quarta-feira, 22 de outubro de 2014

De novo o tempo a servir de mote

Foto retirada daqui
O tempo não ajuda, não pela sua falta, porque passe depressa ou devagar mas, pelo seu estado invernoso, mesmo tempestuoso, diria sem exagero. Vento muito forte com rajadas, chuva e forte agitação marítima. Não são os efeitos das alterações climáticas, é o Outono a querer parecer Inverno nas ilhas açorianas. No continente português as temperaturas estão elevadas para a época, dizem por aí que é uma antecipação do “Verão de S. Martinho, talvez sejam as alterações climáticas, o “Verão de S. Martinho” só acontece por volta do dia que o calendário dedica ao santo e, para o dia do santo ainda falta tempo, não muito mas falta.
Mas se as alterações climáticas são preocupantes e se torna cada vez mais evidente e necessário a alteração de comportamentos, por forma a eliminar, ou pelo menos reduzir ao mínimo possível, as causas que lhe estão na origem, outras alterações não são menos preocupantes que as climáticas.
As alterações comportamentais por utilização excessiva das plataformas de comunicação, em particular as chamadas redes sociais, são já uma preocupação. Esta adicção já tem terapia disponível mas, o melhor mesmo é prevenir para evitar a dependência. Usar com moderação e ter sempre presente que as redes sociais virtuais provocam comportamentos antissociais, para além das incómodas tendinites e que tudo isso, a prazo, se paga bem caro.
E se as alterações, estas e outras, me causam preocupações, a mim e a muitos milhares, vá lá milhões de outros cidadãos, existem coisas que nunca mudam. O que também é preocupante.
 O olhar ocidental sobre África mantem-se inalterável. A crise e o pânico que está associado ao surto epidemiológico do vírus ébola é bem sintomático desta imutabilidade das representações sociais sobre África e os africanos, ainda assim apenas sobre alguns dos africanos. É preocupante que apesar de todos os avanços científicos e culturais, e da facilidade com que acedemos à informação, alguns de nós continuem a olhar para os cidadãos subsarianos como um exotismo. Exotismo que tanto pode assumir a forma de mão-de-obra barata como, a de um vírus.
O centro das atenções focou-se, não no combate à epidemia provocada pelo ébola e na prestação de cuidados de saúde às populações mais afetadas, mas nos doentes europeus e estado-unidenses infetados pelo vírus.
O que nunca se altera é o espírito português para o improviso. O que também não deixa de ser preocupante. Mesmo reconhecendo que essa é uma das maiores qualidades do povo português, insular ou continental.
As fronteiras portuguesas são marítimas e aéreas, as terrestres são as de Shengen, não as da localidade luxemburguesa mas, as do acordo que aí foi celebrado. Pois bem agora é só verificar a capacidade instalada e de resposta nos portos e aeroportos portugueses, ou seja nas fronteiras nacionais, para acudir aos cidadãos que à chegada apresentem sintomas do vírus hemorrágico e para evitar a propagação do vírus. Se reduzirmos o universo aos Açores, então sim veremos como o improviso impera sobre os protocolos de segurança e tratamento.
Ponta Delgada, 20 de Outubro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 22 de Outubro de 2014

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