quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Viagem

Foto - João Pires

Partida

O dia rompeu
Sombrio
Na tua cidade
Partias de novo
A bruma das ilhas
Veio acenar-te
Dizer-te
Espero por ti
Pelo teu amor
Pelo teu abraço
Partiste
A tua ausência 
Cavou um vazio
Para a saudade habitar

Aníbal C. Pires, Horta, 27 de Outubro de 2014

Do amor (*)

Foto retirada da internet

Amor recatado 

Olhas-me
Sem ver a mulher
Que sou
Queria dizer-te
Sim, sou uma jovem
Mulher que ama
Como só as jovens
Mulheres sabem amar
No recato dos sonhos
De jovem feita mulher
No dia
Em que o teu olhar
Fugazmente
Tocou o meu

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de Outubro de 2014

(*) Este texto foi escrito na madrugada que deu lugar ao dia da apresentação pública do livro "O Outro Lado".

SRS, notas avulsas

Foto - Catarina Pires
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores discute esta semana as questões da saúde. Iniciativas propostas por diferentes partidos e, por conseguinte, abordagens distintas.
Sendo urgente, a interpelação da Representação Parlamentar do PCP, não pretende ser uma discussão sobre urgências. O Serviço Regional de Saúde (SRS) tem de ser objeto de uma discussão serena e aberta e, sobretudo, objetiva. Não basta enumerar os casos de todos conhecidos, o descontentamento de profissionais e utentes. Problemas que urge resolver, sem dúvida. Importa, contudo, ir mais além na discussão política das não respostas do SRS, ou seja, é necessário ir à génese, à raiz dos problemas que afetam o SRS e procurar corrigi-las, não de forma casuística, como tem vindo a acontecer mas de uma forma refletida que incorpore uma estratégia ancorada na política de saúde ao invés, como atualmente se verifica, de uma política para a doença.
Considero que os problemas do SRS têm uma raiz muito mais profunda do que a habitual inoperância resultante de uma visão de curto prazo dos sucessivos Governos Regionais. Sem ser exaustivo mas sem deixar de ser objetivo diria que, temos um SRS orientado para o tratamento da doença e não para a promoção da saúde, o SRS é gerido “à vista”, sem estratégia nem planeamento. 
Senão vejamos, o grosso da despesa e dos investimentos do SRS relacionam-se diretamente com os custos de funcionamento dos serviços de tratamento hospitalar e pré-hospitalar e não com as ações de promoção de estilos de vida saudáveis, prevenção, rastreio, medicina familiar e de proximidade.
Há razões históricas para esta situação se verifique que não quero obliterar e que se relacionam com um desenvolvimento rápido e vigoroso do SRS no pós-25 de Abril em que a prioridade foi, e muito bem, a de criar cuidados médicos onde eles praticamente não existiam, ou eram incipientes. Mas, os aspetos relacionados com a medicina preventiva acabaram, em boa parte, por ficar sempre como o “parente pobre” do sistema.
Não nego que existem, e bem, campanhas de sensibilização, rastreios de patologias específicas dirigidos à população em geral, mas esse esforço, que considero pequeno, acaba por ver os seus efeitos limitados por dois fatores: as carências crónicas e graves em termos de medicina geral e familiar, pedra basilar da medicina preventiva e, por outro lado, o facto de a política de saúde ainda não ser considerada de maneira suficientemente transversal. 
É que não basta atribuir verbas a programas para prevenir certas patologias ou para estimular estilos de vida saudáveis. É preciso que a consideração da saúde dos açorianos atravesse toda a ação dos poderes públicos, em matérias tão importantes e estruturais como, por exemplo, o planeamento urbano, a mobilidade, os transportes, os níveis de motorização e os estilos de vida sedentários, o acesso e o custo de produtos alimentares saudáveis, mas também, a segurança no trabalho, as condições laborais, a própria segurança no emprego (tendo em conta a sua relação direta, estudada, com a incidência de doenças relacionadas com o stress) e, um indicador que é central para os níveis de saúde da população, que é o rendimento disponível e os níveis socioeconómicos. E basta olhar para os planos de saúde de alguns países e regiões da Europa para verificarem como este último indicador é cuidadosamente considerado.
Não estando naturalmente ao alcance da Região transformar a seu gosto todos estas questões, é preciso que os indicadores que lhes dizem respeito sejam considerados no diagnóstico de Saúde da Região e que a atuação dos poderes públicos leve em conta que, as transformações operadas em qualquer uma destas áreas terão forçosamente efeitos a jusante, sobre a qualidade da saúde dos açorianos. 
O facto de termos um SRS orientado para o tratamento da doença e não para a promoção da saúde, resulta não apenas em níveis de saúde medíocres, como a saturação das estruturas de tratamento, do que decorre um avolumar substancial da despesa pública que lhe está associada. 
Tudo isto resulta em que tenhamos um SRS reativo, em vez de preventivo, mais caro, menos eficaz, onde as unidades hospitalares adquirem por força uma primazia desmesurada em termos de afetação de recursos, sem que com isso se consigam atingir, de forma suficiente, os objetivos de melhoria das condições de saúde dos açorianos.
Horta, 27 de Outubro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 29 de Outubro de 2014

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Em defesa das freguesias dos Açores - 2 (Concl.)

