Foto - Aníbal C. Pires |
Com a alteração das Obrigações de Serviço Público e a liberalização das rotas da Terceira e S. Miguel é expetável que os fluxos de passageiros para a RAA dos Açores, em particular para a Ilha de S. Miguel, venha a sofrer um aumento significativo, aliás como, num primeiro momento, se regista com outros destinos aquando da entrada no mercado das companhias de transporte aéreo de “baixo custo”. A este aumento de visitantes corresponderá, necessariamente, um impacto económico positivo no setor do turismo.
Importa, todavia, alargar a análise e aprofundar a reflexão sobre este novo paradigma de acessibilidade à RAA e, em que medida está garantida a sustentabilidade do destino e a adequação deste modelo de transporte à sua singularidade, mas também à tipologia dos alojamentos e ao serviço que o setor nos Açores disponibiliza aos forasteiros que nos procuram.
A sustentabilidade está diretamente relacionada com a competitividade e, por sua vez a sustentabilidade só faz sentido se for entendida de forma holística, sob pena de não ser sustentável. Ou seja, a sustentabilidade é desde logo ambiental, social e económica e, por outro lado, a sustentabilidade dos destinos é construída a partir de uma simples, mas não simplista, constatação do mercado e que pode ter a seguinte tradução para a linguagem comum: os turistas pagam mais caro para conhecer locais menos explorados, menos turísticos, menos massificados, onde as experiências são únicas.
Os Açores valem pela sua singularidade geográfica, ambiental, paisagística e cultural, sendo um destino único a sua massificação pode por em causa a sua mais-valia, assim sendo e após o esperado impacto inicial de crescimento do setor por via, da diminuição das tarifas aéreas, a prazo vai verificar-se o declínio dos fluxos até à sua estabilização. Quero com isto dizer ao “boom” inicial se vai seguir um período de abrandamento, diria ainda que o setor pode e tem condições para se afirmar como um destino atrativo, competitivo e, sobretudo, sustentável. E, em minha opinião, é a sustentabilidade que pode garantir o sucesso. Para tal, a Região, tem de avaliar o modelo de oferta turística e adequá-lo às caraterísticas endógenas, isto é, insistir em massificar o destino Açores, como parece ser o objetivo com a opção por um modelo de transportes aéreos atrativos para transportadoras aéreas de baixo custo e pela tipologia das infraestruturas de alojamento já instaladas e outras anunciadas.
Esta tentativa viabilizar o setor do turismo na Região com a sua massificação, tendo como principal âncora as passagens aéreas de baixo custo é um erro que nos pode acarretar custos elevados num futuro próximo, desde logo porque o setor não está preparado para receber com qualidade que a excelência e singularidade do destino o exigem e, por outro lado, à riqueza gerada não irá corresponder um esperado desenvolvimento harmonioso pois o modelo está desenhado, imposto pelas companhias de baixo custo para centralizar os fluxos turísticos em S. Miguel. O resultado será, está bom de ver, o acentuar das assimetrias ao desenvolvimento regional.
Angra do Heroísmo, 20 de Fevereiro de 2015
Aníbal C. Pires, In NO Revista, 2 de Março de 2015, Ponta Delgada
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