sábado, 18 de agosto de 2018

Autonomia na Educação, onde estás que não te encontro - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 02 de Junho de 2018 que pode ser ouvida aqui






Autonomia na Educação, onde estás que não te encontro

Foto by Aníbal C. Pires
Eis-nos chegados a Junho. Para uma parte significativa da população é mais um ano que está a chegar ao fim, é a perspetiva de poder retemperar forças à beira mar, na frescura dos campos, ou com a viagem sonhada e há muito adiada. Talvez seja este ano, mesmo sem aumento salarial. Liquidez só para a banca, para os encargos com a dívida, e para financiar o ensino e a saúde, privados. Sim porque é necessário demonstrar que o serviço público de saúde não funciona, ou funciona assim assim e, que a Escola Pública, por ser para todos, não tem qualidade.
A população a que me estou a referir, como percebeu, são os educadores e professores, mas também os jovens alunos que por esta altura concluem, com mais ou menos sucesso uma etapa das suas vidas. Não, a malta não vai já de férias, isso só vai acontecer mais lá para o fim de Julho, para que o regresso para um novo ciclo tenha lugar nos últimos dias de Agosto, de modo a que no primeiro dia de Setembro as escolas voltem a encher-se de educadores e professores a preparar a receção aos alunos e um novo ano escolar.
Até lá, até às tais férias, são as avaliações a formação e a absorção das alterações com que a tutela da educação anualmente brinda os educadores e professores, provocando instabilidade no sistema, até porque ninguém percebe como aparecem as sucessivas alterações. E ninguém percebe porque não resultam de nenhum processo de avaliação. As respostas da administração educativa regional e central aos crónicos problemas do sistema educativo, surgem como réplicas sem consistência e, sobretudo atulham as escolas e os docentes de lugares comuns, aliás as novidades da tutela constituem-se, em alguns casos, como antigas práticas da Escola Pública que a tutela, entretanto cerceou, e com a prática didática e pedagógica que alguns professores, embora à revelia das orientações oficiais, nunca abandonaram.
O ensino na Região continua à deriva, não existe pensamento crítico e a tutela adotou uma posição de seguidismo em relação às orientações que emanam do Ministério da Educação. Nem sequer se dão ao trabalho de alterar o timbre dos documentos.

Foto by Aníbal C. Pires
Não foi o primeiro ano que aconteceu, mas este ano repetiu-se e alargou-se o âmbito. Provas de aferição a meio dos ciclos de ensino e, no caso do 1º Ciclo do Ensino Básico em áreas disciplinares como sejam as expressões que, todos o sabemos, não são objeto, por razões óbvias, de grande atenção pelos professores titulares. Por outro lado, o ensino básico está estruturado por ciclos de ensino o que significa que qualquer tentativa de aferir conhecimentos, seja no 2º ano do primeiro ciclo, seja no 5.º ano do segundo ciclo, ou como está previsto para 2018/2019, no 8.º ano do 3.º ciclo é um paradoxo e só pode estar condenado ao fracasso. Os resultados obtidos não têm qualquer validade científica, no entanto alocaram-se recursos humanos e financeiros a esta farsa que um qualquer gabinete em Lisboa resolveu criar, talvez para justificar a sua própria existência, o que digamos é muito pouco e, sobretudo, não serve para nada.
Interessante mesmo é que em simultâneo se está a preparar a introdução de uma nova experiência pedagógica que tem como principal objetivo a flexibilização curricular no ensino básico, como se isto fosse alguma novidade e a própria autonomia das escolas não o permitisse. Ou melhor não o permite porque a tutela aderiu e impôs às Escolas a uniformização, aliás ainda estou para ver como é que a Secretaria Regional da Educação vai conciliar dois princípios que não são compagináveis.
Sei que este assunto não é do domínio comum, mas deveria interessar a todos afinal estamos a falar do sistema de ensino, estamos a falar do futuro.

Volto no próximo sábado, assim o espero.
Até lá,
Fique bem.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 02 de Junho de 2018

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