A situação social e económica que, nos últimos anos, atirou milhares de açorianos para o desemprego e para a emigração exige a adoção de medidas, pelos poderes públicos, que mitiguem os danos sociais e económicos, por conseguinte todas as ações e programas, ainda que casuísticas e conjunturais, são bem-vindas para atender às crescentes situações de emergência social. São bem-vindas mas não são suficientes. Atenuam o sofrimento dos cidadãos que estão privados do direito ao trabalho e ao rendimento mas não se constituem como solução transformadora. Não solucionam nem os problemas sociais, nem solucionam os problemas que afetam a economia regional e nacional, adiam-nos na secreta esperança que o projeto de construção da União Europeia retome os “eixos”, adiam-nos na secreta esperança que os mercados financeiros se acalmem e abdiquem dos chorudos lucros ganhos por conta do empobrecimento dos cidadãos e dos povos, adiam-nos na secreta esperança que depois da troika tudo seja diferente. E é isto que nos dizem, e é isto que a maioria de nós interioriza, na secreta esperança que possamos recuperar rendimento e direitos sociais que até há bem pouco tempo eram considerados inalienáveis e pelos quais tanto se lutou, sofreu e morreu.
Não sou homem de querer retirar a esperança a ninguém, mas secretas ou assumidas estas esperanças são vãs. Com troika ou sem troika, com União Europeia ou sem ela, com mercados calmos ou nervosos a verdade é que quando o fim da crise for “decretado” já o bando de fieis rapazes à teologia do mercado, a quem o povo português entregou o poder, trataram de destruir o Estado tal como ele está arquitetado na Constituição da República Portuguesa. Estamos e vamos continuar mais pobres, mais desprotegidos. Agora como depois de a crise ser “decretada” é pela luta dos trabalhadores e da população que se trava esta bárbara ofensiva contra a civilização. Só esperança e sonho sem lutar pela sua concretização é pouco, muito pouco. E não será preciso ir além da cultura popular para que, na sua imensa sabedoria, costuma dizer: “fia-te na Virgem e não corras…”, ou seja, não basta ter fé, é preciso agir, é preciso lutar.
O governo da República, pela mão do PSD e do CDS/PP e com a cumplicidade ativa do PS, que a célebre expressão da abstenção violenta tão bem documenta, tem vindo paulatinamente a destruir o Estado democrático.
Encerramento de Escolas, Hospitais, Repartições de Finanças e Tribunais. A asfixia financeira do Poder Local e a imposição de uma lei de compromissos que coloca em risco o investimento público do Poder Local, logo agora que tanto dele se necessita. A desresponsabilização e demissão do Estado nas Regiões Autónomas, particularmente nos Açores, perpetrada por velhos e novos centralistas, são alguns dos motivos para nos mobilizarmos para continuar a lutar pela democracia, a lutar pelo nosso Povo, a lutar pela nossa Região, a lutar por Portugal livre e soberano, a lutar por Portugal de Abril.
Ponta Delgada, 09 de Fevereiro de 2014
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 10 de Fevereiro de 2014
Foto => Catarina Pires
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