Foi, diria, um descuido, pois, tenho consciência de que ao contrário de outras publicações, mais extensas que publico no meu blogue, uma pequena frase é lida muito mais vezes e, logo, objeto de mais reações. Por outro lado, as questões complexas, também o sei, não se resumem ao número de carateres de um tweet, e nem tudo é preto ou branco.
A frase foi motivo para um conjunto de comentários que motivou ao bloqueio de alguns dos seus autores. As razões para a minha atitude não foram pela discordância de opinião, mas sim pelo vazio das argumentações se é que a isto se pode chamar alegações “(…) se não estão bem que vão para a Russia. (…), ou “(…) Custa-me compreender como alguem da nossa sociedade tenta desculpar Putin. (…), ou ainda “(…) segue a linha do comité central? (…). A falta de acentuação é da responsabilidade dos autores dos comentários.
A frase não é ofensiva e não demonstra apoio a coisa nenhuma. Na sexta-feira, dia 26 tinha ficado satisfeito com a eventual abertura de um processo negocial, ontem fui surpreendido pela falência desse anúncio, e resolvi publicar isso mesmo, mas ao que pude constatar é que existe um grande número de cidadãos que consideram que não há diálogo possível. Preferem a guerra. Pois bem. Eu acho que só o caminho do diálogo pode levar à PAZ.
Ao que foi tornado público as negociações não se realizaram devido ao desentendimento sobre o local (país) onde deveriam decorrer. A Rússia propôs a Bielorússia e a Ucrânia a Turquia, a Hungria ou a Áustria, percebo que quer para a Rússia, quer para a Ucrânia, nenhum destes países é totalmente neutral neste conflito e, como tal, o caminho deveria ser encontrar outra solução para o local das negociações. O que para os cidadãos que dizem querer a PAZ e rezam para que isso se concretize não devem ter ficado satisfeitos. Eu não fiquei e partilhei a minha estupefação.
Sei que as redes sociais não representam tudo e muito do que se comenta e publica não passa de lixo, porém tenho verificado que alguns cidadãos que acompanho e leio têm vindo não só a alinhar-se, acriticamente, com a narrativa criada pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela NATO e, ao invés da PAZ começam a exigir uma intervenção militar em larga escala para libertar a Ucrânia. Fico sem saber o que querem, mas aconselho-os a ler o ancião Henry Kissinger, que, seguramente, não se identifica com a Rússia e muito menos com o seu presidente. Podem, se assim quiserem aceder à opinião (The Washington Post, 5 de março de 2014) do guru ocidental das Relações Internacionais.Quanto à guerra na Ucrânia e às manifestações pela PAZ gostaria de dizer que são bem-vindos, mas chegaram com 8 anos de atraso. A guerra na Ucrânia teve o seu início em 2014, não falta por aí informação sobre o assunto e para além deste conflito decorrem outros, como por exemplo a ocupação da Palestina, o Iémen, a Síria e a Somália, todas elas, tal como a Ucrânia com a “mãozinha” dos Estados Unidos e dos seus aliados, na NATO e fora dela. Isto para não referir os milhões de refugiados que estas e outras guerras têm produzido.
Para mim a vida e a dignidade humana têm o mesmo valor independentemente dos locais que habitamos, das religiões que confessamos e da matriz cultural que adotamos para a nossa vida.
A guerra na Ucrânia teve início em 2014. Morreram até à intervenção militar russa cerca de 15 mil pessoas. Não vi, infelizmente, nenhuma condenação a esta guerra. E isto não é, de todo, despiciente.
Bem, mas como eu desejo ardentemente a PAZ fiquei satisfeito por saber, durante o tempo em que escrevi este texto, que afinal sempre vão acontecer negociações entre a Ucrânia e a Rússia. A delegação russa já está a aguardar a delegação ucraniana e ao que parece o encontro vai mesmo realizar-se na região fronteiriça da Bielorússia. Espero que se concretize e, sobretudo, que abra caminho para uma solução pacífica da qual os primeiros beneficiários serão os povos da Ucrânia e da Rússia.Como tenho vindo a afirmar estou do lado da PAZ, mas estou contra um lado, a NATO. Esta organização, criada como sendo defensiva, é responsável pelos maiores conflitos bélicos das últimas dezenas de anos. Apesar dos revisionismos e apagões históricos não falta informação sobre o assunto, assim queiram manter-se atentos e críticos face às narrativas que promovem os conflitos.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 27 de fevereiro de 2022
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