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As minhas inquietações avolumam-se com as notícias dos primeiros dias do ano. A quantidade de assassinatos resultado de atos protagonizados por indivíduos e que nos são apresentados como iniciativas pessoais, ainda que o sejam, advêm sempre de motivações geradas pelo doutrinamento que nos desumaniza.
Ao fim do quarto dia do ano de 2025 já se tinham registado seis tiroteios nos Estados Unidos e, pelo menos um, no Montenegro, isto para não referir as viaturas lançadas sobre a multidão, ou ainda a explosão de um carro da Tesla defronte da Trump Tower em Las Vegas que, segundo a polícia estado-unidense configura uma tentativa de ataque terrorista. Mas também o genocídio na Palestina, o recrudescimento do neonazismo, a manutenção de situações coloniais, o imperialismo, o branqueamento de elementos do ISIS na Síria (apararam-lhes a barba e vestem-nos de fato e gravata), a lista é interminável, julgo, porém, ser suficiente para justificar a minha inquietude face ao futuro próximo.
Sinto muito não ter aberto este primeiro texto de 2025 com outros termos e temas, mas para quê tentar mascarar a realidade com palavras de circunstância que nos remetem para a dormência. Ficar apenas pela espera e pela esperança é pouco, ou nada, pois sem ação transformadora fica tudo como está, e não está bem.
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A minha inquietude não me impede de continuar a caminhar na busca de transformações que humanizem o nosso Mundo, mesmo sabendo que o caminho é longo e pedregoso. Se as razões que alimentam as minhas preocupações são enormes e a luta é contra um poder que parece indestrutível, também sei que a história nos ensina que mesmo o que parecia ser inalterável foi derrubado.
A esperança, sem ficar à espera que aconteça, é alimentada na resistência dos indivíduos e povos que levantam a sua voz e agem contra os donos do Mundo e essas fileiras engrossam, ainda que a comunicação social de “referência” oblitere a sua ação, ou a deturpe por análises unilaterais ancoradas numa visão do Mundo que nos tem encaminhado para a desumanização e o egocentrismo. Um Mundo que não é, nem quer ser, domesticado nem aderir a um certo modo de vida, tem o seu, pensa e atua fora da esquadria do eurocentrismo.
Um dos exemplos que alimentam a minha caminhada é a libertação de territórios e povos do jugo colonial e do imperialismo.
O governo do México, presidido por Claudia Sheinbaum, tem vindo a afirmar-se no contexto geográfico do continente americano como um exemplo de boa governação e de libertação das pressões e ameaças do seu vizinho do Norte, libertando-se, em definitivo, dos laivos neocoloniais espanhóis e, dando continuidade e reforçando alguns dos aspetos mais relevantes da governação do seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador.
O Mali, o Burkina Faso e o Níger, antigas colónias francesas, deram início a um processo de rutura de relações e acordos com a França. O fim de bases militares francesas e de acordos comerciais de exportação de minérios, fundamentais ao sistema energético francês, bem assim como a criação de uma moeda própria e o abandono do franco CFA que representa uma herança colonial, mas também uma tributação ao colonizador. Se bem que o Mali já não usava o franco CFA, mas outros países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), utilizam como moeda oficial o franco CFA, mormente a Guiné-Bissau, antiga colónia portuguesa. A presença militar francesa é também indesejável no Chade, Costa do Marfim e Senegal, cujos presidentes disso deram conta nos últimos meses. Deixo estas referências com o propósito de dar relevância às dinâmicas dos movimentos pan-africanos e a o recrudescer da luta anti-imperialista.A maior preocupação para os globalistas, entendidos aqui com um movimento apoiado pelas elites que promove a padronização, é a emergência de movimentos como o que atrás referi, mas sobretudo pela dimensão e modelo de relacionamento económico que os BRICS propõem, ou seja, o respeito pela soberania dos estados e dos povos e o multilateralismo, o que contraria os interesses do mundo unipolar que o Norte global representa. Sobre os BRICS a comunicação social pouco nos diz, mas em bom rigor esta associação agrega mais de 50% da população mundial e um PIB (vale o que vale) superior ao PIB do G7. Os BRICS não são a solução milagrosa para os problemas que afetam a nossa casa comum e, no seu seio, nem tudo são rosas, mas nem por isso deixam de representar uma nova abordagem nas relações internacionais fora da opressora e belicista linha eurocentrista e atlantista, o que em si mesmo representa um contributo para pôr fim ao mundo unipolar que nos tem sido imposto pelos globalistas com todos os prejuízos que são conhecidos, como por exemplo as guerras em curso e a ingerência nos assuntos internos de estado soberanos colocando em causa a própria vontade popular expressa eleitoralmente, como se verificou recentemente na Roménia.
Ponta Delgada, 7 de janeiro de 2025
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