Foto - Aníbal C. Pires
As autarquias, e em particular as Freguesias, têm visto os seus meios cada vez mais reduzidos, o seu papel subaproveitado, a sua dignidade enquanto instâncias representativas das comunidades locais subvalorizada e, a sua capacidade de realização de investimento cada vez mais limitada.
Os continuados cortes e reduções das transferências do Orçamento de Estado, as limitações em termos de recursos humanos, bem como a redução dos meios protocolados com os Municípios, muito têm contribuído para limitar o seu papel e a sua capacidade de ação, com evidente prejuízo para as populações e para o desenvolvimento das localidades, situação que se agravou por recentes alterações legislativas ao regime financeiro das autarquias, com a Revisão da Lei da Finanças Locais.
Embora a parte essencial destes problemas esteja na esfera de competência direta do Poder Central, a Região Autónoma dos Açores, sem se imiscuir em competências que não são suas, nem assumindo responsabilidades alheias, deve fazer o que estiver ao seu alcance para revalorizar e reforçar a capacidade das Freguesias açorianas. 
Existe um historial positivo de cooperação entre as Freguesias açorianas e a Administração Regional, que deve ser potenciado e aprofundado, bem como alguns problemas e insuficiências que devem ser corrigidos, num espírito de respeito mútuo devido entre instâncias do Estado de Direito Democrático.
Contudo, e não é só a minha opinião, a realidade mostra que é necessário introduzir algumas alterações há matriz que tem presidido ao relacionamento entre o poder regional e as Freguesias açorianas.
Não pode, nem deve, o poder regional seguir os passos do poder central sob pena de o discurso político do Governo Regional e do partido maioritário se esfarelar em incongruências e paradoxos. É, por isso, necessário que o Governo Regional reforce o apoio e a cooperação com as Freguesias dos Açores, ou seja, que faça coincidir o discurso politico com uma prática política de envolvimento na procura das melhores soluções para as populações.
Envolver, em termos de auscultação e informação, as Juntas de Freguesia em todas as obras, investimentos e realizações do Governo Regional nos respetivos territórios.
Ampliar os meios financeiros destinados à cooperação com as Freguesias, em especial em termos de limpeza, renaturalização e reperfilamento de linhas de água, prevenção de situações de risco, manutenção de caminhos agrícolas e percursos pedestres, entre outros, e alargar o âmbito dessa cooperação a novas áreas, como ações de combate à flora invasora, reabilitação de habitações degradadas, manutenção da rede viária, bem como a outras ações que seja adequado descentralizar.
Garantir o acesso das Freguesias dos Açores aos programas ocupacionais e de estágios, nomeadamente aos programas Estagiar, como forma de terem acesso a recursos humanos, também qualificados, e a poderem contribuir para inserção e empregabilidade dos desempregados das suas comunidades, tendo como objetivo a sua gradual integração no mundo do trabalho, designadamente, nos quadros das autarquias; 
Garantir a existência de recursos humanos e técnicos suficientes para que todas as Freguesias dos Açores tenham um período diário de abertura e atendimento ao público;
Ampliar os meios disponíveis para a cooperação e apoio técnico às Freguesias dos Açores, nomeadamente em termos de apoio jurídico, contabilidade, aconselhamento e acompanhamento técnico de investimentos e realizações; 
Valorizar a intervenção das Freguesias açorianas na área da educação ambiental, aumentando o valor dos prémios financeiros do concurso Eco Freguesias.
Estas são algumas das medidas, que não se esgotando nesta enumeração, urgem por ser implementadas dotando e capacitando as Freguesias açorianas dos meios que lhes permitam melhorar a sua intervenção e a sua capacidade de investimento.
Ponta Delgada, 26 de Outubro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 27 de Outubro de 2014

sábado, 25 de outubro de 2014

Foi ontem

Foto - Madalena Pires

Ontem foi um dia particularmente tocante para mim. 
Recebi o carinho de muitas amigas e amigos a quem agradeço a presença e as palavras de reconhecimento e incentivo que me dirigiram.
Bem hajam às amigas e amigos que presencialmente ou através de diferentes e variadas formas manifestaram o seu apoio pela edição do livro "O Outro Lado"

Os meus filhos enviaram-me uma pequena mensagem.
O João está por cá e marcou presença no Coliseu Micaelense, quem esteve presente deu por ele, com a sua natural simpatia e boa disposição. Amélia e a Catarina, que vivem e trabalham em Lisboa, em estreita cooperação com o João construíram um pequeno texto que me foi entregue ontem, momentos antes de se dar início, à apresentação do livro "O Outro Lado". Aqui fica a partilha que ontem não foi possível fazer com quem esteve no Coliseu Micaelense.

