O inquilino do Palácio de Belém, a um ano da sua saída, brindou os portugueses com mais alguns recados. Desta vez resolveu tecer considerações sobre o “perfil” do próximo Presidente da República, não quero sequer pensar que esta intervenção do senhor Silva tenha como significado, como alguns analistas criticaram, de má-fé certamente, que a intenção representava uma indicação para a sua sucessão, embora algumas personalidades da nossa praça se tenham, de imediato, perfilado como putativos herdeiros à cadeira que Cavaco Silva ocupa.
Pode não ter significado a indicação do “herdeiro” presidencial mas que é uma clara tentativa de condicionar a livre escolha dos portugueses, disso não tenho dúvidas. Cavaco Silva é, por vezes, acusado de não se pronunciar sobre as questões que flagelam os portugueses, pelo menos uma imensa maioria, neste caso o inquilino do Palácio de Belém perdeu uma grande oportunidade de estar caladinho.
Outras oportunidades perdidas marcam os mandatos presidenciais do senhor Silva, seja a sua comunicação ao País sobre o Estatuto Político dos Açores, seja tantas outras intervenções já incluídas em algumas antologias do anedotário nacional. Mas Cavaco Silva carateriza-se, também, pela sua inércia quanto ao que é verdadeiramente o interesse nacional ao não exercer as competências que lhe estão cometidas, como seja, face à ilegitimidade do governo e da maioria que o suporta, a dissolução da Assembleia da República dando assim cumprimento ao seu juramento, “Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa”, ponto 3 do Artigo 127 da Constituição da República Portuguesa (CRP). Cavaco Silva não cumpriu nem fez cumprir a CRP e como tal deveria ter sido alvo de uma ação de despejo, mas isso são contas de outro rosário. Regressemos ao perfil do Presidente da República e para isso nada melhor que ver o que a CRP nos diz, “São elegíveis os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos.” Artigo 122 da Constituição da República Portuguesa. Este é o perfil, E não há outro. A livre escolha, de entre os milhões de portugueses que encaixam na norma constitucional, é da responsabilidade do Povo português, ainda que esse mesmo Povo nem sempre faça as escolhas mais apropriadas como quando escolheu, por duas vezes, o senhor Silva para Presidente da República, ou quando é levado ao engodo da propaganda ao serviço da alternância política, que tão bem tem servido os interesses instalados e, escolhe os carrascos que o zurzem.
Ponta Delgada, 17 de Março de 2015
Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 18 de Março de 2015
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