segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Pontos de vista


É tempo de balanços, de avaliações e de projeções. Não vou fazer o provável, não gosto de ir com a corrente, prefiro ir contra. Contra a corrente, contra o que é usual, contra o que é comum. Sempre assim fui, não apareceu com a idade, também não é um dom ou uma bênção até porque deste “mau feitio”, com que a vida me proveu, não revertem quaisquer benefícios materiais a meu favor mas, ainda assim, não troco este meu modo, para muitos um jeito estranho de ser e estar na vida, por outra forma de agir. Se o fizesse iria obstar toda a herança que me foi confiada por quem me deu vida e me ensinou a ser quem sou.
Como já perceberam, embora seja o tempo de o fazer, não vou passar o ano em revista, não vou destacar nenhum acontecimento em especial, não vou fazer qualquer premonição para o futuro próximo. Se estavam à espera, lamento a desilusão que possa ter provocado. Deixo essa tarefa para quem queira fazê-lo, não faltará por aí quem, e, certamente muito melhor que eu. 
Deixo-vos algumas palavras, as palavras que livremente se quiserem soltar do pensamento ao longo desta tarde cinzenta de Inverno pintada. Não serão palavras de esperança, não que me falte confiança num porvir diferente, mais justo, mas porque nesta quadra em que um ciclo anual dá lugar a outro, os jornais, as rádios e as televisões vulgarizam a palavra e esvaziam o conceito. Recuso juntar a minha voz ao coro conjuntural e frívolo que se esquece dos males do Mundo e dos seus habitantes todas as outras quadras do ano.
Gosto da diferença. Não faço dela uma doutrina, mas gosto. Gosto da diversidade de opinião, gosto da diversidade biológica, gosto da diversidade cultural, gosto da policromia do arco iris, gosto de descontinuidades, gosto do Inverno e do Verão, gosto da planície e da montanha, gosto do “patinho feio” e de “ovelhas negras”. Não olho a vida apenas de um ponto de vista ou do ponto de vista de alguns iluminados, procuro vários pontos de vista para a olhar e compreender e conto, para isso, com o ponto de vista de outros, iluminados ou não. 
Rejeito liminarmente olhares unilaterais e verdades absolutas, génese de todas as inevitabilidades e medos. Receios que se instalam, sem barreiras, à sombra da ignorância e da estupidificação, fomentadas em nome dos valores da liberdade individual e da atomização dos indivíduos mas que resulta na uniformidade do pensamento, na padronização dos hábitos e do consumo. É a democracia a transformar-nos mais iguais, na desgraça. Mais pobres, mais desempregados, mais excluídos. Não gosto e não aceito esta, e outras inevitabilidades que globalizam o empobrecimento dos indivíduos e dos povos e promovem a acumulação da riqueza pelos mesmos de sempre. 
Bom Ano!
Ponta Delgada, 30 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 31 de Dezembro de 2012, Ponta Delgada