Pai,
Como sabes é com imensa pena que nem todos estamos presentes.
Mas o imenso Atlântico é pequeno quando comparado com o orgulho e amor que temos por ti. Orgulho de sermos frutos do teu amor.
Habituaste-nos, com o teu exemplo, que sem dedicação e paixão, esse difícil equilíbrio entre a razão e o coração, os sonhos são difíceis de concretizar. Tu acreditas e faz-nos acreditar que é possível. É possível concretizar os nossos sonhos.
Em tudo aquilo que fizestes, fazes e continuarás a fazer envolves-te, entregas-te apaixonadamente, sem nunca perderes o rumo da tua luta. Uma luta que não é só tua.
Este trabalho que divides com a nossa querida Rita, e que hoje partilham publicamente, é um dos teus retratos cujos traços se vislumbram, seja qual for o lado com que te olham, numa certa forma de ser e estar na vida que nos orgulha e encanta.
Parabéns Pai, 
Parabéns Rita,

Um grande beijinho,
Amélia.
Catarina,
João

Também das tuas netas
Margarida
e
Benedita

Um beijo para o avô e para a Rita,

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

De novo o tempo a servir de mote

Foto retirada daqui
O tempo não ajuda, não pela sua falta, porque passe depressa ou devagar mas, pelo seu estado invernoso, mesmo tempestuoso, diria sem exagero. Vento muito forte com rajadas, chuva e forte agitação marítima. Não são os efeitos das alterações climáticas, é o Outono a querer parecer Inverno nas ilhas açorianas. No continente português as temperaturas estão elevadas para a época, dizem por aí que é uma antecipação do “Verão de S. Martinho, talvez sejam as alterações climáticas, o “Verão de S. Martinho” só acontece por volta do dia que o calendário dedica ao santo e, para o dia do santo ainda falta tempo, não muito mas falta.
Mas se as alterações climáticas são preocupantes e se torna cada vez mais evidente e necessário a alteração de comportamentos, por forma a eliminar, ou pelo menos reduzir ao mínimo possível, as causas que lhe estão na origem, outras alterações não são menos preocupantes que as climáticas.
As alterações comportamentais por utilização excessiva das plataformas de comunicação, em particular as chamadas redes sociais, são já uma preocupação. Esta adicção já tem terapia disponível mas, o melhor mesmo é prevenir para evitar a dependência. Usar com moderação e ter sempre presente que as redes sociais virtuais provocam comportamentos antissociais, para além das incómodas tendinites e que tudo isso, a prazo, se paga bem caro.
E se as alterações, estas e outras, me causam preocupações, a mim e a muitos milhares, vá lá milhões de outros cidadãos, existem coisas que nunca mudam. O que também é preocupante.
 O olhar ocidental sobre África mantem-se inalterável. A crise e o pânico que está associado ao surto epidemiológico do vírus ébola é bem sintomático desta imutabilidade das representações sociais sobre África e os africanos, ainda assim apenas sobre alguns dos africanos. É preocupante que apesar de todos os avanços científicos e culturais, e da facilidade com que acedemos à informação, alguns de nós continuem a olhar para os cidadãos subsarianos como um exotismo. Exotismo que tanto pode assumir a forma de mão-de-obra barata como, a de um vírus.
O centro das atenções focou-se, não no combate à epidemia provocada pelo ébola e na prestação de cuidados de saúde às populações mais afetadas, mas nos doentes europeus e estado-unidenses infetados pelo vírus.
O que nunca se altera é o espírito português para o improviso. O que também não deixa de ser preocupante. Mesmo reconhecendo que essa é uma das maiores qualidades do povo português, insular ou continental.
As fronteiras portuguesas são marítimas e aéreas, as terrestres são as de Shengen, não as da localidade luxemburguesa mas, as do acordo que aí foi celebrado. Pois bem agora é só verificar a capacidade instalada e de resposta nos portos e aeroportos portugueses, ou seja nas fronteiras nacionais, para acudir aos cidadãos que à chegada apresentem sintomas do vírus hemorrágico e para evitar a propagação do vírus. Se reduzirmos o universo aos Açores, então sim veremos como o improviso impera sobre os protocolos de segurança e tratamento.
Ponta Delgada, 20 de Outubro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 22 de Outubro de 2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Em defesa das freguesias dos Açores - 1

