O primeiro-ministro vésperas do anúncio do programa de ingerência externa imposto pelo FMI e numa jogada de antecipação para preparar consciências veio anunciar ao país o que não constava no programa de “ajuda”. Cedo se percebeu que por detrás do discurso de Sócrates, que foi assim um misto de vitória e contentamento, se escondia o real alcance das medidas impostas pelo FMI.
O que lá está é, de facto, o congelamento dos salários, incluindo do Salário Mínimo Nacional, o congelamento e novos cortes no valor das pensões, o que significa a perda real de poder de compra, quando o que se impõe é valorizar os salários e as reformas para assegurar condições de vida dignas, combater a pobreza e dinamizar a economia.
O que lá está é a escandalosa tributação fiscal das prestações sociais quando o que se impõe é que se tribute a banca e as grandes fortunas.
O que lá está é o anúncio de um aumento brutal de encargos e de redução do rendimento disponível para a generalidade das famílias com aumentos na factura da electricidade, nos bens essenciais, nos transportes e nos encargos com a habitação.
O que lá está é uma significativa penalização por via da carga fiscal, designadamente com a redução e eliminação das deduções no IRS de despesas com saúde, educação ou habitação.
O que lá está é o aumento das taxas moderadoras, o aumento dos medicamentos e a degradação dos cuidados de saúde, impedindo de facto o acesso a cuidados de saúde a centenas de milhar de portugueses, em particular dos mais idosos.
Todos estes sacrifícios que atingem o povo português não vão resolver qualquer problema do país. São medidas que, segundo os seus próprios responsáveis, vão significar recessão económica (quebra de 4%), com mais destruição da produção nacional. Com estas medidas Portugal em 2013 vai retroceder para níveis de há uma década atrás e o desemprego vai passar dos actuais 800 mil desempregados para próximo de um milhão em 2013.
O Primeiro-Ministro disse o que não estava no Programa mas escondeu, como escondem o PSD e o CDS/PP, quem são os beneficiários directos e o destino desses 78 mil milhões de euros que só acrescentarão mais endividamento e mais sacrifícios. Porque se o dissesse o país ficaria a saber que parte dele (12 mil milhões) vai direitinho para a banca nacional e que a parte mais significativa nem sequer entrará no país indo directamente para os bolsos daqueles que especulam com a dívida nacional.
Ponta Delgada, 05 de Maio de
Aníbal C. Pires, In A União, 07 de Maio de 2011, Angra do Heroísmo
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