentos e condicionamentos da União Europeia e os seus instrumentos e objetivos de usurpação da soberania, pode concretizar essa alternativa.
É no desenvolvimento da luta de massas e na ampliação da frente social, no alargamento da ação e convergência de todos os democratas e patriotas e no reforço do PCP e da sua influência que residem os fatores cruciais e decisivos para essa alternativa.
As eleições legislativas deste ano constituem um momento da maior importância. Vencendo apelos ao conformismo e à resignação, semeados para proteger o poder dominante, combatendo novas e velhas ilusões para animar falsas saídas, denunciando novas manobras para ver garantida por outras mãos a continuação da política de direita. Há alternativa, Sim, há solução para os problemas do País e uma política alternativa que coloque como objetivos garantir os direitos e condições de vida dos trabalhadores e do povo. Sim, é possível, com a luta e com o voto, assegurar um outro caminho que rompa com o continuado rumo de desastre e empobrecimento dos portugueses e de Portugal.
O PCP e a CDU apresentam-se ao País como portadores dessa política alternativa e parte insubstituível e indispensável da alternativa política que urge construir para assegurar o desenvolvimento soberano de Portugal.
Horta, 08 de Março de 2015
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 09 de Março de 2015
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