Foto - Aníbal C. Pires |
O crescimento do sector do turismo, com ritmos claramente diferenciados nas diversas ilhas, só por si não foi, nem poderia ser, o suficiente para contrariar as enormes quebras de rendimento nos sectores mais centrais da economia regional. Da mesma forma, também não contribuiu para a criação de emprego, estável e com direitos, tendo-se limitado sobretudo a empregar mão-de-obra precária, sazonal, muitas vezes de baixas qualificações, o que não contribui para a qualidade da oferta turística do destino Açores, que é naturalmente um destino de excelência. A situação de precariedade e de baixos salários praticados no setor do Turismo, pouco ou nada acrescenta à economia regional no seu conjunto e em nada contribuem para a sustentabilidade económica do setor. A sustentabilidade do modelo económico para o turismo depende da manutenção da sua qualidade natural e singularidade, mas também da distribuição equitativa da riqueza gerada.
A transição de 2015 para 2016 trouxe à tona d’água mais um escândalo financeiro, desta vez foi o BANIF com tudo o que isso representa, em particular, para os Açores. A situação do BANIF levanta profundas preocupações, tendo em conta a sua dimensão e importância na Região, bem como as estreitas relações que os serviços da Administração Regional mantêm com esta instituição e, sobretudo, a situação dos seus trabalhadores que de um momento para o outro ficaram integrados numa instituição financeira que já opera no mercado bancário regional e com a incerteza sobre o seu futuro a pairar no horizonte.
Importa recordar que o BANIF absorveu, em 1995 e por decisão do último governo do PSD nos Açores, uma instituição financeira pública, o Banco Comercial dos Açores (BCA) que foi privatizada sob o argumento da suposta eficiência da gestão privada que, como se veio a comprovar, serviu apenas para arruinar mais uma instituição financeira.
A privatização do BCA e a sua integração no BANIF, primeiro como o BANIF Açores e, posteriormente com a sua integração total no BANIF teve com efeito a perda de um instrumento financeiro público da Região e resultou, também, numa alteração profunda no relacionamento de proximidade com os açorianos.
A privatização do BCA, em 1995 constituiu um grave erro. Com a privatização do BCA os Açores perderam um instrumento financeiro para a promoção do desenvolvimento regional e um centro de decisão que se deslocalizou para o exterior.
O percurso deste Banco deve servir-nos de aprendizagem para o futuro, em especial para as forças e setores mais incautos, ou dogmáticos, que continuam a advogar a estafada ideia da privatização das empresas regionais, como a panaceia para todos os males e, de que a agenda de privatizações advogada pela Direção da Câmara do Comércio Indústria de Ponta Delgada é um dos exemplos paradigmáticos.
Ponta Delgada, 10 de Janeiro de 2016
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 11 de Janeiro de 2016
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