Sobre as eleições presidenciais estará tudo dito, pelo menos as análises políticas e debates têm sido mais que muitas, contudo, como também tenho opinião não posso deixar de tecer algumas considerações sobre tão importante assunto como é a eleição do Presidente da República Portuguesa.
Os resultados não foram os que eu desejava, É sabido que o meu candidato era outro e que entrou nesta batalha eleitoral com o objetivo de forçar uma segunda volta onde, então sim, as possibilidades de derrotar o candidato do PSD e do CDS/PP eram bem reais pois, como todos tínhamos consciência, Marcelo Rebelo de Sousa, teria num primeiro ato eleitoral o melhor resultado dos 10 candidatos presidenciais. Assim não aconteceu, o candidato da direita obteve mais de 50% dos votos expressos e foi eleito presidente no escrutínio do dia 24 de Janeiro. A expetativa de muitos milhões de portugueses foi defraudada, a de muitos outros foi satisfeita e, para tantos outros que continuam a alhear-se da coisa pública, foi indiferente. Alheamento que contribui para que a democracia portuguesa, como qualquer flor que não é cuidada, definhe com o prejuízo que é comum a todos, não apenas aos indiferentes.
Não terá grande relevância procurar no complexo contexto destas eleições culpados, à esquerda, pela vitória da direita. Não é relevante pois não altera o desfecho mas nem por isso deixa de ser importante um olhar, ainda que breve, sobre o posicionamento do PS, que não acontece pela primeira vez, face às eleições presidenciais. Sei que é mera especulação mas se o posicionamento do PS tivesse sido outro o resultado poderia ter sido bem diferente e, a esperança renascida nas eleições de 4 de Outubro teria sido reforçada.
A candidatura de Sampaio da Nóvoa tendo sido apresentada como independente emergiu, como se sabe, no seio do PS, ou melhor de um dos PS pois, também como sabemos, o PS é um partido onde coexistem vários partidos. Não, não se trata de uma salutar diversidade de opiniões, trata-se de uma doentia e inconfessável defesa de interesses alguns deles em estreita ligação com quem tem imposto o empobrecimento a Portugal. Cedo alguns dos interesses ou partidos que coexistem dentro do PS retiraram o tapete a uma parte da direção do PS e, por consequência, à candidatura de Sampaio da Nóvoa. Nada disto aconteceu por acaso pois se o PS se tem unido à volta da candidatura de Sampaio da Nóvoa tudo poderia ter sido bem diferente. Mas isso não interessava aos outros PS para quem ter um Presidente oriundo da direita serve melhor os seus proveitos.
Para além da candidatura de Sampaio da Nóvoa e de Marcelo Rebelo de Sousa não vou referir outras candidaturas para além da de Edgar Silva, candidato apoiado pelo PCP, não por qualquer preconceito ou, como alguns dirão, pela azia que os resultados me terão provocado como, por exemplo, o resultado dessa mítica figura nacional da cultura pimba que dá pelo nome artístico de Tino de Rans, nada disso. Não é preconceito e muito menos azia é por razões bem mais preocupantes e que merecem análises psicossociológicas aturadas e para as quais não estou certificado.
No seio do PCP e da sua área de influência existem um sem número de personalidades a quem poderia ter sido confiada a responsabilidade pela candidatura presidencial. A escolha recaiu sobre Edgar Silva e, em minha opinião, muito bem. Quem conhece o Edgar Silva e com ele priva, ainda que esporadicamente, dá-se conta de que o Edgar reúne qualidades que são muito difíceis de juntar num mesmo ser. O Edgar era (é) o homem certo para um tempo novo mas o tempo não se renovou.
Bem vistas as coisas a tarefa dos 9 candidatos estava votada ao fracasso pois Marcelo Rebelo de Sousa estava predestinado, desde o berço, a desempenhar um alto cargo no Estado português, quer o Estado fosse novo ou democrático. Esta afirmação sendo simplista não deixa de se aproximar da realidade. Marcelo Rebelo de Sousa estava fadado a ser qualquer coisa mas não deixou que simplesmente acontecesse, Não. Bem pelo contrário, Marcelo Rebelo de Sousa trabalhou arduamente nos estúdios de televisão ao longo de vários anos, não fosse o diabo tecê-las, para que o destino o não traísse.
Ponta Delgada, 31 de Janeiro de 2016
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 01 de Fevereiro de 2016
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