sábado, 4 de agosto de 2018

Fragmentos - crónicas radiofónicas

Foto by Madalena Pires






Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 12 de Maio de 2018 que pode ser ouvida aqui









Fragmentos 

Este nosso encontro de hoje esteve, vai que não vai, para ser adiado. Uma inesperada gripe prostrou-me e lá se foi a minha energia, mas a vontade de estar consigo é grande e vou tentar encontrar algumas palavras, ainda que tenha de as ir buscar aos meus arquivos. São de novo velhas as palavras que lhe trago. Mas talvez não as conheça e prometo não me alongar muito.
Então vamos lá. Os textos não estão por ordem cronológica, mas isso não é todo importante para o contexto.
Este primeiro texto foi escrito Outubro de 2013 e fala, ou pretende falar, do tempo e da finitude da vida.

Foto by Aníbal C. Pires
Passa tempo

O tempo só é importante porque a vida é finita e, por isso tão excitante. A eternidade seria entediante. Que fazer com tanto tempo, se agora com o tempo contado e com fim à vista deixamos que ele, o tempo, passe por nós, por vezes até desejamos que, o tempo, passe depressa, até inventamos passatempos, para iludir o tempo.
O tempo não tem tempo, mas a vida tem, um tempo. 
Usa o tempo que a vida te der. Não faças do tempo e da vida, um passatempo.

O texto seguinte não tem propriamente um tema, é assim como um jogo de palavras, mas julgo que não será abusivo dizer que se trata de ruído na comunicação, e foi escrito em Março de 2014.

Foto by Aníbal C. Pires
Desordem ordenada

Não te esqueças. Dizes enquanto te afastas. Ainda esboço uma tentativa para que, mesmo lá de longe, me digas do que não me devo esquecer. Já não me ouves, já não me vês, e eu fico sem saber do que não me devo esquecer. Quero lembrar-me. Tenho tanto para não esquecer, e lembro-me. Mas como será que me posso lembrar, do que queres que não me esqueça, se te esqueceste de me dizer do que me devia lembrar.








Por fim este fragmento retirado de um texto, escrito em Novembro de 2009, que fala da nossa cidade.

Foto by Aníbal C. Pires
Das cidades

(...) Há cidades míticas, cidades património, cidades ordenadas e desordenadas, megacidades, cidades capitais económicas, políticas e culturais, cidades comerciais, cidades industriais, cidades do pecado e do prazer, cidades de oportunidades, cidades tranquilas, cidades seguras e inseguras, cidades com alma e sem alma e há… a nossa cidade. A cidade onde nascemos e crescemos e nunca enjeitámos, a cidade onde vivemos por opção ou, por uma paixão que a casualidade atiçou e se transformou num grande amor que nos prende a esta, e não a outra cidade. E se o acaso da vida nos leva para longe… para outra cidade de oportunidades carregamos connosco a saudade dos espaços e das gentes que fazem única, a nossa cidade. (...)


Gostei de estar consigo
Volto no próximo sábado, Fique bem.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 12 de Maio de 2018

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