sábado, 22 de dezembro de 2018

A República no “LavaJazz” - crónicas radiofónicas

Créditos "LavaJazz"



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 06 de Outubro de 2018 e pode ser ouvida aqui






A República no “LavaJazz”

Foto by Madalena Pires
Ontem foi dia de um feriado reconquistado depois de 2015, ou seja, depois da coligação de direita que desgovernou o país ter sido apeada do poder após a realização das eleições legislativas de 2015.
Pode não dar muita importância ao facto de a coligação de direita ter acabado com alguns feriados nacionais, mas é bom lembrar que eles foram extintos em nome da recuperação económica, da redução da dívida e do défice. Este argumento que para tudo serviu, foi sendo aceite como inevitável para o país se redimir dos excessos cometidos.
Claro que quem cometeu os excessos não pagou e quem não tinha como se exceder suportou todos os custos. Custos de uma política que não resolveu nenhum dos problemas que a justificavam.
Recuperaram-se os feriados, recuperaram-se rendimentos, aliviou-se a carga fiscal e o resultado foi o crescimento económico, o aumento do emprego, a diminuição do défice e a estabilização da dívida pública que, se tivesse sido renegociada nos seus montantes, prazos e juros, teria diminuído para valores, digamos, aceitáveis.
Mas não é sobre a governação do país nem dos governos do passado e do presente que versa esta nossa conversa semanal.
Ontem, como sabe, comemorou-se o aniversário da implantação da República. A data foi assinalada oficialmente. Mas a passagem do 108.º aniversário da República foi marcada, um pouco por todo o país, por diversas iniciativas promovidas por quem tem memória e considera que a história não pode ser esquecida, sob pena de nos perdermos no limbo do igualitarismo uniformador dos costumes e do pensamento, e é sobre uma dessas iniciativas, que decorreu em Ponta Delgada que gostaria de lhe falar.
No contexto da programação cultural, para além da música, de um espaço de encontro da noite de Ponta Delgada, o LavaJazz, realizou-se ontem uma tertúlia no âmbito do “Comer com Letras”. Acontece às primeiras sextas-feiras de cada mês e é coordenado pela Dra. Amélia Sophia.
Ontem o tema, como não poderia deixar de ser, centrou-se na Revolução de 5 de Outubro de 1910 e nas transformações que lhe foram subsequentes. As razões que lhe estiveram na origem, as contradições e a instabilidade que levaram à implantação do Estado Novo e à ditadura fascista que só teve fim numa madrugada de Primavera onde despontaram cravos vermelhos e uma contagiante alegria espelhada no rosto de um povo amordaçado e manietado por um regime déspota. As implicações nos anseios autonomistas, a luta das mulheres pela conquista de direitos cívicos e de igualdade na diferença, mas também poesia. A República foi apenas o mote para a noite de tertúlia, “Comer com Letras”.

Foto by Madalena Pires
Por razões incontornáveis aconteceram algumas alterações ao que inicialmente estava programado e, mesmo o que era possível manter como previsto foi subvertido pelos convidados. Não me cabe a mim, que acabei por ser um dos intervenientes, avaliar se o desalinhamento resultou a favor de quem esteve no LavaJazz até um pouco depois das 22h.
Eu cá por mim saí de lá satisfeito por ter tido oportunidade de partilhar parte do serão do feriado de 5 de Outubro com o Dr. Pedro Gomes, a Dra. Amélia Sophia, com a Dra. Nélia Guimarães e com todos quantos, neste caso e em bom rigor deveria dizer, todas, não por ficar bem ou dar a primazia às mulheres mas porque o público era quase exclusivamente feminino.
Não posso deixar de louvar o LavaJazz pela forma como se tem diferenciado e afirmado na noite de Ponta Delgada, quer pela excelência dos seus músicos residentes, quer pela programação cultural que com uma coragem admirável tem vindo a assumir.

Gostei de estar consigo. Fique bem.
Voltarei no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 06 de Outubro de 2018

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