segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O encanto dos lugares


Foto by Aníbal C. Pires
De pretextos se fazem escolhas ou, à falta de melhor justificação se arranjam os subterfúgios para furar a rotina e o sedentarismo. A semana passada foi a pretexto da exposição de trabalhos de um velho amigo e colega de profissão, que me libertei das grilhetas do tempo para ir ao encontro dele. Esta semana foi com a justificação de uma atividade de ar livre, assim como uma espécie de caça ao tesouro dos tempos do “GPS”, que fui até à Ferraria.
Para quem nunca visitou ou, porventura nunca tenha ouvido falar direi que, segundo o sítio da internet do Geoparque Açores, a Ferraria ou Ponta da Ferraria: “é uma fajã lávica formada por escoadas lávicas basálticas emitidas do cone de escórias do Pico das Camarinhas, há 870 anos. Entre as diversas estruturas vulcânicas deste geossítio, são de referir: o cone litoral (ou pseudocratera), a nascente termal submarina de 62º C e xenólitos ultramáficos.”
Para mim que sou leigo nestas matérias da geologia e da vulcanologia direi apenas que a Ferraria é uma linda e singular fajã na costa sudoeste da ilha de S. Miguel onde, quer no Verão quer no Inverno, vale a pena ir e estar durante algumas horas.
E foi assim que fiz. Hoje, fui à Ferraria e por ali fiquei algumas horas enquanto os meus companheiros de viagem (filho e esposa) foram à descoberta do tesouro no Pico das Camarinhas que, como já devem ter percebido, fica sobranceiro à dita Ponta da Ferraria. Não deixa de ser importante referir que o estado do tempo era, segundo a meteorologia, vento forte de Sudoeste, aguaceiros e ondulação de Oeste com 6m, ou seja, o tempo estava, em todos os seus parâmetros, invernoso. E assim era, ou pior!
À Ferraria tinha ido por várias vezes com outras condições meteorológicas, aliás como fazem a maior parte dos cidadãos que, normalmente, a procuram para banhos de mar, atividade que hoje era impraticável devido à forte ondulação que se fazia sentir. Ainda assim, e porque na Ferraria funcionam umas termas, sempre por lá encontrei quem se banhasse, não no enfurecido Atlântico, mas numa piscina anexa ao complexo termal que ali funciona.

Foto by Aníbal C. Pires
O furor dos elementos dava ao local uma ambiência dantescamente bela. O negrume da lava contrastava com a alvura da espuma salgada que se elevava no ar a cada investida do mar. O vento e a chuva fustigavam-me a face, a ondulação arremetia violentamente na costa, como se o mar quisesse conquistar um espaço outrora seu. 
Tudo procurei registar em imagens, sons e palavras que aqui e noutros suportes de comunicação vou tentar reproduzir. Mas porque, Tudo não é obra para um homem só e, quiçá, porque cada homem é único, nada como descer o escarpado e sinuoso acesso à Ponta da Ferraria e deixar que os sentidos se entranhem do encanto e da fabulosa magnitude daquela singular fajã lávica.
Ponta Delgada, 16 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 17 de Dezembro de 2012, Ponta Delgada 

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