terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

“O cheiro da tinta acalma-me,” …

 

“A Força das Sentenças” retrata uma dura realidade que afeta um número significativo de cidadãos e famílias. 

Este premiado romance de Pedro Almeida Maia, tendo como tema uma situação de doença irreversível não é, contudo, uma narrativa misericordiosa, poderá ser esclarecedora e até didática para quem cuida (família ou instituições), mas não assume, em momento algum, um caráter de comiseração nem induz, outros sentimentos, que não sejam de respeito por quem é vítima da doença e por quem cuida. 

A narrativa é crua e dura sem ser indiferente ao drama que se abateu sobre um reformado professor e homem de Letras que continua a escrever como terapia para retardar a evolução da doença.

“(…) Não faço a mínima ideia do porquê de estar aqui a sangrar letras, números e símbolos, só sei que ajuda. A mente deixa de mentir e o pânico descruza os braços, à procura da próxima vítima. Deixá-lo ir! (…)”

“(…) O cheiro da tinta acalma-me, o som da esfera a escorregar seduz-me, a imagem desta imensidão da folha vicia-me. E enquanto as linhas deslizam e se cruzam e se tocam e se beijam e se amam e se orgasmam, eu vivo mais um pouco. (…)”

A estrutura e a construção narrativa aliciam e a leitura flui como um rio para a foz.

“(…) A nossa mente não sabe o que é a felicidade, nem sequer do que necessitamos para ser felizes. É um estado de graça que só reconhecemos quando o habitamos. (…)”

Pedro Almeida Maia tinha este tesouro guardado, mas em boa hora lhe deu uso público.

Os leitores agradecem.


Aníbal C. Pires, Arranhó, 13 de fevereiro de 2024


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