imagem retirada da internet |
A outra (a regional) está numa prolongada agonia e, face ao que tem sido afirmado, só terá o seu óbito em outubro de 2024. Por cá acumulam-se tensões que geram mau estar nas hostes partidárias dos partidos da coligação, em particular no seio do PSD/Açores que está profundamente dividido e sem soluções para se libertar dos aliados de ocasião. Uma parte do PSD/Açores contorciona-se para evitar perder o poder que lhe caiu no regaço sem ter feito nada, ou muito pouco, para a construção da atual solução governativa, submetendo-se à vontade e aos desvarios dos apêndices políticos de contexto que se enquistaram no poder regional, mas no PSD/Açores, nem todos os militantes e dirigentes se sentem confortáveis, não só pelos contornos da génese da coligação governamental, mas sobretudo por todos os acontecimentos que têm marcado estes três anos de governação e pela sujeição do PSD/Açores a agendas políticas determinadas por partidos que até às vésperas do ato eleitoral de 2020 eram, mais do que qualquer outros, os seus viscerais adversários políticos.
O PSD meteu-se numa camisa de “sete varas” da qual é cada vez mais difícil sair sem graves prejuízos políticos e eleitorais, isto para além da fragmentação interna que corrói. Mas esse é um assunto interno que o PSD saberá resolver.
foto de Aníbal C. Pires |
Sei que são águas passadas, mas as revisitações têm sempre uma grande utilidade. Fui ao meu arquivo recente (março de 2023) e encontrei uma nota publicada no meu blogue que, ainda hoje, se pode utilizar quando se analisa a situação política regional. A decisão de Nuno Barata, votar contra a proposta de orçamento de 2024, estava mais do que anunciada quando, à entrada do primeiro trimestre do ano, a Iniciativa Liberal, pela voz do seu líder “rompeu” o acordo bilateral com o PSD. Numa publicação de 8 de março escrevi: “(…) Face à retirada do apoio político, da IL e do deputado independente ao Governo Regional, faria todo o sentido que o Senhor Representante da República, a quem de deve a bênção da atual solução governativa açoriana, convocasse os 5 partidos que, com apoios globais e bilaterais, garantiram a estabilidade do governo PSD/CDS/PPM, para que a situação fosse politicamente clarificada. Faria todo o sentido e é legítimo que os cidadãos tenham essa expetativa, mas tenho dúvidas que isso venha a acontecer. O Senhor Embaixador Pedro Catarino depende diretamente do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa tendo sido tão lesto a construir esta solução, não terá agora a mesma disponibilidade, agilidade e a coerência para mandar fazer o que deveria ser feito. (…)”
imagem retirada da internet |
Nunca coloquei em causa a legitimidade política e democrática aquando da solução construída, com base em acordos globais e bilaterais, entre os cinco partidos que viabilizaram a formação do atual governo da Região, ainda que tenha algumas reservas quanto aos procedimentos desenhados pelo Representante da República, a mando de Marcelo Rebelo de Sousa.
A legitimidade política e democrática da coligação de governo resulta e alicerça-se no quadro parlamentar ditado pelas regionais de 2020 e dos subsequentes acordos partidários, globais e bilaterais, entre cinco partidos que representavam uma maioria parlamentar. Representavam, já não representam desde que a IL “rompeu” o acordo com o PSD/Açores, o que aconteceu há oito meses, sem que daí resultasse, como seria concordante com o papel, protagonismo e compromisso que assumiu em 2020, uma iniciativa de clarificação do Senhor Representante da República.
foto de Aníbal C. Pires |
Não tenho acompanhado com proximidade a vida política regional, o que significa, que a informação que detenho é pouca, contudo, não parece que se desenhe qualquer cenário parlamentar que leve à queda do governo, o que não significa que o governo da coligação PDD/CDS/PPM continue a ter a legitimidade política que tinha na génese da sua investidura. Não tem.
As interpretações podem ser as mais diversas, ou seja, com ou sem aprovação do orçamento regional para 2024 nada virá a ser diferente, o PSD/Açores mantém-se no governo, o CDS/PP e o PPM quanto ao assunto sacodem a água do capote para os partidos da oposição, em particular para o BE e para o PS, transferindo para terceiros as suas próprias responsabilidades. Por outro lado, não se vislumbra a apresentação de uma “Moção de Confiança” ou de uma “Moção de Censura” e, como tal, os órgãos de governo próprio da Região irão manter-se em funções até ao fim da legislatura, como se tudo se mantivesse como em 2020 quando o governo tomou posse. Esta é uma interpretação possível e legítima, mas outras são possíveis e igualmente legitimas.
Existe um dado objetivo que se alterou: - o governo da coligação não dispõe da maioria parlamentar que justificou a sua posse. Pode parecer apenas um pormenor, mas não é. O Senhor Representante da República validou, por este pormenor, a existência de uma maioria parlamentar e, em consequência disso a constituição do governo PSD/CDS/PPM. Tendo a premissa (o pormenor) deixado de existir cai, com ela, a legitimidade política do governo da coligação.
Ponta Delgada, 14 de novembro de 2023
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