quinta-feira, 10 de agosto de 2017

A conflitualidade social no Grupo SATA 1

Foto by Aníbal C. Pires
Sobre o diferendo laboral que persiste entre o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) (tripulantes de cabine) e a Administração da SATA muito se tem dito e escrito. Mas, nem todas as abordagens vão ao fundo da questão, aliás em minha opinião a comunicação oficial sobre o assunto não é, de todo, clara. E refiro-me, designadamente, à comunicação que o SNPVAC tem feito no espaço público regional e nacional, sendo que o mesmo se poderá dizer da Administração da SATA. Cada qual terá as suas motivações para que paire sobre o assunto alguma nebulosidade, fenómeno que tantas vezes está na origem do cancelamento de voos, quer sejam da SATA, quer de outra qualquer companhia de transporte aéreo. Compreendo que os processos negociais não devem ser expostos na praça pública, mas também não é isso que estou a afirmar ou, enquanto cidadão, a exigir. O que se exige é alguma transparência, nada mais do que isso.
Não sendo especialista, nem em aviação, nem em gestão, nem na mediação de conflitos, tenho, no entanto, alguma opinião, enquanto cidadão, sobre este desacordo que levou à realização de 2 greves durante o primeiro semestre de 2017 e às anunciadas greves, às assistências/voos extraordinários, com início a 11 de Agosto, e ao que julgo, sem fim anunciado, e a greve de 23 a 26 de Agosto. E tem sido esta última a que mais atenção tem despertado por parte da opinião pública e publicada. Se bem que chame sobre si a principal atenção, não será esta, mas sim a greve às assistências/voos extraordinários que maior penalização, vindo a consumar-se[1], infligirá à SATA. Posso explicar mais tarde, mas julgo que não é difícil de perceber por que faço esta afirmação.
Foto by Aníbal C. Pires
Por razões diversas desde 2012 que acompanho de perto a atividade ligada aos transportes aéreos e, em particular, tudo ao que ao Grupo SATA diz respeito, o que não me torna um especialista como atrás referi, mas que me confere algum conhecimento sobre o Grupo SATA, o seu funcionamento e a suas potencialidades e fragilidades, bem assim como sobre as opções, ou não opções, do Grupo para resolver questões, algumas crónicas, outras resultantes da alteração do paradigma do transporte aéreo, desde logo no espaço europeu, mas sobretudo na Região, sendo que este último tem de ser tomado na devida consideração quando se analisa o diferendo que opõe o SNPVAC à SATA, como todas as outras questões que se colocam, no presente e, no futuro próximo ao Grupo SATA.
Sobre a luta do pessoal de voo/tripulante de cabine são conhecidas algumas  das reivindicações dos trabalhadores, ainda que outras careçam de melhor clarificação pois, não quero crer que a greve se vá realizar, como pude constatar ao ler um artigo de hoje (9 de Agosto) por, motivos, de entre outros, como estes:
- “constatar as reiteradas falhas de gestão que existem na SATA, todas derivadas da falta de experiência de quem dirige os destinos da Empresa e consequentemente, das erradas opções estratégicas que foram tidas”.
- “esconder o também enviado Pré-Aviso de greve, que se inicia no próximo dia 11 de Agosto”, que diz respeito à “recusa dos tripulantes de aceitarem serviços de voo extraordinários que não cumpram com o estipulado em Acordo de Empresa”.
- “a nossa maior exigência prende-se com a necessidade de uma gestão profissional que permita à SATA regressar aos patamares de excelência que já teve. Uma boa gestão também terminaria com a necessidade de greves, pois, com certeza, esta iria ser cumpridora da Lei e dos Acordos de Empresa, ao mesmo tempo que respeitaria tanto Trabalhadores como Passageiros”.
Não serão estes os motivos. Não acredito. Sem beliscar toda a legitimidade que SNPVAC tem para se pronunciar sobre a estratégia e a comunicação do Grupo SATA, que emprega muitos dos seus associados.
Parece-me, porém, que esta é uma situação que difere substantivamente da que se viveu no Grupo SATA durante o ano de 2013, onde também algumas destas questões se levantaram, mas que não eram o cerne das reivindicações como, certamente, as não são em 2017. E era útil que fossem tornadas públicas pois, para mim fica difícil defender a luta dos tripulantes de cabine da SATA não conhecendo, com rigor, as suas reivindicações.

Foto by Aníbal C. Pires
O ano de 2013 em que os trabalhadores do Grupo SATA unidos numa ampla frente sindical conseguiram, com a sua luta, fazer valer os seus direitos, à semelhança do que tinha acontecido, sem conflito, com os trabalhadores da TAP.
Importaria, também, que a Administração da SATA viesse a público dizer, sem neblinas, aquilo que já satisfez no memorando das reivindicações do SPVAC e o que de todo não pode satisfazer e, sobretudo, por que as não pode, ou não quer satisfazer.
O tema é vasto e, sobretudo, complexo. Voltarei ao assunto nos próximos dias, mas não me vou embora sem deixar de reforçar a ideia de que, em 2013, não só o quadro da luta era diferente. Diferente era, também, o modelo de transporte aéreo e as Obrigações de Serviço Público, o que significa que o desfecho deste diferendo pode configurar, há indícios reais de que assim seja, um quadro bem diferente e do qual ninguém sairá a ganhar, ou melhor, se houver vencedores será/serão a(s) empresa(s) concorrentes com a Azores Airlines e os detratores das empresas públicas. Digo eu que não sou especialista em coisa nenhuma, mas vou fazendo alguma reflexão sobre este e outros assuntos.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 09 de Agosto de 2017



[1] Ao que julgo saber a greve às assistências terá sido já desconvocada. Fica em jeito de nota de rodapé pois o texto foi escrito ontem, 9 de Agosto.

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