domingo, 30 de dezembro de 2012

Sem palavras, em S. Miguel








segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O encanto dos sonhos


Corria para mim de braços estendidos, vinha lavada em lágrimas e a soluçar lamentando-se, Avô, avô o Pai Natal não existe foi a mãe que comprou e pôs as prendas ao pé da árvore. Acolhi-a nos meus braços, sentei-a no meu colo e abracei-a. Conhecia bem o que a Maria Benedita estava a sentir. Também eu, um dia, passei pelo mesmo, eram outros tempos e outras estórias, o mesmo desapontamento. Da memória chegou ao presente aquele dia em que me senti despeitado, magoado por quem mais me amava e me queria bem. O dia em que percebi que não era o Menino Jesus a visitar todos os lares deixando uma prenda no sapatinho. Sim, o Menino Jesus porque esse papel nem sempre foi, na tradição portuguesa, atribuído ao Pai Natal, nem a Árvore fazia parte da encenação natalícia. No tempo e lugares da minha infância as ofertas eram depositadas no sapatinho colocado, na noite da consoada, em lugar estratégico e acessível ao Deus-menino.
Limpei-lhe as lágrimas e o nariz que gotejava tanto como os seus olhinhos, tamanha era a mistura de sentimentos que invadiam aquele pequeno coração que batia acelerado por incompreensíveis contradições. Enquanto lhe afagava o cabelo e lhe depositava carinhosos beijos no rosto rosado, dissimulava uma lágrima que teimava em aflorar nos meus olhos vinda de um passado já bem distante mas que hoje, como quando há alguns anos a Margarida fez a mesma descoberta, está bem presente, e dizia-lhe, Benedita o avô vai-te explicar a estória do Natal e todas as estórias que os adultos inventam e inventaram sobre o Natal e o Pai Natal.
Atrás da Benedita tinha vindo toda a comitiva familiar, pedi-lhes que nos deixassem tendo, porém permitido que a Margarida e o João, os outros netos, ficassem. Precisava do apoio de alguém. Alguém que falasse a linguagem que só as crianças conhecem, e sentisse, pela proximidade temporal, a dor e a mágoa da neta que se tinha refugiado nos meus braços. Pensei para comigo, fui cúmplice também eu estou eivado pela culpa, ainda assim foi em mim que ela procurou refúgio e conforto. Confiou, como mais tarde, daqui a pouco, voltará a confiar na mãe e no pai quando perceber, como todos os meninos e meninas acabam por perceber e aceitar que, a representação que lhes é construída, durante a infância, sobre o ritual das ofertas de Natal, não é mais do que colorir com uma paleta de sonhos e magia aqueles dias que antecedem o ritual da vida, vida celebrada no mundo católico pelo nascimento do Deus-menino, Jesus de seu nome próprio.
Como explicar a uma criança que ainda não completou 5 anos toda esta encenação concebida com o amor e carinho dos progenitores, como fazê-lo sem recorrer a elaboradas elucidações sobre o significado das dádivas trocadas nesta época do ano, da solidariedade, da importância da família e da amizade, como fazê-lo sem recorrer à figura de S. Nicolau ou, ainda sem recurso ao relato das comemorações pagãs ao Sol que pelo Solstício de Inverno celebram um novo ciclo de tempo. Como? Podia até, desconstruir a figura estereotipada do Pai Natal, introduzida no imaginário infantil por via da publicidade a um refrigerante e, vulgarizada pela globalização mediática, podia até falar-lhe da sociedade de consumo, que nos consome. Podia. Podia, mas o não o farei, tudo isso ficará para um outro tempo.
Não me pareceu que quer a Benedita e mesmo a Margarida, 4 anos mais velha, estivessem com disposição para tais histórias, muito menos o João que tinha acabado de completar 2 anos mas que por ali se mantinha solidário com a prima sem, contudo, perceber muito bem o porquê de tal alarido e choro, quando na sala havia muita luz e cor a emanar de uma árvore que tinha ao seu redor um amontoado de caixas que ele adivinhava terem no seu interior brinquedos, os brinquedos que ele tinha pedido ao Pai Natal.
