quarta-feira, 18 de outubro de 2023

…maria somebody

imagem retirada da internet
A 38.ª edição dos Colóquios da Lusofonia aconteceu de 4 a 8 de outubro, no Centro de Artes Contemporâneas, na cidade da Ribeira Grande. Participei, com agrado, neste evento em diversos momentos dando conta, como posso e sei, do que me foi proposto. 

De alguns anos a esta parte a direção dos Colóquios tem vindo a homenagear algumas personalidades que se destacam no campo da produção literária, na sua divulgação ou, ainda, pela carreira e contributos que ao longo da sua vida deram à divulgação e promoção do livro e da leitura. Na edição deste ano e cumprindo a tradição foram feitas homenagens a: Francisco Madruga, pelos 40 anos de carreira editorial. Do homem e da obra coube a Vasco Pereira da Costa traçar os principais traços que justificam, em pleno, o devido e merecido reconhecimento; Carolina Cordeiro, Helena Chrystello e Maria João Ruivo foram, num outro momento e contexto, alvo de uma homenagem pela sua dedicação aos Colóquios, mas também pelo seu trabalho de produção e divulgação da poesia e literatura. Miguel Lopes, falou de Carolina Cordeiro, a mim coube-me “justificar” a homenagem à Helena Christello, e, por fim, Onésimo Teotónio Almeida falou sobre a mulher, a professora e escritora Maria João Ruivo.

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Hoje partilho com os leitores o texto que li, na tarde do dia 8 de outubro, aquando do momento de homenagem a Helena Chrystello: “A 38.ª edição dos Colóquios da Lusofonia teve, à semelhança das anteriores, um programa diversificado e apelativo, para além de ser um espaço de discussão e reflexão plural sobre as questões da lusofonia, ou se preferirem lusografia pois, se é verdade que as comunicações que aqui são feitas utilizam como principal suporte, a oralidade, não será menos rigoroso afirmar que este espaço se dedica mais às grafias do que às fonias e, como todos temos consciência, no espaço a que chamamos lusófono, as fonias e as grafias são diversas e, em minha opinião, essa diversidade nada tem de redutor, perverso, ou subversivo, mas pelo contrário dá vida à(s) língua(s) de matriz portuguesa, língua(s) comum(ns)s a cerca de 300milhões de pessoas no mundo.

Não entendam, a nota anterior como uma qualquer posição sobre o acordo ortográfico que tanto desacordo provocou, e continua a provocar, deixo essas discussões para os especialistas e respeito as diferentes posições. Eu não quis travar essa luta e, logo que se anunciou a aprendizagem da nova grafia nas escolas, aderi ao acordo ortográfico sem mais delongas.

Esta espécie de nota introdutória sobre as lusofonias e lusografias não pretende suscitar nenhum tipo de reação, a não ser despertar a vossa atenção, ou seja, serve, apenas e tão-somente, de mote para agora vos poder falar de uma mulher que tem dedicado toda a sua vida à difusão da poesia e da literatura, em particular da poesia e da literatura criada no espaço lusófono, mormente a que se se relaciona com os autores açorianos, aqui nascidos ou não.

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A sua constante presença ao longo das edições dos Colóquios da Lusofonia que, em parceria com o seu companheiro de vida idealiza, cria e realiza seria, por si só, justificação para o que atrás ficou dito, mas o trabalho de divulgação da língua portuguesa feito pela Helena Chrystello, sim é dela que vos falo, e, como vos dizia, o trabalho da Helena vai muito para além dos Colóquios. A Helena tem toda uma vida dedicada às letras seja como tradutora, formadora, educadora e sobretudo difusora das letras, no espaço em que se escreve e fala nos diferentes matizes da língua portuguesa.

A Helena Chrystello é uma mulher de aspeto frágil, mas a sua inabalável determinação e amor à cultura literária transformam-na num ser capaz de superar as adversidades que a vida lhe tem colocado. As fragilidades físicas não foram impeditivas que a sua paixão pela poesia e literatura se manifestasse por onde a vida a foi encaminhando, mormente, enquanto professora. 

