sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O conflito social na SATA não determina uma decisão, apenas a pode antecipar

Foto by Aníbal C. Pires (algures no Atlântico Norte, 2016)
Não sei qual vai ser o futuro do Grupo SATA, mas a sua privatização está, há muito, na agenda política. Quem seguiu com atenção a campanha eleitoral para as eleições regionais de 2016, percebeu-o. Quer o PS, quer o PSD foram claros. Ainda ontem Duarte Freitas veio reforçar esta ideia.
Sim à privatização parcial, solução idêntica à da Elétrica Regional (EDA), resta saber se os potenciais investidores (e existem) desejam essa solução ou, vão querem absorver a totalidade do capital social.
Por outro lado, no famigerado “Plano de Negócios”, estava e está prevista a diversificação do capital social, em 2017. É claro que aqui o ano de 2017 é um mero indicativo pois, como todos percebemos, a calendarização foi apenas um indicativo, nada que tivesse sido para cumprir. E diversificação do capital só tem um sinónimo, privatização.
Há sempre por aí quem defenda que se for capital regional, então venha lá a privatização. Mas não vai ser capital regional, embora possa vir a parecer. Quem na Região poderia assumir esse investimento ainda está a recuperar das perdas provocadas pelo colapso financeiro de alguns bancos, por acaso privados.

Foto by Aníbal C. Pires (Aeroporto do Faial)
Na Região e fora dela também se defende e até se reza para que seja a TAP a entrar no capital social do Grupo SATA, também não me parece que seja por aí que passe a solução, embora a TAP, enquanto concorrente da SATA, esteja diretamente interessada no fim da Azores Airlines e está bom de ver por quê. A Azores Airlines tem algumas rotas bem interessantes e saindo do mercado esse espaço será, naturalmente, ocupado pela TAP. A TAP seria a grande beneficiária de uma eventual extinção da Azores Airlines, situação que não me parece se venha a verificar. Outros interessados no fim da Azores Airlines, existem. A Ryanair certamente, mas não só.
Este texto não passa de uma mera análise ancorada em indicadores que estão à vista de todos. Não tenho informação privilegiada, mas não é difícil ler os sinais.
A prevista privatização parcial ou total do Grupo SATA da qual se fará depender a subsistência da Azores Airlines passará ao lado da TAP e do capital privado regional, o que não significa que alguns testas de ferro não o tentem, afinal a maioria do capital da TAP é privado e ligado à indústria da aviação comercial e nestes negócios há quem se dispunha a tudo.
Há, no entanto, uma outra questão que tem sido objeto de vários escritos na imprensa regional e nas redes sociais que merecem ser desconstruídos.
Não é a luta dos tripulantes de cabine, liderada pelo seu sindicato, nem foram as lutas dos trabalhadores do Grupo SATA, de todos os setores, que antecederam a presente luta que conduziram a SATA para a difícil situação que atualmente vive. Não a culpa não é dos trabalhadores, isso mesmo foi apurado na Comissão de Inquérito que a ALRAA realizou na passada legislatura. A responsabilidade vai diretamente para o representante do acionista, ou seja, para o Governo Regional e para as soluções que os anteriores Conselhos de Administração apresentaram, mas que foram validadas pelo Governo Regional, algumas até com pompa e circunstância. Salvaguardo, como se percebe, a gestão do Eng Paulo Menezes porque quando tomou nas suas mãos o leme do Grupo SATA dificilmente lhe poderia corrigir o rumo, embora o tenha tentado e julgo eu, ainda não tenha desistido, mas está sozinho e tem as empresas do Grupo minadas por pequenos poderes internos e externos.

Foto by Aníbal C. Pires (Ponta Delgada, 2017)
E não são, nem os salários, nem os direitos dos trabalhadores da SATA que colocam em causa a subsistência das empresas do Grupo. Aliás é fácil de apurar o valor das perdas de receita por opções do acionista. Opções que nunca seriam as opções puramente empresariais.
O último estudo que conheço sobre os custos do trabalho, colocava o Grupo SATA atrás da TAP e esta atrás da Ryanair e da Easyjet. O problema é que a rentabilidade por trabalhador é igualmente mais baixa e pela mesma ordem, isto é, a rentabilidade é menor na SATA e na TAP do que na Ryanair e na Easyjet. E isto não é um problema criado pelos trabalhadores, é um problema de gestão dos recursos humanos disponíveis, da dimensão da operação e das suas características.
A designação de “coveiros da SATA”, escrita num diário micaelense, numa alusão direta aos tripulantes de cabine é abusiva e carece de rigor. Isto não significa que, como disse noutros textos, não existam trabalhadores, de todos os setores do Grupo, que estão alinhados, e desejem mesmo, a privatização parcial ou total do Grupo SATA, se estão ou não ao serviço de interesses externos ao interesse público, a história o dirá.

Foto by Aníbal C. Pires (aeroporto de Santa Maria)
A luta dos tripulantes de cabine é justa. Julgo que sim, infelizmente a comunicação sindical não tem sido a melhor até porque não assume publicamente e de forma explícita que uma das reivindicações, quiçá a que provoca maior resistência por parte da Administração, se relaciona com compensações ao rendimento. Ou melhor, à reposição de rendimento. Se a fórmula e o momento são os mais apropriados já é uma outra questão, mas o garrote imposto em sucessivos Orçamentos de Estado tem de ser ultrapassado e os trabalhadores da administração pública e do setor empresarial público têm o direito a lutar por essas reposições de rendimento, bem assim como pelo seu aumento.

A luta dos tripulantes de cabine pode precipitar uma decisão, mas apenas a antecipa, não a determina.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Agosto de 2017

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