Ao contrário do que é habitual neste espaço, onde abordo apenas um tema por semana, hoje vou dar nota, ainda que breve, de três eventos recentes. Dois deles por serem inusitados e até surpreendentes, um outro que se constituiu como uma agradável surpresa, muita satisfação e alguma saudade.
Inusitada e surpreendente foi a carta que o embaixador dos Estados Unidos, em Portugal, dirigiu ao governo Regional e ao governo da República solicitando a não declaração dos Açores como uma região livre de Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Não foi uma atitude curial do diplomata estado-unidense nesta iniciativa junto do Estado e da Região, desde logo porque o interlocutor do embaixador é o ministro dos Negócios Estrangeiros e, por outro lado esta iniciativa é uma clara tentativa de ingerência nos assuntos internos de Portugal. Então porquê esta diligência do senhor Allan J. Katz?
Só encontro uma, ou melhor duas ordens de razão para tamanho disparate. Primeira ordem de razão - comercial; o embaixador refere claramente uma semente de milho transgénico que é propriedade de uma empresa estado-unidense. Segunda ordem razão – o espírito imperial dos Estados Unidos.
Também as certezas absolutas, do Senhor Katz, sobre as vantagens daquelas “inofensivas” culturas sobre as quais pairam dúvidas, muitas dúvidas, são lamentáveis e denotam um interesse que vai para além do aceitável. O embaixador não soube sê-lo e ultrapassou, de forma inaceitável, as suas competências.
A declarada intenção do governo do PSD/PP de arrecadar, como receita da República, o valor dos cortes dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários da administração pública da Região só pode ser um lapso provocado pela ignorância, aliás alguns dos membros deste governo primam por isso mesmo: ignoram que os empresários portugueses há muito internacionalizaram o pastel de nata, ignoram a organização especial do Estado português que consagra na Constituição as autonomias regionais e fazem por ignorar o contrato social que estabeleceram com os eleitores.
Tenho vindo a afirmar que estamos a assistir à maior ofensiva ao adquirido autonómico de que há memória, este é apenas mais um facto a juntar a muitos outros que nos surpreenderam no passado recente. E lá vamos cantando e rindo que a crise, a crise, sim a crise, a troyka e a “bola de Berlim”, assim o exigem.
Que é feito da nossa autonomia e da nossa soberania!? Estamos ser ocupados, colonizados, estamos a ser vítimas de uma agressão externa, até o embaixador dos Estados Unidos se achou no direito de vir meter o nariz em assuntos que não lhe dizem respeito. Onde está, onde estão, o patriotismo, os patriotas!? Que é feito do Estado de Direito e do quadro de relacionamento institucional? Que República é esta? Das bananas. Talvez!
Um encontro com mais de uma centena e meia de jovens do 7.º, 8.º e 9.º ano de escolaridade da Escola Básica Integrada de Rabo de Peixe, realizado a convite da Escola e no âmbito do “Parlamento dos Jovens” deixou-me particularmente satisfeito e, a momentos voltei a acreditar. Acreditar que a Escola é, pode e deve ser, um instrumento de mudança.
Enquanto preparei o encontro com aqueles jovens fui assaltado por algumas dúvidas e preocupações, desde logo o nível etário o que exigia uma abordagem metodológica apropriada e com recursos a meios audiovisuais, o número de participantes e o espaço onde ia decorrer a iniciativa. A meu favor: o tema (Redes Sociais); e, um saber de experiência acumulada por mais de 3 décadas de ensino.
E não é que a iniciativa excedeu as minhas expectativas e as preocupações desvaneceram-se aos primeiros minutos, não por mérito meu mas pela sede de aprender que aqueles jovens demonstraram, pela atenção, pela participação, pela forma como se comportaram. A iniciativa durou mais de 1h30mn e não houve manifestações de enfado, bem pelo contrário houve até necessidade de “impor” o encerramento da iniciativa.
