As eleições para o Parlamento Europeu, nos Açores, estão imbuídas de algumas perversidades ancoradas numa falsa premissa. Alguns dos intervenientes não têm qualquer pejo em mentir aos açorianos e em subverter a própria natureza destas eleições, com a cumplicidade da comunicação social da Região, afirmando-se como candidatos a um inexistente círculo eleitoral dos Açores, ocultando que, para todos os partidos e coligações, há apenas uma lista e um círculo nacional. Uma coisa é um desejo, outra bem diferente é a realidade. Esta mentira, mil vezes repetida, tem tido reflexos negativos nas opções dos açorianos e na abstenção. Em 2009 os eleitores decidiram alhear-se das eleições para o Parlamento Europeu (PE) e 77% dos eleitores açorianos optaram pela abstenção.
Face a este cenário uma das principais tarefas e preocupações nos meses que medeiam até à realização das eleições para o PE terá que se centrar, para quem não gosta do limbo informacional que reina na Região, no esclarecimento. A informação tem de ser clara sobre a importância do PE, desde logo, porque é o único órgão da União Europeia (UE) eleito diretamente pelos povos europeus, mas também porque é no PE que se conformam as políticas que afetam, para o bem e para o mal, o nosso quotidiano.
A mentira e a confusão informacional feita por encartados comentadores ao serviço do PS, PSD e CDS vão muito mais longe. Para enganar o Povo açoriano pintam uma visão cor-de-rosa desta União Europeia, enquanto tentam ocultar o facto de que os muitos milhões de euros de fundos europeus investidos na Região ao longo dos anos não serviram para melhorar a vida dos açorianos, nem para superar os nossos défices estruturais.
Os Açores continuam, ao fim de muitos milhões e milhões de euros de fundos estruturais e quadros comunitários de apoio, uma das regiões mais pobres, mais isolada, menos produtiva, mais endividada, mais injusta e mais desigual da UE.
Os fundos europeus serviram, Serviram sim, para favorecer os grandes grupos económicos da Região, para alimentar clientelas políticas, para as grandes obras de fachada, fundamentais para ganhar votos, mas sem utilidade produtiva. Os fundos europeus serviram, nos Açores, sobretudo para tentar calar descontentamentos, para nos fazer aceitar a destruição da nossa agricultura, a desvalorização dos nossos produtos num mercado liberalizado e desregulado, para nos fazer aceitar a perda de 100 milhas de soberania sobre a nossa Zona Económica Exclusiva que a UE entrega à rapina das grandes frotas estrangeiras, que delapidam os nossos recursos naturais sem medida e sem controlo, à medida que os pescadores açorianos empobrecem.
Serviram para nos fazer aceitar a destruição da nossa indústria açucareira, manietada por acordos internacionais estabelecidos para o interesse das grandes economias europeias e não para proteger uma pequena indústria regional.
Serviram para nos fazer aceitar o isolamento, pois as regras europeias sobre a concorrência, não permitem que alegadamente se subsidie a transportadora aérea regional, de forma a garantir o direito dos açorianos à mobilidade e ao não isolamento.
Os fundos europeus, serviram para acabar com o nosso direito a produzir e a desenvolvermo-nos. Foi isto que a União Europeia capitalista deu aos Açores e é isto que as açorianas e açorianos têm de rejeitar nas próximas eleições europeias, penalizando eleitoralmente os partidos responsáveis pelas opções que nos conduziram à dramática crise que vivemos.
Ponta Delgada, 24 de Fevereiro de 2014
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 24 de Fevereiro de 2014
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