Foto - Ana Loura |
E se formal e estruturalmente o escrito de CFA não tem nada que se lhe aponte, aliás como já ficou expresso, quanto aos factos a erudição da ilustre cronista esvai-se nas entrelinhas dos argumentos com que sustenta a sua alegre confissão. Não vou sequer demonstrar que a CFA mente quando fala os tempos do PREC na Faculdade de Direito, ou que ignora a história do PCP, bem assim como o seu programa. Quanto às alusões ao relacionamento de Álvaro Cunhal e José Saramago, então não vale mesmo a pena perder tempo com a CFA.
A frase chave que retira toda a credibilidade aos factos apresentados por CFA, não à sua opinião que pode expressar livremente porque os comunistas lutaram e morreram para que isso fosse possível, é a seguinte:
"Sou uma anticomunista que não tem vergonha de ser anticomunista e que tem e teve amigos comunistas (mais teve do que tem, porque tudo o que se relaciona com esta doutrina é, irremediavelmente, passado). Claro que podem ler nesta frase — “tenho amigos comunistas” — a mesma desconfiança que leem quando os homofóbicos dizem que têm amigos gays. E, já que falamos disso, o PCP sempre foi ferozmente antigay. Só se mudaram. Já lá iremos."
A emenda foi pior que o soneto. E lá continuei a ler o texto esperando pela promessa (Já lá iremos) da mudança ou não da posição do PCP sobre a homossexualidade. Li até ao fim e não encontrei, afinal a CFA não foi. Talvez um dia vá, mas não foi desta. Ou então ter-se-á esquecido tal era a vontade de deixar bem claro que, não só é anticomunista, como também considera que esta coisa de um governo do PS com o apoio do PCP e do BE é contra natura.
Já agora a propósito da suposta posição homofóbica o PCP recorro ao jornalista Luís Osório que sobre o assunto e a propósito dos incidentes da Festa do Avante escreveu o seguinte:
“Nunca fui comunista. Várias vezes tenho combatido um partido que é, na sua essência, ortodoxo e (na minha opinião) profundamente conservador. Porém, os ataques ao PCP por causa das agressões na Festa do Avante! Ataques que insinuam que o problema está na homofobia dos comunistas, são injustos e vis. O meu pai foi um dos primeiros comunistas a assumir a sua homossexualidade. Esteve mais de vinte anos na cúpula da organização da Festa, militou no PCP desde o final da década de 1960 e foi sempre apoiado política e pessoalmente. No momento da sua morte, a última cerimónia, antes da cremação, vários membros do Comité Central dedicaram-lhe palavras de despedida. Por esses dias recebi um telefonema de Jerónimo de Sousa. É justo que se diga, em memória dele e da verdade.”
Não acredito que a CFA, profunda conhecedora do PCP, não tenha lido este escrito do Luís Osório onde fica demonstrado que o PCP, sobre as questões da homossexualidade, já mudou há muito tempo.
Direito à opinião certamente que sim, todos a temos nem que seja por uma questão de fé, como me parece ser o caso da CFA que a terminar diz que desde pequenina que é portuguesa e anticomunista, se a primeira é uma condição a segunda é mesmo uma questão de fé. Não discuto mas não aceito alarvidades nem a mentira. Por mim sou português desde que nasci, benfiquista desde pequenino e comunista já lá vão 41 anos.
Ponta Delgada, 08 de Novembro de 2015
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 10 de Novembro de 2015
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