Foto - Aníbal Pires
As autarquias locais, Municípios e Freguesias, fazendo parte da organização democrática do Estado português, são as estruturas do poder local que possibilitam a sua administração descentralizada, aproximando as instâncias de decisão dos cidadãos. O poder local pela sua proximidade entre eleitos e eleitores tem um profundo caráter democrático e progressista.
Falar de “Freguesias, o Futuro, as Competências, o Emprego e a Situação Social” é falar das populações e do território, é falar de coesão e solidariedade, é falar de um trabalho, quantas e quantas vezes, voluntário, é em suma falar de política tal como ela deve ser entendida, política participada e na proximidade dos cidadãos e das populações.
A proximidade permite conhecer de maneira mais direta os anseios e expetativas dos cidadãos e realizar de maneira mais direta a sua vontade, podendo mesmo afirmar-se que o Poder Local consagrado no quadro político-constitucional português, não existe para realizar os interesses da organização central do Estado, mas sim para assegurar os interesses específicos das respetivas populações.
As Freguesias estão a um nível ainda mais próximo das populações, o que não só lhes permite responder de forma muito direta e imediata aos problemas dos seus territórios, como as também as sujeita a um nível de exigência e escrutínio por parte dos cidadãos que não tem paralelo como qualquer outra instância do Estado. Podem ser, também neste aspeto, um modelo de participação cívica e da interação positiva entre os cidadãos e as instituições políticas que os representam.
Quantos e quantos executivos de freguesia assentam em equipas de autarcas, de várias as forças políticas, que superando as suas diferenças partidárias e cumprindo a vontade dos eleitores, procuram encontrar as melhores soluções para os problemas, que trabalham empenhadamente e com elevado sacrifício pessoal em prol das suas comunidades, dando um elevado exemplo de espírito cívico e de dedicação abnegada, que aqui nos cumpre assinalar e valorizar.
As Freguesias construíram assim um papel insubstituível em múltiplas áreas, adaptadas às necessidades e problemas das suas comunidades, no apoio social, na cultura, no desporto, na limpeza e defesa do ambiente, na segurança e proteção das populações, na prevenção de riscos naturais e outros, bem como primeira linha de apoio a populações sinistradas.  
A proximidade das Freguesias às populações confere-lhes uma enorme capacidade realizadora, ancorada num sólido conhecimento do território e dos seus problemas, que tarda, infelizmente, em ser devidamente reconhecida e potenciada pelas instâncias centrais do Estado, aliás vivemos um tempo em que as decisões políticas do poder central tudo têm feito para coartar, ainda mais, os meios financeiros e humanos das Freguesias, isto para não falar das malfadada alterações que decorreram do chamado Livre Verde da Reforma Administrativa do Poder Local e da legislação que subsequentemente foi aprovada e, da qual resultou a extinção, em 2013, de 1168 freguesias.
Na Região Autónoma dos Açores, a Assembleia Legislativa, considerou unanimemente que a organização administrativa correspondia às necessidades culturais, sociais, administrativas, económicas e políticas da Região. Apesar deste consenso político e institucional conseguido na ALRAA não podemos, nem devemos, descurar o perigo que pende sobre as freguesias açorianas. Não faltam, na Região e na República, inimigos do Poder Local Democrático e que espreitam todas as oportunidades para que este consenso regional se desfaça.
Ponta Delgada, 19 de Outubro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 20 de Outubro de 2014 

domingo, 19 de outubro de 2014

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Aconteceu hoje, como já aconteceu no passado