Hoje tive saudades da Escola, da Escola Cultural com que um dia sonhei e pela qual tanto trabalhei.
Ponta Delgada, 16 de janeiro de 2012
Inusitada e surpreendente foi a carta que o embaixador dos Estados Unidos, em Portugal, dirigiu ao governo Regional e ao governo da República solicitando a não declaração dos Açores como uma região livre de Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Não foi uma atitude curial do diplomata estado-unidense nesta iniciativa junto do Estado e da Região, desde logo porque o interlocutor do embaixador é o ministro dos Negócios Estrangeiros e, por outro lado esta iniciativa é uma clara tentativa de ingerência nos assuntos internos de Portugal. Então porquê esta diligência do senhor Allan J. Katz?
Só encontro uma, ou melhor duas ordens de razão para tamanho disparate. Primeira ordem de razão - comercial; o embaixador refere claramente uma semente de milho transgénico que é propriedade de uma empresa estado-unidense. Segunda ordem razão – o espírito imperial dos Estados Unidos.
Também as certezas absolutas, do Senhor Katz, sobre as vantagens daquelas “inofensivas” culturas sobre as quais pairam dúvidas, muitas dúvidas, são lamentáveis e denotam um interesse que vai para além do aceitável. O embaixador não soube sê-lo e ultrapassou, de forma inaceitável, as suas competências.
A declarada intenção do governo do PSD/PP de arrecadar, como receita da República, o valor dos cortes dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários da administração pública da Região só pode ser um lapso provocado pela ignorância, aliás alguns dos membros deste governo primam por isso mesmo: ignoram que os empresários portugueses há muito internacionalizaram o pastel de nata, ignoram a organização especial do Estado português que consagra na Constituição as autonomias regionais e fazem por ignorar o contrato social que estabeleceram com os eleitores.
Tenho vindo a afirmar que estamos a assistir à maior ofensiva ao adquirido autonómico de que há memória, este é apenas mais um facto a juntar a muitos outros que nos surpreenderam no passado recente. E lá vamos cantando e rindo que a crise, a crise, sim a crise, a troyka e a “bola de Berlim”, assim o exigem.
Que é feito da nossa autonomia e da nossa soberania!? Estamos ser ocupados, colonizados, estamos a ser vítimas de uma agressão externa, até o embaixador dos Estados Unidos se achou no direito de vir meter o nariz em assuntos que não lhe dizem respeito. Onde está, onde estão, o patriotismo, os patriotas!? Que é feito do Estado de Direito e do quadro de relacionamento institucional? Que República é esta? Das bananas. Talvez!
Um encontro com mais de uma centena e meia de jovens do 7.º, 8.º e 9.º ano de escolaridade da Escola Básica Integrada de Rabo de Peixe, realizado a convite da Escola e no âmbito do “Parlamento dos Jovens” deixou-me particularmente satisfeito e, a momentos voltei a acreditar. Acreditar que a Escola é, pode e deve ser, um instrumento de mudança.
Enquanto preparei o encontro com aqueles jovens fui assaltado por algumas dúvidas e preocupações, desde logo o nível etário o que exigia uma abordagem metodológica apropriada e com recursos a meios audiovisuais, o número de participantes e o espaço onde ia decorrer a iniciativa. A meu favor: o tema (Redes Sociais); e, um saber de experiência acumulada por mais de 3 décadas de ensino.
E não é que a iniciativa excedeu as minhas expectativas e as preocupações desvaneceram-se aos primeiros minutos, não por mérito meu mas pela sede de aprender que aqueles jovens demonstraram, pela atenção, pela participação, pela forma como se comportaram. A iniciativa durou mais de 1h30mn e não houve manifestações de enfado, bem pelo contrário houve até necessidade de “impor” o encerramento da iniciativa.
Hoje tive saudades da Escola, da Escola Cultural com que um dia sonhei e pela qual tanto trabalhei.
Ponta Delgada, 16 de janeiro de 2012
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de janeiro de 2012, Angra do Heroísmo
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