quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O relatório da OCDE “Education at a Glance” 2018 - crónicas radiofónicas

Imagem retirada da Internet



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 15 de Setembro de 2018 e pode ser ouvida aqui






O relatório da OCDE - “Education at a Glance” 2018

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Estou certo que, como eu, terá dado conta da notícia da divulgação de um relatório da OCDE, designado “Education at a Glance” 2018, ou assim numa espécie de tradução livre “Educação em relance 2018,  onde de entre outros aspetos são referidas algumas conclusões importantes, como por exemplo, “O menor nível de escolaridade está diretamente relacionado com uma maior desigualdade no rendimento do trabalho”, ou que “Portugal, de todos os países da OCDE, é aquele onde verifica uma desigualdade salarial acima da média”.
Mas se, como eu, deu conta da divulgação na comunicação social deste estudo da OCDE lembra-se de como foram as manchetes.
Deixo-lhe alguns exemplos.
“OCDE diz que salários dos professores portugueses são "relativamente altos", Professores de Portugal trabalham poucas horas e ganham bem” e ainda este outro, “OCDE diz que temos professores envelhecidos que ganham bem e trabalham menos horas”.
Claro que quem lê a notícia até ao fim e não se fica apenas pelos títulos, fica a saber um pouco mais e a generalidade dos órgãos de comunicação social faz até faz a ligação entre a divulgação do estudo e a atual fase de luta dos educadores e professores em Portugal. É tão evidente que não é possível esconder o facto.
Estranha coincidência e estranha forma de titular a divulgação de um relatório, ainda que breve, sobre a educação nos países da OCDE.
Não acredito em bruxas e, neste caso também não acredito que tenha sido uma coincidência. A divulgação do estudo mais parece uma encomenda que chega no momento oportuno. Quanto à forma como o relatório foi difundido, aí não me restam quaisquer dúvidas. A comunicação social mais uma vez vergou as costas perante o amo.
A OCDE não será diretamente responsável pelos dados que apresenta. A responsabilidade terá de ser assacada a quem forneceu os dados que, no caso dos horários de trabalho e dos salários são falsos. Como sabe sou professor e como já tenho uma longa carreira e idade, naturalmente, cheguei ao topo da tabela de vencimentos dos professores e, não me importaria nada, mesmo nada, de auferir o salário que a OCDE divulgou para o topo da carreira dos docentes em Portugal, seriam apenas mais 662 euros mensalmente, ou seja, vezes 14 meses, daria um acréscimo de 9268 euros, ao meu rendimento anual. Era bom, mas não é assim.

Foto by Aníbal C. Pires
Como não é assim no que diz respeito ao número de horas de trabalho semanal. Os horários dos docentes têm duas componentes, a letiva e a não letiva que totalizam 35 horas semanais, mas como também foi divulgado num estudo recente, não da OCDE, concluiu-se que os educadores e professores trabalham em média mais de 40 horas semanais. A OCDE comparou o incomparável, ou seja, a componente letiva dos docentes portugueses com o horário completo, componente letiva e não letiva, dos docentes dos restantes países.
Há, contudo um aspeto, mesmo com os dados errados, que o Relatório da OCDE conclui e que um dos títulos, que há pouco citei, referia. O envelhecimento da classe docente e a sua relação para que a média salarial dos docentes seja mais elevada. Fica caro ao Estado português, muito caro, manter no ativo um número significativo de docentes com mais de 60 anos de idade e cerca, ou mais de 40 anos de serviço. Todos estes professores estão no topo da carreira e auferem de salários substantivamente mais elevados que os professores no início ou no meio da carreira. É tempo de rejuvenescer a classe docente e promover o emprego e a estabilidade na carreira aos jovens professores.
A semana passada conversei consigo sobre a atual luta dos educadores e professores não estava no meu horizonte abordar, pelo menos num tão curto espaço de tempo, a mesma temática, mas o tempo e a forma, independentemente dos erros com origem em dados incorretos, como o Relatório da OCDE foi divulgado tornou este tema prioritário.
Para finalizar fica apenas, como informação, que a FENPROF já anunciou que irá solicitar ao Diretor de Educação e Competências da OCDE a correção dos dados que foram divulgados, dando disso conhecimento à Internacional de Educação.
Gostei de estar consigo. Fique bem.
Voltarei no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 15 de Setembro de 2018

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