Foto - João Pires
No início do ano de 2005, num programa de televisão cujo painel era formado por dois doutos jornalistas, passaram-me um certificado de óbito político. Ou seja, o Aníbal Pires, após este resultado eleitoral está politicamente morto, segunda as doutas opiniões. Claro que não se tratava do Aníbal Pires mas do PCP Açores. O tempo veio a demonstrar que nem o Aníbal Pires estava politicamente morto, e muito menos o PCP. A vida e os factos demonstraram que o PCP continua vivo atuante e indispensável à vida política regional e nacional.
Hoje, logo pela manhã ainda que com outras palavras e num outro contexto, um cidadão expressou a mesma opinião introduzindo o horizonte 2016 (ano de eleições regionais). 
Para que fique claro. O PCP contará, como sempre contou, com o meu contributo, a minha militância e a minha disponibilidade, sejam quais forem as tarefas que, a cada momento, me forem confiadas pelo meu Partido.
As insinuações e especulações que têm como foco o Aníbal Pires pretendem, como sempre acontece com outros militantes e dirigentes do PCP, não o individuo mas o Partido, neste caso a sua organização na Região Autónoma dos Açores.
A seu tempo o Aníbal Pires deixará as tarefas que agora lhe estão confiadas, não porque esse seja o desejo de alguns, mas em resultado de decisões, pessoais e coletivas e, o Partido continuará a fortalecer-se social e politicamente porque, ao contrário de outros partidos, este Partido não depende de personalidades mas do seu trabalho coletivo e dos princípios que lhe conferem uma natureza diferente, e é aí que reside esta enorme capacidade de atuar e intervir na defesa do povo e dos trabalhadores.

Aníbal C. Pires, Horta, 17 de Outubro de 2014

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Em memória de Adriano Correia de Oliveira


Homem simples e genuíno como são os HOMENS.
Tive privilégio de conhecer o Adriano, durante algum tempo esteve pela Beira Baixa e eu ainda por ali vivia. Depois das sessões de esclarecimento e dos comícios eleitorais, as cantigas davam lugar à conversa e o serão prolongava-se entre amigos e camaradas. O Adriano poeta e cantor dava lugar ao Adriano contador de estórias, sem nunca perder o rumo que o fez tomar Partido.
E é com uma canção da Beira Baixa que hoje, passados 32 anos de ausência, recordo o Adriano.



Convite - "O Outro Lado"


O convite fica feito. Apareçam.
Os textos são meus, as aguarelas da Ana Rita Afonso, O Vamberto Freitas prefaciou, o Tomaz Borba Vieira também contribuiu com um olhar cruzado entre o texto e as aguarelas, a Renata Correia Botelho também tem a sua opinião na contracapa e a LetrasLavadas editou.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dias com gradientes de cinzento

Foto - Madalena Pires
Espreito o dia. Está cinzento visto da minha janela, a humidade está elevada e a visibilidade baixa. O gradiente de cinzento aproxima-se do preto quando procuro noutras janelas, a visibilidade é boa, É digital e HD. A informação chega em catadupa, textos, sons e imagens vindos dos mais remotos lugares do planeta. As novidades não são novas, a especulação continua a substituir-se à investigação, aos factos associam-se juízos num exercício de regurgitação editorial. A habitual caca informativa. O país e o mundo dependentes de Wall Street, o país e o mundo agonizantes, o país e o mundo entorpecidos como convém. 
O orçamento …, o défice …, as filhas de Obama …, mercados em zoom impulsionam Wall Street, governo vai enviar 12 mil funcionários públicos para a mobilidade, participantes do big brother sueco expulsos por assédio sexual, Presidente da República lembra que todos gostariam de baixar impostos mas lembra restrições internacionais. Estes são alguns dos títulos que se podem ler por aí, nos OCS de referência. Sem dúvida interessantes e importantes mas todos na linha da imutabilidade, social, política, cultural e económica, que faz escola. É assim e sempre assim será.
A ausência de respostas, embora as alternativas existam com claras propostas de rutura, do chamado Mundo Ocidental a este, “é assim e sempre assim será”, promovem reações diferenciadas nos cidadãos. A atomização da sociedade, promovida até à exaustão nas últimas décadas, desencadeia respostas individuais para problemas comuns e que só com a mobilização coletiva terão solução, talvez por isso o Estado Islâmico (EI) seja tão atraente para alguns jovens ocidentais, é uma alternativa coletiva. O EI oferece respostas e um caminho diferente para o Mundo. Não são certamente as melhores, direi mesmo que, para além de outros fatores, o seu conservadorismo deveria ser suficiente para afastar os jovens ocidentais, existem outros caminhos de rutura sem a bênção divina.
Seria injusto se não referisse outros movimentos coletivos, aliás não faltam por aí e não me refiro a organizações partidárias ou sindicais. As organizações não-governamentais (ONG) e as seitas religiosas de inspiração cristã proliferaram como cogumelos quando em Washington, ao tempo de Henry Kissinger, dispararam algumas luzes vermelhas. Era o tempo da Teologia da Libertação na América do Sul e da tomada de consciência ambiental. Foi preciso dividir para reinar, mas não só. Cedo a velha raposa percebeu que a promoção e financiamento de movimentos cívicos despojados de matriz ideológica, ou seja, movimentos sem uma visão holística das necessárias transformações culturais, políticas, sociais e económicas que não colocariam em causa o poder hegemónico dos Estados Unidos sobre o Mundo Ocidental. Mas Henry Kissinger foi ainda mais longe no Chile e no Camboja, para só referir dois dos casos, aí patrocinou o terror e o massacre de centenas de milhares de pessoas servindo-se, respetivamente, de Pinochet e de Pol Pot.
Não fiquem os cidadãos com a ideia de que não considero as ONGs importantes e, sobretudo que não reconheço a nobreza de carácter de quem voluntária e genuinamente milita e se envolve na defesa de uma causa. Mas não tenho dúvidas sobre a instrumentalização que o poder instituído faz da generosidade desses cidadãos. Ou seja, as ONGs são assim como uma espécie de braço desburocratizado, mas executivo dos Estados, ou seja, as ONGs, inevitavelmente levam à prática as políticas oficiais, a sua independência está, assim, corrompida pelo poder.
Ponta Delgada, 14 de Outubro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 15 de Outubro de 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Epidemias e outras fobias

