segunda-feira, 13 de maio de 2013

O que será, que será


Nos últimos dias um dos ditos jornais de “referência” da Região fazia manchete com o elevado número de passageiros, quatro centenas, que a SATA Internacional deixou sem viajar. Como o assunto do transporte aéreo continua na agenda e tem gerado apaixonadas discussões acabei por ler todo o corpo da notícia e, se dúvidas tivesse elas desvaneceram-se. Percebi porque o tal matutino de Ponta Delgada é de “referência” na arte de bem informar a cada linha impressa.
Vejamos, a manchete dizia: “400 passageiros em terra devido a tempos de descanso de tripulações”. No corpo da notícia o jornalista referia quais os voos cancelados e citava um porta-voz da transportadora aérea que reconhecia que as irregularidades operacionais estavam relacionadas com a obrigatoriedade dos tempos de descanso das tripulações impostos por lei. Mais se afirmava que a SATA iria resolver o problema através do fretamento de uma aeronave à transportadora aérea “White”. O porta-voz da SATA afirmava ainda que estes “contratempos” operacionais não estavam relacionados com os recentes períodos de greve dos trabalhadores da SATA, melhor seria. 
E…, e… e…, mais nada. Esperava eu que o jornal tivesse questionado, sei lá por exemplo: há falta de tripulações, se sim, pronto todos percebíamos a dificuldade em gerir os recursos humanos, o descanso é obrigatório e se não for realizado a companhia aérea é penalizada com multas. Se não há falta de tripulações outra pergunta se impunha, então porque é que a gestão de pessoal não contou com esse fator, afinal o tempo de descanso das tripulações não é uma novidade e, como tal, tem de ser devidamente atendido no planeamento das operações de voo.
Bem, e quanto custa a contratação de um voo ACMI (aeronave, tripulação, manutenção e seguro) à “White” ou a qualquer outra companhia de transportes aéreos, alguém perguntou. E quantos voos ACMI’s foram contratados nas últimas semanas. E os pilotos que saíram da SATA Internacional no último ano já foram substituídos por outros com as mesmas qualificações, designadamente com competência para a certificação de outros pilotos da empresa. E porque é que o voo para Amesterdão foi cancelado.
Muitas outras perguntas, com sinal de interrogação ou não, podiam e deveriam ter sido feitas até para que a informação fosse completa e o leitor ficasse habilitado a ajuizar com rigor. Mas não, a opção foi abordar o problema à superfície. Já sei, mergulhar nas águas turvas não é uma experiência agradável mas que diabo aceitar, como bom, que os tempos de descanso das tripulações é que estavam na origem do problema parece-me, salvo melhor opinião, que é muito pouco, diria mesmo que é redutor e parcial e até com um objetivo predefinido. Afinal, concluirão alguns menos avisados, é mais um dos privilégios dos tripulantes a afetar o normal funcionamento da SATA Internacional.
O porta-voz da companhia disse o que tinha de dizer, ou seja, parte do problema relaciona-se com os tempos de descanso das tripulações. Nem mais, mas quando uns descansam outros trabalham. Quer-me cá parecer que o problema, ainda que não tenha feito a pergunta, reside na falta de tripulações certificadas. Daí sim, salvo melhor e mais habilitada opinião, resulta a escassez de pilotos disponíveis. E, se assim for outra, ou outras perguntas têm e devem ser feitas à Administração da SATA e ao Governo que é sua tutelar.
Já agora porque tanto se fala fica a síntese do conceito de transportadora aérea “low cost” - “não vendemos lugares a passageiros, vendemos passageiros a destinos”. 
Face a esta definição uma pergunta se impõe, então quem paga, a resposta é óbvia, quem paga são os destinos. Pois!
Horta, 12 de Maio de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 13 de Maio de 2013, Ponta Delgada

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