foto by Aníbal C. Pires |
Hoje comemora-se o Dia da Independência de Cabo Verde. Para assinalar esta data republico um texto escrito e publicado em julho de 2004.
Cabo Verde visto de fora
foto by Aníbal C. Pires |
O meu fascínio por África, e em particular por Cabo Verde, surgiu e foi-se desenvolvendo durante a minha infância, vá-se lá saber porque é que uma criança nascida e criada em terras do interior do continente português, e de onde só saiu quando jovem adulto, se sentia atraída por uma terra, um povo e uma cultura tão distantes, não disse diferente, nem digo, porque sempre senti pelo povo de Cabo Verde e pela sua cultura uma grande proximidade, talvez mesmo identificação, ainda que, por ser uma criança do interior, me faltasse o azul do mar e a sua imensidão.
Não sei se pela dolência das mornas, se pela harmonia das mazurkas, se foi a alegria do funaná e da coladeira, ou os ritmos alucinantes da tabanca e do batuque que o fascínio por esse povo, moldado pelo vento Leste, pelo imenso Atlântico, pela chuva que não cai e pela dor da hora di bai, foi crescendo e ganhando uma cada vez maior admiração.
foto by Aníbal C. Pires |
A estabilidade política, a consolidação do regime democrático e um exemplar aproveitamento da ajuda externa e, sobretudo, a dignidade e a vontade de um povo, catapultaram Cabo Verde para o grupo de países com um Índice de Desenvolvimento Humano médio. O percurso trilhado nos últimos vinte nove anos por este pequeno país africano, insular e arquipelágico e, a que os técnicos do Banco Mundial vaticinaram a inviabilidade económica, é exemplar para África e, em particular, para os restantes Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
Cabo Verde, micro estado insular, arquipelágico e Atlântico, comemorou, no passado dia 5 de Julho, o vigésimo nono aniversário da sua independência, em vez de apreciações sobre percurso trilhado ou, de uma análise prospetiva sobre o futuro deste jovem país no quadro da Macaronésia, das relações com os Açores e da estratégia de aproximação à União Europeia, e para além do que já ficou dito, gostaria de deixar algumas linhas de homenagem à comunidade transnacional cabo-verdiana – os cabo-verdianos da terra-longe.
foto by Aníbal C. Pires |
A dispersão dos cabo-verdianos pelo mundo tem origem nas clássicas motivações da emigração, comuns a muitos outros povos. E, também, como muitos outros povos o ideário de retorno à terra-mãe está sempre presente, embora, como se sabe, poucos retornem. A coesão e pujança da comunidade transnacional cabo-verdiana assentam em dois pilares, que foram, igualmente, basilares na construção da própria cabo-verdianidade e identidade nacional. O crioulo, língua nacional, e a representação coletiva do território, a relação com a terra-mãe, que nos cabo-verdianos tem um acentuado carácter mágico-religioso.
Para os cabo-verdianos da terra-longe e, em particular aos que vivem e trabalham na Região Autónoma dos Açores, aqui fica a minha homenagem e os votos de que Cabo Verde possa continuar na senda do progresso e do desenvolvimento.
Ponta Delgada, 08 de Julho de 2004
Sem comentários:
Enviar um comentário