Foto - Catarina Pires
A epidemia pelo vírus ébola e o Estado Islâmico (EI) têm dominado a opinião pública, direi, mundial pois, os fenómenos têm essa dimensão. À primeira vista parecem confinados, a epidemia e o conflito que opõe o ocidente ao EI, a um determinado território mas, só mesmo numa abordagem superficial assim o poderemos considerar. Os meios e o número de países envolvidos na tentativa de por cobro às pretensões de reconstrução do Califado, pelo EI, conferem-lhe essa qualificação, um conflito mundial. As notícias de falhas nos protocolos de segurança, no caso do ébola, pode tornar este flagelo numa pandemia.
Quer um caso, quer outro perturbam-nos. Perturbantes são igualmente as razões que estão no seu ressurgimento, Sim porque não é a primeira vez que o ébola se manifesta, nem o Califado é uma ideia recente, neste caso já foi bem real não tendo, contudo, os contornos que o EI e os seus aliados lhe parece quererem, agora, conferir.
Existem, porém, alguns equívocos e muita especulação sobre o ébola e o EI, imprecisões que os OCS de “referência” teimam em manter e até alimentar, ou não fosse essa a estratégia do negócio das corporações mediáticas e, por conseguinte, a difusão da versão oficial promovida pelos Estados Unidos e Inglaterra, há outros cúmplices mas é esta aliança anglófona que vai pondo e dispondo no xadrez mundial. 
O falhanço da “rebelião” na Síria e a incapacidade de justificar uma intervenção bélica contra o Irão, como foi justificada a intervenção no Iraque, são alguns dos motivos que estiveram na génese da ativação e crescimento do EI. Esta organização reúne uma clique dirigente que ao longo do tempo foi patrocinada e formada pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos e contaram com o seu apoio explícito e implícito. O aparente domínio e crescimento do EI, bem como a sua capacidade militar, em nada diminuída pelos ataques aéreos da coligação liderada pelos Estados Unidos resulta, inequivocamente, do apoio externo vindo do Ocidente. Mas porquê, perguntarão as almas mais descrentes e críticas. Já indiquei dois dos motivos mas existem outros players. A criação e futura expansão da União Económica da Eurásia, patrocinada por Putin e, o avanço do dragão comercial chinês, isto sem deixar de fora a importância do controle dos óleo e gasodutos naquela região, estarão na base desta paradoxal estratégia, porém se nos lembrarmos do papel dos Estados Unidos no Camboja de Pol Pot, depressa concluímos que de paradoxal esta espúria aliança nada tem.
O apelo aos Céus e o Choque de Civilizações continuam a justificar conflitos que nada têm a ver com os deuses, nem com antagonismos civilizacionais, os interesses continuam a situar-se no plano geopolítico ao qual está associado o domínio económico e territorial de cariz neocolonial.
Quanto ao ébola não existem equívocos. O vírus é altamente letal, embora as condições e meios de tratamento possam diminuir a mortalidade, por outro lado a infeção pelo vírus ébola só é possível com contato de fluidos de um doente, ou seja, existem outros vírus bem mais contagiosos, ainda que com uma taxa de mortalidade inferior. 
Não se conhece, ainda, uma terapia eficaz no combate ao ébola e o tratamento é paliativo. Uma coisa sabemos, o combate à epidemia faz-se com profissionais de saúde (estes sim são a população em risco) e não com exércitos. É que ao contrário de outros países que enviaram, para as regiões afetadas, pessoal médico e de enfermagem, os Estados Unidos enviaram 3 mil soldados. Será que um dos conselheiros do Presidente Obama o informou que o ébola se combatia a tiro. Tudo é possível na terra do Tio Sam.
Ponta Delgada, 12 de Outubro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 13 de Outubro de 2014

domingo, 12 de outubro de 2014

Com tempo, ou sem opções

Foto - Madalena Pires
Escolha

Hoje, escolhi
Trocar
O vazio
Dos dias
Por mim
E, por ti
O sorriso
Preencheu
O meu olhar
Neste dia
Desigual
Igual a outros dias
De um tempo
Distante
Quero
Esse tempo de volta
Quero
Os dias desiguais
Quero
O sorriso
A transbordar no meu olhar