E foi o João, enquanto eu ia pronunciando algumas interjeições denotando pouco à vontade para iniciar a justificação prometida, que deu uma preciosa ajuda quando disse à Benedita, Foi o meu pai que trouxe as prendas para mim, não foi o Pai Natal. O Pai Natal tem muito que fazer pois há muitos meninos e ele não pode ir às casas todas. Ora aí está, pensei para comigo, o Pai Natal simboliza todos os pais do Mundo, é portanto meus queridos uma imagem criada para nos representar a todos, todos os pais em todos os lugares do Mundo e, não é por acaso que ele se parece mais com um avô do que com um pai. A figura do Pai Natal é assim como se fosse o pai de todos os pais. 
A Margarida veio em meu socorro e concluiu, Sabes Benedita o Pai Natal é assim como a “Luna”, a “Branca de Neve” e o “Capuchinho Vermelho”, figuras de estórias que os adultos inventaram para as crianças lerem e aprenderem a sonhar. Não existem, ou melhor, existem. Existem no nosso imaginário, é assim como quando tu brincas com as tuas amigas e imaginam uma estória em que cada uma é um personagem diferente, no Natal os adultos ficam como se fossem de novo crianças e contam uma estória de magia, em que um simpático velhinho vindo de trenó das terras geladas do Norte distribui prendas por todos os meninos do Mundo. Ontem quando fomos passear à baixa da cidade viste quantas figuras de Pai Natal? Muitas, pois foi. Como o Pai Natal é uma figura da estória do Natal, podemos reproduzi-la em muitas outras figuras.
A Maria Benedita tinha ouvido atentamente, já não chorava, os seus olhitos brilhavam como de costume e, o sorriso regressou ao seu rosto de menina. Em jeito de conclusão disse-lhe, O teu Pai Natal de hoje e de todos os dias é a tua mãe e o teu pai.
Já conformada a Benedita olhou-me e perguntou, Avô contavas essa estória do Pai Natal aos teus filhos? Contava querida, contava sim. Quando o tio João era pequenino vestia-me de Pai Natal para distribuir as prendas e ele sentava-se no meu colo sem perceber que era eu e, mesmo sabendo que um dia o tio João ficaria triste e desiludido, como aconteceu hoje contigo, nunca deixei de o fazer e, sabes que mais, voltaria a repetir tudo de novo só para ver os olhinhos do tio João a irradiar de alegria, assim como os teus e os da Margarida ficam quando estão muito contentes.
Nesta altura já o pequeno João, com todo o seu pragmatismo, se tinha ausentado para o espaço onde o Natal acontecia, na cozinha de onde vinham os aromas do assado e da doçaria e na sala decorada pela avó, onde predominavam figuras de Pai Natal de vários feitios, dimensões e até sabores, para além da tal árvore, também ela importada para a minha tradição familiar, onde pequenas lâmpadas de várias cores davam ao ambiente o necessário toque cénico a uma certa forma de celebrar a vida, seja pelo nascimento de uma criança, seja porque por estes dias se iniciou um novo ciclo do tempo e da renovação.
Quando, a Margarida e a Benedita saíram, levantei-me e procurei alguns livros onde sabia ia encontrar escritos alusivos ao Natal, facilmente encontrei. Anotei dois poemas para um dia ler aos meus netos ou, se já o não puder fazer, para que eles um dia os leiam. Natal, de Miguel Torga e, Natal, e não Dezembro, de David Mourão Ferreira. 
Depois. Bem, depois fui ter com o Pai Natal para o ajudar com as prendas da Margarida, da Benedita e do João, no caminho cruzei-me com os Reis Magos, com S. Nicolau e com a Deusa do Yule que me presenteou com um ramo de azevinho. 
Ponta Delgada, 23 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 24 de Dezembro de 2012, Ponta Delgada 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Pelo norte de S. Miguel






