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A premissa é conhecida há décadas: por um dólar investido na atividade física economizam-se, em média, três dólares nos custos de saúde, ou seja, a prática de atividade física, orientada ou não, é uma componente importante de qualquer política de cuidados primários de saúde e do bem-estar da população, desde logo ao nível da prevenção de algumas das doenças que mais afetam os cidadãos e maiores custos têm para os serviço de saúde pública pois, evita a quebra de produtividade provocada pelo absentismo e a incapacidade, temporária ou permanente, para exercer a atividade profissional. A saúde não é um custo é um investimento na prevenção da doença.
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Lembro-me, há alguns anos, da campanha para promover a prática de atividade física, o mote era:” mexa-se pela sua saúde”. Os outdoors estavam bonitinhos, do alcance da campanha não conheço os resultados, embora constate que cada vez mais cidadãos, de todos os géneros e idades, dedicam algum do seu tempo à prática de atividade física, seja ao ar livre, seja em espaços fechados que assumem as mais diversas designações, como seja, o tradicional ginásio, mas também butiques de saúde, clubes de fitness, boxes de crossFit, ou outras que melhor se conformem à moda do momento. Se já estão a concluir que o autor tem alguma coisa contra a atividade física orientada que se pratica em espaços fechados, vulgo ginásios, enganam-se. Tenho algumas reservas, mas reconheço-lhes muita utilidade.
Alguns jornais nacionais, na sua secção de economia, trouxeram para o espaço público a análise de um recente estudo da Deloitte sobre as dificuldades presentes da indústria do fitness, ou como se diz em português: conjunto de exercícios que favorecem a forma física; e a sua relação com os custos que a inatividade física tem para a economia portuguesa que, segundo os autores atingem os 1569 milhões por ano (parece-me um valor inflacionado, mas a Deloitte lá sabe), acrescem ainda os mais de 980 milhões de euros que as doenças provocadas pelo sedentarismo custam ao Serviço Nacional de Saúde.
O estudo da Delloite e a análise a que me referi sendo importantes são, contudo, redutores em virtude de se centrarem apenas na quebra do negócio dos ginásios que está, como sabemos, relacionada com a pandemia e as dificuldades de retoma para os valores pré pandémicos, mas também da procura de alternativas. O artigo e o estudo a que me venho a referir oblitera toda a atividade física, orientada ou não, que os cidadãos praticam ao ar livre, para concluir que a diminuição da atividade dos ginásios vai ter um impacto negativo nos cofres do Estado. São preocupações legítimas, mas de duvidosa bondade quanto à saúde e ao bem-estar dos cidadãos e das contas públicas. Se todos concordamos que a prática regular de atividade física é um fator de prevenção e até terapêutica para algumas doenças, nem todos consideramos que a solução passa, exclusivamente, pelo exercício proporcionado pelos ginásios e seus sucedâneos.
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 150mn semanais (2h30mn) de exercício físico. A OMS não específica, na sua recomendação, a frequência dos clássicos ginásios ou dos hodiernos clubes de saúde, ou seja, o importante é manter regularidade e cumprir, pelo menos, o tempo mínimo aconselhado de atividade física seja nos espaços naturais, seja em espaços fechados. Para isso e, para que seja para todos, cabe ao Estado criar condições para que a prática da atividade física se generalize e faça parte das rotinas diárias.
A SONAE Fitness quer, eu também, a promoção da prática de uma vida saudável. A SONAE Fitness gere, pelo menos 40 clubes, eu não detenho nenhum interesse direto ou indireto neste segmento de comércio de serviços, sendo por isso natural que as soluções para atingir o mesmo fim sejam antagónicas. A SONAE Fitness quer benefícios fiscais para o negócio, para os profissionais e para os clientes, estou parcialmente de acordo. Os profissionais sim, quanto aos clientes só se todos os cidadãos beneficiarem de dedução, em sede de IRS, das despesas com material desportivo e a prática de atividade física, independentemente de frequentarem, ou não, o ginásio.
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do arquivo pessoal |
A questão central é a política de saúde e a rede de cuidados primários que têm estado afastadas das preocupações de quem traça as políticas públicas. Médicos e enfermeiros de família são o pilar de equipas multidisciplinares, onde os licenciados/mestres em Educação Física deviam ser integrados. Afinal se o investimento na prática de atividade física regular e orientada tem como efeito a manutenção da saúde e a prevenção da doença não se entende a sua ausência na arquitetura da rede de cuidados de saúde primários. Se a opção for de continuar a reservar aos ginásios a promoção de hábitos de vida ativa e, por consequência, saudável e não investir nos serviços públicos de prevenção da doença, continuaremos a desbaratar recursos financeiros públicos em favor de alguns e com prejuízo de uma imensa maioria.
Ponta Delgada, 23 de agosto de 2022
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 24 de agosto de 2022
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