É tempo de balanços, de avaliações e de projeções. Não vou fazer o provável, não gosto de ir com a corrente, prefiro ir contra. Contra a corrente, contra o que é usual, contra o que é comum. Sempre assim fui, não apareceu com a idade, também não é um dom ou uma bênção até porque deste “mau feitio”, com que a vida me proveu, não revertem quaisquer benefícios materiais a meu favor mas, ainda assim, não troco este meu modo, para muitos um jeito estranho de ser e estar na vida, por outra forma de agir. Se o fizesse iria obstar toda a herança que me foi confiada por quem me deu vida e me ensinou a ser quem sou.
Como já perceberam, embora seja o tempo de o fazer, não vou passar o ano em revista, não vou destacar nenhum acontecimento em especial, não vou fazer qualquer premonição para o futuro próximo. Se estavam à espera, lamento a desilusão que possa ter provocado. Deixo essa tarefa para quem queira fazê-lo, não faltará por aí quem, e, certamente muito melhor que eu.
Deixo-vos algumas palavras, as palavras que livremente se quiserem soltar do pensamento ao longo desta tarde cinzenta de Inverno pintada. Não serão palavras de esperança, não que me falte confiança num porvir diferente, mais justo, mas porque nesta quadra em que um ciclo anual dá lugar a outro, os jornais, as rádios e as televisões vulgarizam a palavra e esvaziam o conceito. Recuso juntar a minha voz ao coro conjuntural e frívolo que se esquece dos males do Mundo e dos seus habitantes todas as outras quadras do ano.
Gosto da diferença. Não faço dela uma doutrina, mas gosto. Gosto da diversidade de opinião, gosto da diversidade biológica, gosto da diversidade cultural, gosto da policromia do arco iris, gosto de descontinuidades, gosto do Inverno e do Verão, gosto da planície e da montanha, gosto do “patinho feio” e de “ovelhas negras”. Não olho a vida apenas de um ponto de vista ou do ponto de vista de alguns iluminados, procuro vários pontos de vista para a olhar e compreender e conto, para isso, com o ponto de vista de outros, iluminados ou não.
Rejeito liminarmente olhares unilaterais e verdades absolutas, génese de todas as inevitabilidades e medos. Receios que se instalam, sem barreiras, à sombra da ignorância e da estupidificação, fomentadas em nome dos valores da liberdade individual e da atomização dos indivíduos mas que resulta na uniformidade do pensamento, na padronização dos hábitos e do consumo. É a democracia a transformar-nos mais iguais, na desgraça. Mais pobres, mais desempregados, mais excluídos. Não gosto e não aceito esta, e outras inevitabilidades que globalizam o empobrecimento dos indivíduos e dos povos e promovem a acumulação da riqueza pelos mesmos de sempre.
Bom Ano!
Ponta Delgada, 30 de Dezembro de 2012
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 31 de Dezembro de 2012, Ponta Delgada
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