Alguns registos fotográficos feitos hoje durante a tarde numa breve incursão à Lagoa de S. Brás.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A morte saiu à rua - José Dias Coelho

José Dias Coelho

Passam hoje 51 anos que o pintor, José Dias Coelho, morreu às mãos da PIDE e, porque há quem nos queira apagar a memória  fica este tributo ao artista militante e ao militante revolucionário.
José Afonso cantou esse dia no tema "A morte saiu à rua num dia assim"
Porque há quem nos queira apagar a memória.

A pedra Maia


Estamos cada vez mais próximos daquela data mítica que um povo da América Central – ao que parece davam pelo nome de Maias – determinou, já lá vão uns anitos, como sendo o fim do Mundo ou, pelo menos, assim foram interpretadas até há bem pouco tempo, isto porque, explicações mais recentes atribuem outros significados às inscrições na famosa pedra em que os Maias esculpiram um complexo calendário, 
O certo é que o dia 21 de Dezembro está a ser alvo de um interesse incomum e, sobre o tema se programam diversas atividades. Cá por mim farei o que sempre fiz, por estes dias acontece o Solstício de Inverno no hemisfério Norte. Por aí me fico a celebrar o início de um novo ciclo da vida. Celebrar o Sol e tudo aquilo que representa para a vida na Terra. Assim o fazem os homens desde sempre.
Mas, voltando ao fim do Mundo eu diria que, o Mundo tal como o conhecemos na Europa ou, se preferirem no denominado Ocidente, está a chegar ao fim. Não direi que acabou que se finou mas, este o Mundo das nossas representações está moribundo.
O sentimento que a nossa sociedade, tal como a construímos num complexo e árduo processo de evolução social, está a definhar e sofre um processo de mutação começa a ser comum e preocupa-nos. 
Partilho, obviamente, da preocupação comum mas preocupo-me muito mais com a resignação e a subserviência que se instala nos cidadãos perante a terapia prescrita para salvar o nosso Mundo. O procedimento não é novo, o medicamento é bem antigo e, apesar de toda a evolução científica e tecnológica o princípio ativo não sofreu nenhuma alteração. O FMI está para a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores, como o ácido acetilsalicílico está para a aspirina, são indissociáveis e imutáveis.
Sei que a rutura com o paradigma capitalista a que nos fomos habituando não é uma ideia confortável. Quem não receia as ruturas!? Mas, pensando bem! Como é que se pode designar o processo político, económico e financeiro que se vive em Portugal, na Europa e no Mundo Ocidental senão como uma rutura. Rutura com o Estado Social. E, quando há uma rutura com um modelo um outro se instala.
Neste caso está a instalar-se, em definitivo, a denominada “crise”, aliás este vocábulo faz parte do léxico quotidiano dos portugueses há vários anos, diria mesmo décadas. Julgo ser tempo de começar a chamar as coisas pelos nomes: a isto não se chama crise, chama-se capitalismo num estado próximo da sua pureza. É este modelo selvagem de organização social, económico e financeiro das sociedades que se está a instalar no nosso Mundo.
Ponta Delgada, 18 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 19 de Dezembro de 2012, Angra do Heroímo

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Bem haja! A propósito do "Regresso da política"


Já fazia tempo que nenhum escriba de serviço me dedicava atenção. E isso, meus caros, era preocupante mas a minha apreensão mediática terminou hoje. 
Afinal sempre há por aí quem esteja atento ao que digo e ao que defendo. Na edição de hoje do Diário Insular um dos eméritos comentadores, analistas, politólogos, enfim “qualquer coisa”, resolveu dar-me alguma atenção. Que felicidade, meus Deus! Como é bom sentir que o Paulo Noval se preocupa com o camarada açoriano e com a atividade do PCP nos Açores.
Estas linhas são assim ao jeito de agradecimento a tão ilustre personalidade que descendo do alto da sua imensa sabedoria e capacidade de análise veio partilhar connosco a leitura que faz destes primeiros meses, semanas, dias do pós eleições...
A argumentação!? Fundamentada, consistente, inatacável... brilhante, direi mesmo. Para se perceber melhor, e como se pode constatar no texto, o distinto articulista até se socorreu do exemplo da Coreia do Norte e de Cuba para melhor expressar a sua opinião sobre o PCP nos Açores o que dá ao escrito uma caraterística muito própria. E a imparcialidade!? Notável, aliás como se pode constatar logo nos primeiros parágrafos.
Quanto ao conteúdo do texto “O regresso da política”, algumas incorreções, mas que importa isso, importante mesmo é o caminho que o escriba está a percorrer. Um dia alguém se vai lembrar dele, é o que espera(va) o Paulo Noval, a quem desejo um Bom Natal. 
Rimou e é um voto sentido, continue assim, meu caro, a publicidade para mim é indispensável e, quanto a si, mais tarde ou mais cedo alguém vai reparar no seu valor. Eu não tenho nada para lhe oferecer, para o compensar, mas há por aí quem tenha.

PS=> Peço desculpa por não lhe dedicar uma coluna no jornal mas, como por certo compreenderá, guardo aquele espaço para outras minudências.

