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Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM
Esta crónica foi para a antena a 21 de Julho de 2018 que pode ser ouvida aqui
A atualidade e o antidogmatismo da teoria marxista
Um pouco por todo o Mundo, com maior ou menor expressão pública e mediatismo, em 2018, assinala-se o bicentenário do nascimento de Karl Marx.
Em Portugal o PCP um pouco por todo o território nacional tem promovido um conjunto de iniciativas para assinalar, por um lado II Centenário do nascimento de Karl Marx, mas também com o intuito de divulgar a atualidade do seu pensamento, a sua obra e combater algumas ideias preconcebidas sobre a teoria marxista. Teoria que pela sua própria natureza materialista e dialética é antidogmática, ou seja, não se cristaliza em conceitos abstratos e intemporais, é expressão do próprio movimento da sociedade, enriquece-se constantemente com os progressos da ciência e a ação e reflexão do movimento comunista e revolucionário internacional.
Foto by Aníbal C. Pires |
Estas iniciativas visam contribuir para que o conhecimento da obra de Karl Marx possa sair da opacidade em que nas últimas décadas a tentaram mergulhar com o propósito de esconder um pensamento e entendimento do Mundo que, quer se queira quer não, quer se goste quer não, está na origem das grandes transformações e avanços sociais que marcaram o século XX.
Álvaro Cunhal num texto sobre a passagem dos 150 anos do Manifesto Comunista (de Marx e Engels), em 1998, é claro quanto à atualidade da teoria marxista e à sua natureza antidogmática e passo a citar, “O Manifesto Comunista é um extraordinário libelo acusatório contra o capitalismo.
Não apenas indicando a situação da classe operária e das massas trabalhadoras: os salários injustos, o desemprego, o tempo e intensidade de trabalho, as discriminações e falta de direitos da mulher, o trabalho infantil, os problemas da habitação e da saúde, o alastramento da pobreza e da miséria. Não apenas apontando medidas necessárias de carácter imediato. Mas também desvendando a natureza e as leis do capitalismo e apontando a necessidade e possibilidade histórica de superá-lo.” Fim de citação.
O tempo tem vindo a demonstrar que esta é uma realidade cada vez mais dramática e que se acentuou com mais uma das cíclicas crises do capitalismo que Marx identificou e referiu como sendo uma das suas caraterísticas intrínsecas.
Quanto ao caráter antidogmático da teoria marxista diz, no mesmo texto, Álvaro Cunhal – “ As teorias de Marx e Engels, das quais o Manifesto Comunista faz uma primeira síntese, revolucionaram o pensamento e as sociedades no século XX.
A sua expansão mundial foi possível por explicar o que até então não tinha explicação. Sobre a relação do ser humano com a natureza que o envolve. Sobre as contradições e história das sociedades. Sobre a economia capitalista e suas leis. Sobre a atualidade da construção revolucionária de uma nova sociedade. Porque científicas e dialéticas, teorias abertas à reflexão e contrárias à própria cristalização.
Foto by Aníbal C. Pires |
Curioso que certos estudiosos, quando falam do marxismo, investigam o pensamento de Marx antes de este ter formulado as grandes conclusões teóricas. Ou seja: de quando Marx ainda não era marxista. O marxismo há que considerá-lo em movimento, acompanhando a vida.” Fim de citação.
Esta iniciativa para além de celebrar o bicentenário de Karl Marx, tal como já referi, pretende desconstruir a ideia de que a teoria marxista está ultrapassada, nada mais contraditório. Uma teoria que assenta os seus fundamentos no materialismo dialético que, em si mesmo rejeita as verdades absolutas e confia no conhecimento científico não perde atualidade e muito menos se extingue, embora essa seja a vontade de quem mantém a opressão sobre os povos e é responsável pela recrudescimento de hodiernas formas de exploração, mas que não deixam, essas sim, de serem tão velhas nos princípios como os que norteiam a atual e globalizada exploração capitalista.
Fique bem.
Eu voltarei, assim o espero, no próximo sábado.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 21 de Julho de 2018
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