sexta-feira, 26 de junho de 2009

Passe coisa e tal

Em torno da proposta apresentada pelo Deputado Alexandre Pascoal, da bancada do PS Açores, sobre a criação de um passe para transportes públicos realizou-se uma verdadeira campanha de desinformação. Tentou-se passar para a opinião pública a ideia que se estava a criar um passe social quando, na realidade, se tratava apenas de um passe combinado destinado às ilhas da Terceira e São Miguel.
Um passe social é, por definição, um mecanismo de compensação aos custos, com vista à redução de preços para o utente. Entende-se que, devido à importância social e económica do transporte público, o estado deve apoiar esse custo como forma de garantir o direito à mobilidade dos cidadãos.
Ora, na proposta apresentada pelo PS prevê-se apenas criar um bilhete que, permitindo um número ilimitado de viagens durante um determinado período, permite também viajar em vários operadores de transporte rodoviário. Nada se prevê em termos de garantir que esses “passes” são acessíveis. Será talvez um passe combinado ou, mesmo, um passe intermodal… Mas um passe social é que não é com certeza! Apesar das intenções do seu autor, a proposta acaba por ficar apenas à superfície e não aborda seriamente os problemas reais dos transportes públicos na Região
Sem entrar noutros temas complexos, como seriam a integração de sistemas de transportes rodoviários, aéreos e marítimos, o grande problema é que na maior parte das ilhas, o transporte terrestre de passageiros, com exclusão do transporte escolar, é virtualmente inexistente. Os operadores concentram o essencial das suas frotas no rendoso e garantido negócio do transporte escolar – utentes garantidos, pagamento garantido! –, deixando o serviço de passageiros para o papel de parente pobre da sua actividade.
É preciso quebrar este ciclo vicioso em que estamos mergulhados: Quanto menos transportes existem mais as pessoas recorrem à viatura individual. Quanto mais as pessoas recorrem à viatura individual, menos transportes existem porque não há procura!
Ou seja, precisamos de, por um lado, criar oferta de transportes, por via dos contratos de serviço público. E, por outro, de garantir que os preços praticados são suficientemente atractivos para que valha a pena deixar o carro em casa, o que só se consegue por via de um verdadeiro passe social. E sobre isto o PS nada propõe e o Governo Regional nada diz.
Apesar das suas boas intenções e inocentes expectativas, o Deputado Alexandre Pascoal, teve azar. A verdade é que foi a própria bancada do PS Açores que veio confirmar que não havia, de facto, nenhuma intenção de criar um passe social, no sentido próprio do termo. Derrotada a intenção da sua proposta, ficou o Deputado Pascoal apeado nos seus objectivos. Seria caso para dizer, glosando Luís de Camões: Pascoal perdeu o passe, não há mal que lhe não venha!
Aníbal C. Pires, IN Expresso das Nove, 26 de Junho de 2009, Ponta Delgada

2 comentários:

Maria Margarida Silva disse...

A política do Governo não tem sido conduzida (outra coisa não seria de esperar…) de forma a fomentar o transporte colectivo e desincentivar o recurso ao transporte individual. Pelo contrário! E porquê? Para apadrinhar e alimentar o peixe graúdo, como já é hábito!
O recurso ao transporte individual tem-se sobreposto ao transporte público, servindo claramente para agravar os problemas dos transportes, em vez de os resolver.
O que foi feito para melhorar e minimizar os custos das ligações inter-ilhas e para o Continente?
A questão dos transportes é indispensável, básica.
Carlos Ribeiro, aquando da sua visita ao nosso arquipélago, disse e MUITO BEM que “a Europa tem investido milhares de milhões de euros em auto-estradas e ferrovias.” “Nós também somos Europa! Os transportes aéreos e marítimos são as nossas auto-estradas.”- acrescentou.

Mais e melhor serviço público, para quando?

Um abraço.
margarida

AGRY disse...

Queria pedir-te que passasses pelo Solidário! Eu sei que ainda não é Natal! Importas-te?
Obrigado