imagem retirada da internet |
Se considerarmos, apenas a Região Autónoma dos Açores, a situação é ainda mais gravosa. Para o comprovar basta atentar aos indicadores sociais e económicos, descodificá-los, procurar pelas razões (opções políticas) que lhe estão na origem e que a autonomia regional nunca quis ou soube resolver.
Houve um tempo em que, por força das responsabilidades políticas que detive, fazia as análises dos resultados eleitorais logo que eram conhecidos. Deixei de o fazer e, a norma tem sido evitar emitir opinião, no imediato, mas também depois de alguma reflexão. Desta vez vou quebrar a regra e tecer algumas considerações sobre as escolhas dos eleitores e o que daí adveio, mas também sobre eventuais cenários que possibilitem a formação do futuro governo, o seu significado e o que daí pode resultar para o futuro destas ilhas e deste povo.
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A vitória da coligação PSD, CDS e PPM, como era expetável, foi “expressiva”, mais 5300 votos que a soma dos votos obtida pelos três partidos em 2020 e, o mesmo número de deputados, ou seja 26 (em 2020 o PSD elegeu 21, o CDS 3 e o PPM 2) ou seja, a vitória tem um sabor agridoce: faltam 3 deputados para a maioria absoluta. Contas feitas o PSD, o CDS e o PPM, não têm razões para grande contentamento.
foto de Aníbal C. Pires |
Ainda antes de me referir a outros resultados importa dizer que este cenário implica, sempre, o necessário apoio do Chega para que a coligação de direita possa vir a manter-se no poder, isto se a opção, passar por formar um governo minoritário, pois, mesmo com o eventual apoio da IL (um deputado) e do PAN (um deputado) isso perfaz, apenas, vinte e oito deputados, faltando um para a maioria absoluta, de onde resulta que o Chega será sempre determinante na sobrevivência de um governo da coligação PSD/CDS/PPM, ou para a formação de uma coligação governamental alargada ao Chega.
As declarações de José Manuel Bolieiro e de José Pacheco, na noite eleitoral, valem o que costumam valer: muito pouco; é por estes dias que tudo se irá resolver e encontrar justificações para que seja encontrada uma solução governativa, pois, não estou em crer que a coligação abdique do poder e, muito menos que o Chega queira desperdiçar o resultado que obteve e poderá, num outro cenário, não voltar a repetir-se.
Sobre a gestão que o PSD/CDS/PPM irá fazer para formar governo com ou sem o Chega, abstenho-me de fazer qualquer comentário, embora considere que o PSD tem aqui, mais uma vez, uma situação muito delicada para gerir internamente. Quanto ao CDS e ao PPM é indiferente, desde logo, por não existirem enquanto partidos para além dos líderes e, por outro lado, pelo oportunismo político que os carateriza e da sua disponibilidade para tudo aceitar e não serem arredados do poder que, em 2020, lhes caiu no colo.
foto de Aníbal C. Pires |
O resultado do BE não me surpreendeu. Perdeu um deputado e mais de mil votos. A inconsistência política deste agrupamento partidário e passado que foi o auge de resposta às agendas dos movimentos sociais inorgânicos, justifica o seu declínio eleitoral nos Açores.
Por fim algumas palavras sobre os resultados obtidos pela CDU (coligação PCP/PEV). Ao contrário do sempre anunciado e desejado não submergiu eleitoralmente, tendo mesmo aumentado ligeiramente o número de votos, ainda que não tivesse sido suficiente para a eleição de um deputado.
A CDU é a terceira força política mais votada em quatro (Corvo, Flores, Faial e S. Jorge) das nove ilhas açorianas o que não é um dado de somenos importância e comprova uma dimensão regional que outros partidos não dispõem e que beneficiaram do voto urbano de Ponta Delgada para garantir a eleição de um deputado.
Passada a euforia da noite eleitoral e dos discursos inflamados abate-se a realidade sobre os vencedores e os perdedores e, afinal, o que mudou foi muito pouco. As mesmas forças políticas representadas na ALRAA. O PSD/CDS/PPM a depender de terceiros, politicamente pouco confiáveis, para sobreviver. A esperada continuidade das políticas que colocam em causa a sustentabilidade de um modelo de desenvolvimento inclusivo e de promoção do bem-estar para quem aqui reside e trabalha.
Ponta Delgada, 6 de fevereiro de 2024
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