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 12 de Outubro de 2014

Cinema - Melinda and Melinda, um filme de Woody Allen

Quatro sofisticados nova-iorquinos encontram-se para jantar numa noite chuvosa. Uma história contada durante o jantar dá início a uma conversa entre Max (Larry Pine) e Sy (Wallace Shaw), dois escritores (argumentistas), que passam a discutir a dualidade do drama humano através das máscaras da tragédia e da comédia. Os dois escritores passam então a desenvolver duas histórias, uma cómica e a uma trágica, protagonizadas por uma mulher chamada Melinda (Radha Mitchell).

Podem ver o trailer aqui

sábado, 11 de outubro de 2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Não é exigência, é uma evidência

Foto - Aníbal Pires
A ilha de São Jorge continua a sofrer agudamente os efeitos de uma recessão económica, desemprego e empobrecimento, que afetam de forma muito mais brutal as ilhas de menor dimensão do nosso arquipélago. Daí resulta a continuada perda de população, a incapacidade da sua fixação de população, designadamente os jovens, a redução do emprego disponível e a estagnação das atividades económicas, que estão na base de grande parte dos problemas dos jorgenses.
Simultaneamente, assiste-se à continuação do esvaziamento do espaço rural, fenómeno agravado pelas políticas regionais erradas, concentração da atividade transformadora, encerramento e concentração dos serviços públicos nas freguesias, concentrando-os nas vilas e em particular nas Velas, por razões que são meramente economicistas, mas que têm gravíssimas consequências para a ilha no seu conjunto. Assim, sucedeu com as cooperativas de lacticínios e muitas escolas básicas, num processo que ameaça continuar. Processo que ameaça ter continuidade.
No contexto atual, o investimento público assume uma importância central, enquanto única via para dinamizar a atividade económica local e combater uma recessão esmagadora, fruto de políticas nacionais e regionais erradas. Assim, as dificuldades financeiras dos municípios de São Jorge levantam profundas preocupações, já que futuras limitações à sua capacidade de investimento resultarão necessariamente num agravamento da situação económica da ilha e das condições de vida dos jorgenses.
É necessário que o Governo Regional reforce a cooperação com estes municípios, auxiliando-os a fazer face às suas dívidas, nas quais está também, de forma direta ou indireta, em muitos casos, implicado. Não é admissível que se continuem a desperdiçar fundos europeus por força dos limites impostos ao endividamento destas autarquias e que as regras burocráticas dos programas de financiamento em relação aos concursos públicos levem à exclusão das pequenas e médias empresas açorianas, favorecendo as grandes empresas externas, nomeadamente no campo da construção civil. O Governo Regional deve olhar a nossa Região como um todo, promover a coesão, assumir as suas responsabilidades e assumir que os municípios são parceiros indispensáveis para o desenvolvimento das ilhas.
Uma parte central das dificuldades que as instituições jorgenses enfrentam, nomeadamente as Autarquias e as Cooperativas Leiteiras, estão relacionadas com a inflexibilidade e as exigências agiotas da banca privada. Depois de receberem milhares de milhões de Euros de financiamento público para os salvar dos seus maus negócios, as instituições bancárias recusam os investimentos que são necessários para dinamizar a economia nacional e, recusam reestruturar as dívidas das instituições, aliviando-as de um serviço da dívida incomportável, que as pode empurrar inexoravelmente para a insolvência. O setor financeiro continua, assim, a embolsar milhões de euros da riqueza produzida pelos jorgenses, dinheiro que, reinvestido na ilha, garantiria com certeza um nível de desenvolvimento económico muito diferente.
Embora este seja um problema nacional e mesmo europeu, considero que o Governo Regional não se pode desresponsabilizar de fazer o que está ao seu alcance, nomeadamente constituindo-se como parceiro dos Municípios e Cooperativas jorgenses nas suas negociações com a banca e avalizando os financiamentos que são essenciais.
Velas (S. Jorge), 05 de Outubro de Setembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 06 de Outubro de 2014 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Becos com e sem