O texto "o Regresso da política" pode ser lido aqui

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O encanto dos lugares


Foto by Aníbal C. Pires
De pretextos se fazem escolhas ou, à falta de melhor justificação se arranjam os subterfúgios para furar a rotina e o sedentarismo. A semana passada foi a pretexto da exposição de trabalhos de um velho amigo e colega de profissão, que me libertei das grilhetas do tempo para ir ao encontro dele. Esta semana foi com a justificação de uma atividade de ar livre, assim como uma espécie de caça ao tesouro dos tempos do “GPS”, que fui até à Ferraria.
Para quem nunca visitou ou, porventura nunca tenha ouvido falar direi que, segundo o sítio da internet do Geoparque Açores, a Ferraria ou Ponta da Ferraria: “é uma fajã lávica formada por escoadas lávicas basálticas emitidas do cone de escórias do Pico das Camarinhas, há 870 anos. Entre as diversas estruturas vulcânicas deste geossítio, são de referir: o cone litoral (ou pseudocratera), a nascente termal submarina de 62º C e xenólitos ultramáficos.”
Para mim que sou leigo nestas matérias da geologia e da vulcanologia direi apenas que a Ferraria é uma linda e singular fajã na costa sudoeste da ilha de S. Miguel onde, quer no Verão quer no Inverno, vale a pena ir e estar durante algumas horas.
E foi assim que fiz. Hoje, fui à Ferraria e por ali fiquei algumas horas enquanto os meus companheiros de viagem (filho e esposa) foram à descoberta do tesouro no Pico das Camarinhas que, como já devem ter percebido, fica sobranceiro à dita Ponta da Ferraria. Não deixa de ser importante referir que o estado do tempo era, segundo a meteorologia, vento forte de Sudoeste, aguaceiros e ondulação de Oeste com 6m, ou seja, o tempo estava, em todos os seus parâmetros, invernoso. E assim era, ou pior!
À Ferraria tinha ido por várias vezes com outras condições meteorológicas, aliás como fazem a maior parte dos cidadãos que, normalmente, a procuram para banhos de mar, atividade que hoje era impraticável devido à forte ondulação que se fazia sentir. Ainda assim, e porque na Ferraria funcionam umas termas, sempre por lá encontrei quem se banhasse, não no enfurecido Atlântico, mas numa piscina anexa ao complexo termal que ali funciona.

Foto by Aníbal C. Pires
O furor dos elementos dava ao local uma ambiência dantescamente bela. O negrume da lava contrastava com a alvura da espuma salgada que se elevava no ar a cada investida do mar. O vento e a chuva fustigavam-me a face, a ondulação arremetia violentamente na costa, como se o mar quisesse conquistar um espaço outrora seu. 
Tudo procurei registar em imagens, sons e palavras que aqui e noutros suportes de comunicação vou tentar reproduzir. Mas porque, Tudo não é obra para um homem só e, quiçá, porque cada homem é único, nada como descer o escarpado e sinuoso acesso à Ponta da Ferraria e deixar que os sentidos se entranhem do encanto e da fabulosa magnitude daquela singular fajã lávica.
Ponta Delgada, 16 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 17 de Dezembro de 2012, Ponta Delgada 

domingo, 16 de dezembro de 2012

A Sudoeste na costa de S. Miguel










(...) O furor dos elementos dava ao local uma ambiência dantescamente bela. O negrume da lava contrastava com a alvura da espuma salgada que se elevava no ar a cada investida do mar. O vento e a chuva fustigavam-me a face, a ondulação arremetia violentamente na costa, como se o mar quisesse conquistar um espaço outrora seu. (...) Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 16 de Dezembro de 2012


Santa Maria - imagens sem palavras















quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ravi Shankar (1920-2012)


Ravi Shankar deixou-nos hoje. O momentos não podia deixar de lembrar este músico indiano que projetou a música do seu país nos palcos do Mundo.
Aqui podem ver e ouvir o grande mestre da cítara.