A Helena tem um trabalho notável, enquanto educadora, de promoção da leitura entre os jovens, trabalho que, como sabemos, tem fortes concorrentes nas plataformas de comunicação audiovisual e nas redes sociais, ainda assim, a sua persistência tem dado frutos e a sua herança perdura nos leitores conquistados, nos autores antologiados e entre os seus pares.

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Vou-me dispensar de aludir o seu vasto currículo, contudo, permitam-me algumas referências bibliográficas que sustentam parte do que já referi e acrescentam razões, se tal fosse necessário, ao justo reconhecimento e pública homenagem que o 38.º Colóquio da Lusofonia, em boa hora, decidiu fazer a Helena Crystello. Assim, menciono, apenas, alguns títulos de que a Helena foi autora ou coautora: - Antologia bilingue de autores açorianos contemporâneos; - 9 ilhas 9 escritoras; - Coletânea de textos dramáticos de autores açorianos; - Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos (2 volumes), incluída no Plano Regional de Leitura; - Nova antologia de autores açorianos. Mais recentemente, ou melhor, ontem durante o 38.º Colóquio da Lusofonia o seu último trabalho: - 9 poemas 9 línguas.

E outros títulos virão, ao que sei, estão prestes a “dar à estampa”, que é como quem diz estará para breve a publicação de outros trabalhos que visam, à semelhança dos anteriores, acrescentar conhecimento literário junto do público, promover os autores e divulgar aspetos peculiares e, quiçá, bem-humorados do que se vai escrevendo no universo deste arquipélago de sonhos e saudade.   O trabalho realizado pela Helena, de que os títulos que atrás mencionei são exemplo, diz bem do seu profundo amor à literatura, à poesia e à língua portuguesa, mas também da sua persistência, determinação e força interior que a liberta das suas fragilidades para servir as letras, o conhecimento e a cultura com a paixão que lhe reconhecemos. 

A Helena Chrystello tem contribuído, com o seu profícuo trabalho de pesquisa literária, para a divulgação e promoção da língua portuguesa. Do seu reconhecido labor resultam preciosos instrumentos didáticos para o ensino da língua e da literatura portuguesa, para a descoberta de novos autores, para além, como atrás ficou dito, de potenciar a adesão à leitura de novos públicos.

A Helena Chrystello lançou as sementes sobre um alargado conjunto de jovens de quem foi, mais uma mentora, do que uma professora. Sementes que germinam nos espíritos dos novos leitores e apaixonados pelos livros, mas constituem-se, também, como um poderoso e natural fertilizante para que novos autores possam surgir pois, a Helena transmitiu-lhes o gosto pela escrita e a força necessária para vencer os receios que a folha em branco geralmente coloca aos principiantes, mas também aos que faz tempo se aventuraram pelos caminhos da escrita.

Todos conhecem o poema que o Chrys dedicou à Helena e que tem como título “Maria Nobody” e, do qual me permito ler os seguintes versos: “nem sabes a riqueza/que a gente tem/maria nobody”

Antes de terminar voltarei a estes versos introduzindo-lhe uma pequena alteração que neste momento especial, em que se faz pública homenagem à Helena, me pareceu ser ajustada.

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Em meu nome pessoal, mas também, e julgo não ser abusivo dizê-lo, em nome de todos os presentes e de muitos outros, ausentes, que ao longo dos anos participaram nos Colóquios da Lusofonia deixo o meu público reconhecimento à Helena Chrystello pela sua inabalável dedicação e contributos à cultura e, em particular, à literatura.

“nem sabes a riqueza/que a gente tem/maria somebody”. 

Maria Alguém!  Sim! Helena és alguém que nos habituámos a respeitar e admirar. Sim! Helena és alguém a quem as letras e os seus obreiros devem um agradecimento. E é, justamente, esse reconhecimento, homenagem e gratidão que hoje, no culminar do 38.º Colóquio da Lusofonia, autores, leitores e amigos da poesia e da literatura te queremos demonstrar. Queremos continuar a contar contigo, maria somebody, e com o teu incansável labor de pesquisa e divulgação literária. 

Obrigado, Helena!” 

Arranhó, 17 de outubro de 2023 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de outubro de 2023

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