Foto - Madalena Pires
Sem saída mas com entrada

Muitas
Bastantes 
E não poucas vezes
Ouço dizer 
Estou num beco sem saída
E agora
Como faço pra sair desta
Perguntam
Eu
Que não sou entendido
Em vielas 
Com ou sem saída
Nem tenho por hábito
Aconselhar
Pergunto
Porque não sais pela entrada 
Desse beco sem saída

Aníbal C. Pires, Horta, 03 de Outubro de 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Vale tudo

Foto - Aníbal C. Pires
Vale saúde, vale educação, Vale tudo. Vale tudo o que seja abrir portas à atividade privada em substituição do que é público, vale tudo para promover a proliferação de estabelecimentos escolares privados, vale tudo para promover a proliferação de clinicas médicas privadas, vale tudo para promover seguros de doença e planos de reforma. Vale mesmo tudo para destruir os sistemas públicos de educação, de saúde e de segurança social.
Nesta altura já os mais preconceituosos leitores terão vociferado, Lá está ele com o dogmatismo ideológico a atirar-se à iniciativa privada, E ainda antes deste parágrafo já abandonaram a leitura. Outros leitores mais tolerantes ainda aqui continuam e pensam para com os seus botões, Vamos lá ver onde é que ele quer chegar com esta entrada pouco avisada para quem pretende partilhar opinião.
Pois bem, para os leitores mais indulgentes e também para os outros que leem por obrigação, Sim também existem estes fiéis leitores que, por dever, vasculham tudo o que é publicado nos jornais, blogues e redes sociais, para esses leitores e todos os que conseguirem chegar até ao fim, vou tentar. Tentar desconstruir a ideia que, legitimamente, pode ter ferido algumas almas devotas ao mercado. Não é pela cegueira dogmática mas, sim pela defesa do interesse público e contra opções de investimento público. Não há nenhum paradoxo, nem me perdi. A propriedade é privada mas o investimento é público e, a receita virá, no essencial, do erário público, isto no que concerne à educação e à saúde. No que diz respeito à segurança social a estratégia é diferente mas de uma forma ou de outra quem paga são sempre os mesmos.
Voltemos à questão da educação e da saúde. Os investimentos nas infraestruturas e equipamentos são apoiados a fundo perdido pela panóplia de programas públicos de apoio ao investimento, à competitividade, ao empreendedorismo. O que for. É só escolher da paleta o que mais convier. Por outro lado alguns dos investimentos privados na educação e na saúde foram, ainda, objeto de classificação PIR (Projeto de Interesse Regional), o que teve como efeito a majoração do financiamento público, ou seja, o capital privado investido é residual. Dirão, e eu também diria, ainda bem. O apoio às empresas e a iniciativa privada é bem-vindo. Eu diria que sim, ainda bem, não fosse tratar-se de setores onde não existe carência de oferta pública. Na educação como se sabe a rede pública assegura as necessidades do sistema. Sendo assim deixa de fazer qualquer sentido o financiamento público, mas não fica por aqui o desperdício de dinheiros públicos. A receita destas empresas/escolas privadas está garantida pelo apoio público que lhes é concedido por cada cliente/aluno que utiliza os seus serviços. O risco do investimento é nulo e a receita está assegurada. Os orçamentos da Escola Pública e a qualidade do ensino público ressentem-se destes desmandos. 
Na saúde o princípio é o mesmo. Os investimentos privados são feitos, quase na totalidade, com financiamento público e depois convencionam-se serviços do setor público às clínicas privadas por suposta incapacidade de resposta do Serviço Regional de Saúde. Neste setor acresce o facto, que não é despiciente, de que os profissionais do serviço público são os mesmos que mantêm em funcionamento os serviços de saúde privados. Os orçamentos dos EPEs e das Unidades de Saúde de Ilha e, as respostas do serviço público ressentem-se destes desmandos.
Talvez não tenha sido claro. Fazendo uma revisão à matéria e sintetizando, a saúde e a educação devem ser assegurados por serviços públicos. A iniciativa privada, nestes setores sociais, só deve ser apoiada pelo orçamento regional quando assume um caráter supletivo dos serviços públicos, ou seja, na falta de oferta pública. A oferta privada na educação e na saúde, como qualquer outra atividade privada, deve submeter-se às tão apregoadas leis do mercado. É que isto de ter iniciativa privada com financiamento público nada tem a ver com mercado, digo eu. E não colhe, neste caso não vale tudo, o argumento da eficiência do setor privado. Exemplos da ineficiência no setor privado não faltam com os resultados que são de todos conhecidos. 
Ponta Delgada, 29 de Setembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 01 Outubro de 2014

Penélope Cruz - a abrir Outubro



Penélope Cruz não é uma estreante no momentos mas fica aqui bem e eu gosto.


A ela fica bem o vermelho e eu gosto.