Desistência na linha de partida


O aprofundamento da crise económica e o agravamento das políticas de austeridade têm tido um efeito extremamente negativo na economia regional. 
A redução dos rendimentos, a par do aumento dos encargos das famílias tiveram impacto direto sobre o poder de compra e sobre o consumo, limitando seriamente as vendas das empresas, acentuando enormemente o desemprego e contribuindo para paralisar a atividade económica. Estando muitas destas medidas a ser tomadas em Lisboa, é essencial que os órgãos de governo próprio da Região assumam a plenitude das suas competências para minorar este quadro recessivo, reativar a atividade económica e atenuar, no uso das competências autonómicas, as dificuldades diárias dos açorianos e das empresas regionais.
Entre as despesas mais significativas a que as famílias e as empresas estão sujeitas, contam-se as que se relacionam com a respetiva fatura energética e, em particular, com os custos da eletricidade.
Sendo o estabelecimento dos valores anuais dos tarifários elétricos uma competência da ERSE, nada obsta a que a Região, na sua qualidade de acionista maioritário da EDA, SA, crie mecanismos que reduzam estes custos para os consumidores finais de energia elétrica.
A análise da situação financeira da EDA demonstra claramente que é possível criar uma redução dos valores cobrados aos consumidores, sem com isso colocar em risco a solidez e os projetos de investimento da elétrica regional. A EDA tem beneficiado diretamente do aumento das tarifas decretado pela ERSE, cujo valor médio nos Açores, cresceu 14% entre 2006 e 2010, e tem apresentado anualmente resultados positivos que atingiram, no ano de 2010, valores na ordem dos trinta milhões de euros.
Parece assim ser de elementar justiça que estes lucros da empresa pública regional de eletricidade revertam, pelo menos em parte, para o bem comum da Região e contribuam para a dinamização económica dos Açores, um fator que a prazo reverterá para a própria EDA, em função da expansão do consumo energético que daí poderá decorrer.
Esta medida pode constituir um importante alívio para os orçamentos familiares e um apoio direto às empresas e à retoma das atividades económicas, ao mesmo tempo que reforçará o seu poder competitivo e a capacidade da Região Autónoma dos Açores para atrair novos investimentos e oportunidades, com os resultados positivos que daí advirão para a economia, para o emprego e para a Região.
Foi com base nestes pressupostos que a Representação Parlamentar do PCP apresentou um Projeto de Resolução onde se recomenda ao Governo Regional que efetue as diligências necessárias para que a EDA, SA institua uma redução tarifária, especial e transitória, no valor de 10% sobre o valor mensal a faturar a cada cliente de eletricidade, independentemente do tipo e da potência contratada, para vigorar durante o ano de 2013 e a ser suportada financeiramente pelos proveitos da EDA, SA.
A esta proposta do PCP o Governo Regional, segundo o departamento de propaganda da Santana, também conhecido por GACS, respondeu que a proposta teria como efeito não a redução mas o aumento da fatura da eletricidade pois, segundo a mesma fonte, a ERSE viria a reduzir o valor da comparticipação que se destina à convergência do tarifário elétrico e, esse facto, contribuiria para o aumento do tarifário da energia elétrica na Região.
O que o Governo Regional e o seu departamento de propaganda não disseram foi que se recusam, desde logo, a tentar negociar com a ERSE uma eventual redução do tarifário elétrico nos Açores, ou seja, como afirmei na minha intervenção final aquando da discussão do Programa do XI Governo: “(...) ainda mal saído da linha de partida, este Governo desistiu. Desistiu de se preocupar com aqueles que são os mais centrais dos problemas da nossa Região: a recessão, o desemprego e o empobrecimento dos açorianos(...)”. Este Governo renuncia ao uso das competências autonómicas.
Angra do Heroísmo, 11 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 12 de Dezembro de 2012, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pretexto: quando o vidro toma forma, luz e cor


