domingo, 14 de agosto de 2022

um olhar sobre “A Escrava Açoriana”

foto by Aníbal C. Pires

O mais recente romance de Pedro Almeida Maia aborda, desta vez no feminino, a temática da emigração açoriana. Depois de “Ilha-América”, eis que o autor nos oferta “A Escrava Açoriana”.

É com a jovem e irreverente Rosário que calcorreamos as ruas de Ponta Delgada nos finais do século XIX e com ela embarcamos, clandestinamente, no Lidador rumo ao sonho na margem Sul deste Atlântico que nos aprisiona, mas também nos liberta. Sonho que nem sempre é prazeroso, quantas e quantas vezes os percursos migratórios se transformam em pesadelos.

Com a Rosário vivemos num “cortiço” do Rio de Janeiro, com ela somos escravos numa plantação de café, com ela passamos a servir na “casa grande”, com ela nos libertamos do sonho vendido por um engajador e, com ela regressamos a S. Miguel para, de novo, ouvir o “pio do milhafre”.


Pedro Almeida Maia - imagem retirada da internet
Pedro Almeida Maia com a sua escrita escorreita e aliciante traz-nos a estória de um percurso migratório com regresso, mas sem sucesso material. Um percurso de enganos, abusos, escravidão, desumanidade, mas também de humanidade. A jovem Rosário não cumpriu nenhum dos sonhos que motivaram a sua viagem, mas regressou indelevelmente marcada pela sua estadia em terras de Vera Cruz.

Rosário não fez fortuna, não trazia bens materiais, mas carregava consigo, ao desembarcar em Ponta Delgada, a preciosa bagagem que a transformou numa ativista pelos direitos das mulheres e da República. A rebeldia e a irreverência da jovem Rosário transformaram-se em consciência, ação e luta.

Esta é uma estória de mulher que se libertou do sufoco do capote e capelo, como soube livrar-se das amarras da prostituição, da escravidão e da servidão aos homens.

Rosário regressou, talvez numa sexta-feira que é, como sabemos, quando “a vida começa”, para ouvir o “pio do milhafre” e fazer ouvir a sua voz.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 14 de agosto de 2022


1 comentário:

Emilio Antunes Rodrigues disse...

No próximo fim de semana vou procurar este livro naquele local onde só encontramos boa literatura, bom teatro, bom cinema e alguma boa música, é por isso e muitas outras coisas mais que dizemos que não há festa como esta.