A SATA abandonou a ligação Funchal-Porto Santo, de Janeiro a Maio de 2014 esta rota de serviço público vai ser assegurada pela Aerovip, que aceitou o “convite” do Governo da República, pelo contrário a SATA, que também estava no pacote dos convites, declinou-o.
A Windavia é uma “companhia” de transporte aéreo cujo parto foi muito recente e não deixa de ser curioso que Pedro Bolinger, até há pouco tempo Diretor Comercial da SATA e responsável pela venda de charters e ACMIS da transportadora aérea regional, seja um dos mentores da Windavia, o seu Diretor-geral e detentor de parte substantiva do seu capital social. Importará saber quem são os restantes detentores do capital social desta nova operadora. Será, julgo eu, igualmente importante apurar que outros “dealers”, internos e externos à SATA, estão direta ou indiretamente ligados ao aparecimento da Windavia. A Windavia inaugurou uma ligação Funchal-Beja e, anuncia ainda para este mês o início de uma ligação, Funchal-Paris, a SATA anuncia o encerramento da sua base no Funchal, os trabalhadores foram informados pela comunicação social, a Windavia anuncia, num vídeo de apresentação, os objetivos para 2014. Três bases, Funchal, Lisboa e Paris, utilização de 6 aeronaves A 320, 4 mil voos, 40 destinos, 800 mil passageiros e 3000 toneladas de carga. Isto para 2014, julgo que ficou claro.
Tudo isto pode passar por um conjunto de coincidências, estranhas coincidências. Mas se a estes factos, juntar os rumores que vão circulando, mais estranho tudo me parece. Diz-se que Alberto João Jardim terá afirmado que, se a SATA queria abandonar a base do Funchal então que levasse tudo de uma vez, referindo-se à ligação Funchal-Porto Santo, mais antigas são as afirmações oficiais da intenção de reestruturar a transportadora aérea açoriana. Se juntarmos a estas coincidências, estranhas coincidências, o processo de revisão das Obrigações de Serviço Público (OST), em curso, para as ligações dos Açores com Lisboa, Porto e Madeira, as subsequentes revisões das OST para os transportes interilhas e a vontade política, do Governo regional e da maioria que lhe dá suporte, para a entrada de outras operadoras no mercado dos transportes aéreos dos Açores para o exterior, temos aqui um cenário, diria, maquiavélico. Cenário do qual não se augura nada de bom, nem para o Povo açoriano, nem para o erário público.
Face à situação de crise que se vive como é que o capital privado, sem ter garantia política e pública, investe no transporte aéreo da forma como a Windavia o está a fazer, mesmo considerando que não se trata propriamente de uma companhia mas mais de um operador, que compra horas à White e, ao que corre por aí a uma empresa da Letónia, ou seja a Windavia é, assim, como se fosse um ”broker” de vistas largas.
Julgo ser legítimo manifestar a minha estranheza para tantas coincidências e deixo outras interrogações e opiniões. Em que consiste a repetidamente anunciada reestruturação da SATA, alguém conhece sequer os seus contornos, Eu não, e não me parece que a generalidade dos cidadãos, alguns dos quadros superiores e os restantes trabalhadores da SATA conheçam uma linha, que seja, dos contornos da tal reestruturação.
Com encerramento da Base da Funchal, com fim da ligação Funchal-Porto Santo, com eventual encerramento da Base de Lisboa, com a necessidade de renovação da frota de longo curso, com o impacto da apresentação do Relatório de Contas de 2013, com a entrada da Windavia no mercado dos charters, mercado que também é (era) da SATA, com a revisão das OST, com tudo isto a reestruturação está quase completa, digo eu. Basta ao Governo Regional continuar a deixar que tudo isto aconteça para ter, sem custos políticos e outros, a anunciada e desconhecida reestruturação completa e, o Grupo SATA reduzido, em versão minimalista, à expressão regional.
A Aero Vip vai, a partir de 1 de Janeiro de 2014, assegurar as ligações entre o Funchal e o Porto Santo. Dizem-me que a SATA perderia umas centenas de milhares de euros durante os cinco meses de duração deste “convite”, sim foi por convite, não houve concurso. E eu não tenho dúvidas, é verdade, a SATA perderia algumas centenas de milhares de euros se tivesse aceitado o convite do Governo da República. Mas, há sempre um mas, ou mesmo mais do que um, qual é o prejuízo da SATA ao ter o avião imobilizado na placa da base em Ponta Delgada, pergunto eu. Porque não se rentabilizou, em devido tempo, aquela ligação de serviço público com a utilização de outra aeronave que efetuasse novas rotas, para o Sul da Macaronésia, ou para o Norte continental, ou ainda para o Leste Norte africano, pergunto eu. Estamos a falar da frota dos Dash, é claro, e da estrutura orgânica da SATA, no Funchal.
Ponta Delgada, 15 de Dezembro de 2013
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Jornal Açores 9, 16 de Dezembro de 2013, Ponta Delgada
Sem comentários:
Enviar um comentário