Foto - Catarina Pires |
A epidemia pelo vírus ébola e o Estado Islâmico (EI) têm dominado a opinião pública, direi, mundial pois, os fenómenos têm essa dimensão. À primeira vista parecem confinados, a epidemia e o conflito que opõe o ocidente ao EI, a um determinado território mas, só mesmo numa abordagem superficial assim o poderemos considerar. Os meios e o número de países envolvidos na tentativa de por cobro às pretensões de reconstrução do Califado, pelo EI, conferem-lhe essa qualificação, um conflito mundial. As notícias de falhas nos protocolos de segurança, no caso do ébola, pode tornar este flagelo numa pandemia.
Quer um caso, quer outro perturbam-nos. Perturbantes são igualmente as razões que estão no seu ressurgimento, Sim porque não é a primeira vez que o ébola se manifesta, nem o Califado é uma ideia recente, neste caso já foi bem real não tendo, contudo, os contornos que o EI e os seus aliados lhe parece quererem, agora, conferir.
Existem, porém, alguns equívocos e muita especulação sobre o ébola e o EI, imprecisões que os OCS de “referência” teimam em manter e até alimentar, ou não fosse essa a estratégia do negócio das corporações mediáticas e, por conseguinte, a difusão da versão oficial promovida pelos Estados Unidos e Inglaterra, há outros cúmplices mas é esta aliança anglófona que vai pondo e dispondo no xadrez mundial.
O falhanço da “rebelião” na Síria e a incapacidade de justificar uma intervenção bélica contra o Irão, como foi justificada a intervenção no Iraque, são alguns dos motivos que estiveram na génese da ativação e crescimento do EI. Esta organização reúne uma clique dirigente que ao longo do tempo foi patrocinada e formada pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos e contaram com o seu apoio explícito e implícito. O aparente domínio e crescimento do EI, bem como a sua capacidade militar, em nada diminuída pelos ataques aéreos da coligação liderada pelos Estados Unidos resulta, inequivocamente, do apoio externo vindo do Ocidente. Mas porquê, perguntarão as almas mais descrentes e críticas. Já indiquei dois dos motivos mas existem outros players. A criação e futura expansão da União Económica da Eurásia, patrocinada por Putin e, o avanço do dragão comercial chinês, isto sem deixar de fora a importância do controle dos óleo e gasodutos naquela região, estarão na base desta paradoxal estratégia, porém se nos lembrarmos do papel dos Estados Unidos no Camboja de Pol Pot, depressa concluímos que de paradoxal esta espúria aliança nada tem.
O apelo aos Céus e o Choque de Civilizações continuam a justificar conflitos que nada têm a ver com os deuses, nem com antagonismos civilizacionais, os interesses continuam a situar-se no plano geopolítico ao qual está associado o domínio económico e territorial de cariz neocolonial.
Quanto ao ébola não existem equívocos. O vírus é altamente letal, embora as condições e meios de tratamento possam diminuir a mortalidade, por outro lado a infeção pelo vírus ébola só é possível com contato de fluidos de um doente, ou seja, existem outros vírus bem mais contagiosos, ainda que com uma taxa de mortalidade inferior.
Não se conhece, ainda, uma terapia eficaz no combate ao ébola e o tratamento é paliativo. Uma coisa sabemos, o combate à epidemia faz-se com profissionais de saúde (estes sim são a população em risco) e não com exércitos. É que ao contrário de outros países que enviaram, para as regiões afetadas, pessoal médico e de enfermagem, os Estados Unidos enviaram 3 mil soldados. Será que um dos conselheiros do Presidente Obama o informou que o ébola se combatia a tiro. Tudo é possível na terra do Tio Sam.
Ponta Delgada, 12 de Outubro de 2014
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 13 de Outubro de 2014
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