Conheci o Jeremias Tavares em 1983, ano em que o acaso me trouxe até à ilha do Arcanjo mas que a paixão transformou em opção de vida. Colegas de grupo disciplinar - hoje pomposamente Departamento - e de Escola, a Roberto Ivens, passado que foi o lapso de tempo necessário para quebrar ideias feitas, sobre quem vem de fora e quem aqui nasceu e sempre viveu, logo se iniciou a construção de uma sólida amizade que perdura, para lá dos percursos que cada um de nós foi trilhando, ao longo destes quase 30 anos. Amizade construída na cumplicidade e no exercício da profissão. Isto quando ser professor era um exercício de liberdade e criatividade e, quando a Escola para lá de transmitir saberes era uma incubadora de cultura e de exercício de cidadania.
Vivemos na mesma cidade mas raramente nos cruzamos. Os nossos caminhos há muito se afastaram. Foi a mudança de Escola, foi o fim dos encontros anuais de professores, foi a escassez de oportunidades, foi a vida escravizada pelo tempo.
Hoje ao fim da tarde libertei-me do tempo e fui visitar o Jeremias. Sabia onde encontrá-lo. Numa das salas do Hotel Avenida, em Ponta Delgada, o Jeremias Tavares expunha, uma vez mais, os seus trabalhos em vidro. Conhecia outros, os trabalhos em cerâmica, também presépios e outras temáticas, mas os de vidro não. Este foi o pretexto para sair à procura de um amigo que fazia tempo não abraçava.
O vidro tomou forma, luz e cor! Foi o que me ocorreu enquanto olhava cada objeto moldado pelo fogo e pela criatividade do artista. Artesão! Como o próprio faz questão de dizer quando se refere à sua atividade artística.
Depois de uma visita guiada à exposição com a explicação minuciosa das técnicas e dos materiais utilizados, porque o resto não se explica nasce do âmago do criador, foi incontornável uma rápida viagem ao passado. Aos elaborados e monumentais presépios da escola, aos seminários temáticos, ao convívio e, ao grandioso desfile do Carnaval de 1984 organizado pela Escola Roberto Ivens e que esteve na génese do Corso que as Escolas passaram a promover anualmente.
Foi um tempo em que a Escola fervilhava de ideias, um tempo de interação com o meio que a envolvia, um tempo em que se recuperavam e integravam os alunos num exercício pleno da função docente, sem a coação das coimas, sem a ameaça do corte de apoios sociais, um tempo de educação pela cultura, um tempo em que mais do que um momento se avaliava todo o percurso de aprendizagens, um tempo de respeito pelas diferenças e ritmos de cada aluno, um tempo em que tudo se relativizava e contextualizava sem a pressão da avaliação externa, interna e do desempenho, um tempo com tempo para ser professor, um tempo com tempo para crescer e aprender livre das amarras da ditadura dos números sem atributos, um tempo em que cada aluno era o centro de toda a atividade escolar.
E foi pouco, o tempo. Pouco mas suficiente para sentir que eu e o Jeremias continuamos a comungar do mesmo conceito de Escola e que a nossa amizade se continua a perpetuar no tempo. Foi bom estar com o Jeremias e com a sua arte. Fez-me bem este encontro com um amigo.
Ponta Delgada, 09 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 10 de Dezembro de 2012, Ponta Delgada

domingo, 9 de dezembro de 2012

Arte em vidro - Jeremias Tavares





Hoje ao fim da tarde fui visitar um amigo e colega. Vivemos na mesma cidade mas raramente nos cruzamos.
Numa das salas do Hotel Avenida, em Ponta Delgada, Jeremias Tavares mostra uma vez mais os seus trabalhos em vidro, são presépios e muito mais. As imagens que convosco partilho mostram alguns dos seus trabalhos, não deixem de visitar e conhecer este artesão do vidro e os seus trabalhos.
Conheci o Jeremias em 1983, ano em que me fixei por aqui, colegas de grupo disciplinar e de Escola (Roberto Ivens), passado que foi o tempo necessário (muito breve) para quebrar a barreira entre o continental e o ilhéu iniciou-se a construção de uma sólida amizade que perdura para lá dos percursos que cada um de nós foi trilhando ao longo destes quase 30 anos.
Foi bom estar com o Jeremias e com a sua arte. Fez-me bem este encontro com o amigo.

Quorum Ballet no Teatro Micaelense



Um excelente espetáculo dança sobre fado com "Quorum Ballet".
Foi ontem à noite no Teatro Micaelense.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Cacilda Medeiros - "Memórias"


"Memórias" é o nome da mais recente da exposição de Cacilda Medeiros que será realizada na Lagoa.  
A ter lugar no próximo dia 7 de dezembro, a partir das 20h00, e integrada no Mercadinho de Natal que a Câmara Municipal de Lagoa irá organizar entre os dias 7 e 9 de dezembro no Convento dos Franciscanos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer (1907-2012)


Oscar Niemeyer ausentou-se, ontem, aos 104 anos de idade.
Sinto-me incapaz de tecer considerações sobre o homem, o militante, o artista.
Ficam aqui e aqui ligações para dois outros posts e, duas frases da sua autoria que ilustram bem quem era Oscar Niemeyer.
Até sempre camarada!


"Enquanto houver miséria e opressão ser comunista é a nossa decisão!"
Oscar Niemeyer



"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."
Oscar Niemeyer