foto de Rui Lopes |
“Por um Fio de Seda”, texto e ilustrações de Rui Lopes
Centro Cultural de Santa Clara, 24 de outubro de 2023, pelas 18h30mn
Minhas senhoras e meus senhores,
Caros amigos,
É, para mim, uma honra e também um prazer, estar aqui a convite do Rui Lopes, a quem aproveito para agradecer a confiança que em mim deposita para apresentar o seu primeiro livro que reúne, como terão oportunidade de constatar, um texto em que o autor narra uma história real e ilustra com a mestria que lhe reconhecemos, não só por esta nova experiência, mas por todo o trabalho gráfico que tem feito ao longo da sua vida profissional e que agora ganha novos e desafiantes contornos.
Agradeço a vossa presença com o compromisso de que não vos vou ocupar muito tempo, nem maçar com avaliações mais ou menos elaboradas sobre o texto, sobre as ilustrações, mas também sobre o protagonista desta história, que se encontra aqui entre nós e, a quem aproveito para endereçar um cumprimento especial pois, hoje, completa 92 anos de idade.
Parabéns, Comandante Francisco da Encarnação Afonso!
E bem-haja pelo seu exemplo de vida.
ilustração de Rui Lopes |
Caros amigos,
Quando Rui Lopes me convidou para fazer a apresentação pública do seu livro, convite ao qual anuí sem qualquer reserva, e dei início à estruturação desta breve intervenção optei por dedicar o essencial do conteúdo deste registo ao autor, enquanto cidadão e ao potencial artístico que carrega consigo, mas por razões diversas não tem tido oportunidade de cultivar, para além da comunicação visual utilitarista. Ao contrário do que costumo fazer não separei as alusões à obra ao perfil do autor o que poderá contrariar os cânones, mas eu gosto de correr riscos e essa tem sido a minha opção de vida: navegar à bolina. Sinto-me confortável assim, a ir contraventos e marés.
“Por um fio de seda”, relata uma história, conhecida por muitos dos presentes, e por muitos outros que, estando ausentes conhecem, pois, esta história faz parte dos anais da aviação militar em Portugal e já foi descrita, de entre outros registos, no livro “Voando… A Unir O Que O Mar Separa”, promovido pela Associação Portuguesa de Pilotos de Linha Aérea (APPLA), da autoria do Professor Ermelindo Peixoto e publicado na sequência da atribuição do Prémio Carlos Bleck 2017, ao Comandante Afonso, e que o Rui Lopes referencia como uma das suas fontes.
Mas o reconhecimento à carreira, profissionalismo e dedicação não foi, apenas, pelos seus pares, como acabei de referir, aliás uma de entre muitas outras, mas também o Município de Ponta Delgada e a Região, através da ALRAA, prestaram uma justa homenagem ao Comandante Afonso, atribuindo-lhe respetivamente o “Diploma de Reconhecimento Municipal”, em 2011 e a “Insígnia Honorífica Açoriana de Dedicação”, em 2013.
Minhas Senhoras e meus senhores,
Caros amigos,
Numa epígrafe do livro do Professor Ermelindo Peixoto e que acabei de referenciar pode ler-se: “voar nas asas do sonho”; e esta é uma inscrição que, também, se ajusta, ao Rui Lopes. Por este livro e por este momento, pois, quem o conhece tem consciência que o presente acontecimento é um voo sonhado pelo Rui, e não me refiro ao livro em si mesmo, essa é apenas uma particularidade que não me surpreende, embora seja uma excelente mostra da arte e criatividade do Rui Lopes. Mas este momento é, também e, quiçá, sobretudo um grito que o liberta, ou pode libertar, do espartilho da publicidade e dos grafismos comerciais.
O voo sonhado do Rui Lopes e que, para já deu este belo fruto, relaciona-se com tudo o que lhe está a montante, isto é, o recente, mas muito desejado percurso formativo, a sua concretização com sucesso, o reconhecimento dos seus mentores e, quiçá, a oportunidade tão ambicionada para o Rui Lopes poder dar expressão ao que lhe dá prazer e melhor sabe fazer: arte pela arte. Arte sem moralismos nem utilitarismos, a arte apenas pela estética.
Comandante Francisco Afonso (coleção particular) |
A estória relata e ilustra um incidente ocorrido a 12 de outubro de 1955 protagonizado pelo Comandante Afonso, então com 23 anos, faria 24 passado 12 dias, e como piloto da Força Aérea Portuguesa.
Era um voo noturno num jato monomotor da Esquadra 20, de caças F84-G, sedeada na base aérea da Ota. Dificuldade e alguma confusão nas comunicações, o afastamento da base, quando conseguiu determinar o local onde se encontrava, por ter avistado as luzes da procissão das velas em Fátima, concluiu que o combustível era insuficiente para chegar à base, quando assim é os manuais aconselham a ejeção, e foi o que o Comandante Francisco Afonso fez, apontou a aeronave ao mar e ejetou-se. O livro não é apenas a descrição deste episódio, mas é sobretudo esta estória do brilhante percurso profissional do Comandante Afonso que o autor de “Por um fio de seda” partilha connosco socorrendo-se das palavras do protagonista e brindando-nos com ilustrações que nos transportam para a carlinga do avião, para os procedimentos da ejeção, para a serenidade da descida em paraquedas e a chegada ao solo no meio de uma vinha, já vindimada, mas ainda assim os cães de guarda alertaram o proprietário para a presença de um intruso, o que contribuiu para que o seu resgate pela Força Aérea Portuguesa tivesse acontecido com celeridade.
Rui Lopes - foto de Madalena Pires |
Caros amigos,
Temas e estórias não faltam por aí, mas o Rui optou por esta, optou por homenagear uma figura familiar por quem tem muita admiração e respeito.
Quem conhece o Rui sabe que ele é um homem de afetos e de emoções.
Quem conhece o Rui Lopes identifica-o como arquétipo da generosidade.
O Rui é um ativista na defesa do ambiente, da natureza e de modelos de desenvolvimento sustentáveis, o Rui preocupa-se com as injustiças sociais, o Rui coopera não compete, o Rui é um lutador contra a indiferença, o Rui dedica-se, direi, religiosamente à família e aos amigos, o Rui é o amigo com quem podemos sempre contar, o Rui está sempre disponível para quem o procura, o Rui é humildemente generoso como deviam ser os homens, mas o Rui é, sobretudo, um talentoso criativo que necessita espaço e oportunidades para se afirmar e mostrar toda a sua capacidade artística, de que este livro e, em particular, as ilustrações são uma pequena amostra do seu fértil universo de linguagens plásticas que é o seu território comunicacional de eleição.
Obrigado Rui, pelo convite e pela amizade! Obrigado pela vossa atenção!
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de outubro de 2023
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