Não faltam assuntos intemporais, não faltam temas da atualidade, falta vontade de opinar sobre eles, Inquieto-me com este mal-estar que me desalenta, que me corrói a ousadia, que me deixa prostrado. Sei que daqui a nada este desassossego, que às vezes me quer vencer como a bruma destas ilhas, se vai transformar em renovada energia e determinação.
Nada de novo, há dias assim, pardos, sem horizonte e, a utopia precisa do horizonte para se alimentar, para caminhar. Gosto das neblinas e do que elas encobrem, são desafiantes as brumas, penetro-as caminhando atrás da utopia, gosto de reptos, alimento-me neles, é a adrenalina, Talvez. Ou apenas uma vontade imensa de encontrar o horizonte no meio do nevoeiro e, de novo, caminhar rumo à utopia.
Gosto de manhãs luminosas e de horizontes bem definidos, Sim também, Também gosto da luz suave do entardecer, luz que antecede o luar refletido no espelho de água atlântico, luz que prepara a noite de um novo dia.
Gosto da tempestade e da bonança, gosto da noite e do dia, gosto do Inverno e do Verão, gosto do contraditório.
Não, não gosto de verdades absolutas, não gosto da unilateralidade da história, não gosto da subserviência, não gosto da uniformidade dos costumes, não gosto da monotonia do pensamento único. Sim, gosto da diferença, sim gosto da liberdade transformadora que liberta os indivíduos e os povos.
Não gosto de falar, mas gosto de ouvir, gosto de observar, gosto de sentir a terra e o mar, gosto de escutar os sons do silêncio, gosto de ouvir a água correr por entre as pedras do riacho, gosto do som que emana das árvores agitadas pelo vento que sopra suave, vindo do Sul.
Gosto de desalinhados, rebeldes e insurgentes é com eles, com os insubmissos, com os revoltados, com os desadornados, é com eles que a humanidade cresce e se liberta.
Incomoda-me a intolerância, a história e o pensamento único, a injustiça, a desigualdade, a pobreza e a exclusão. Incomoda-me a fome que mata uma criança a cada três segundos. Incomoda-me a guerra e a unilateralidade, inquieta-me a inércia de quem não se incomoda. Inquieto-me com os incómodos de quem se inquieta com a liberdade, com a democracia, com o que é diferente, com a pluralidade e a diversidade. Incomodo-me com quem se aquieta perante as inquietudes do Mundo. Não me adapto, inquieto-me.
Gosto de escrever e faço-o para mim, mais para mim do que para os outros. Escrever exorciza-me, liberta-me. É na escrita que encontro espaço e tempo de reflexão, é na escrita que oiço os meus silêncios e expurgo as minhas contradições, é na escrita que me encontro e me desnudo.
Ponta Delgada, 28 de Janeiro de 2014
Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 29 de Janeiro de 2014
Foto=> Catarina Pires
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